Aos 57 anos, Samuel Rosa diz que está preparado para encarar plateias menores. "Preciso ter paciência. Sei disso. Não vou pegar o rabicho do Skank, com shows para 8 mil pessoas, com todo mundo cantando junto. Não vai ser assim. Mas também não sou um artista que está começando agora. Tenho uma bagagem."
Mudou seu ritmo de gravação. Rosa compunha em casa, pela manhã, e à tarde ia ao estúdio encontrar uma nova banda, formada por amigos de adolescência e outros mais recentes. A cada dia, ele se propôs a desenvolver até o fim da noite uma música nova, ou pelo menos ideias claras de uma letra e uma melodia.
"Quis gravar logo. Acho que eu tinha que lembrar que sou um compositor, entende? Nos últimos anos, o Skank só fez projetos de revisão da carreira, de momentos passados. No máximo eu fazia uma ou duas músicas para cada um desses projetos. Precisava pegar isso de volta, porque sentia falta."
Ao ser questionado sobre o romantismo que transborda no álbum, ele afirma que "90% da música pop fala de amor, de Beatles a Black Sabbath". "Esse disco é o que estou vivendo, é muito íntimo. Por isso pus o nome 'Rosa'. Vivi separação, perda de pai, tive filho doente, nasceu minha filha, muitas coisas que me transformaram como ser humano."
Se é difícil encontrar rupturas sonoras no trabalho, há duas ausências que alguns fãs certamente vão reparar --Chico Amaral, letrista de inúmeras canções do Skank, e Nando Reis, parceiro de Rosa em uma série de hits, como "Resposta" ou "Sutilmente".
De parceiros antigos, Rodrigo Leão é coautor de três faixas, entre elas "Ciranda Seca (Dinorah)". "Música de personagem, né? Rodrigo se apaixonou por Dinorah", diz Rosa, sobre a música que tem toda a cara de hit, assim como o primeiro single, "Segue o Jogo".
Entre os novos companheiros de composição estão Carlos Rennó, com as canções de paixão escancarada "Me Dê Você" e "Bela Amiga", e João Ferreira, com "Flores da Rua", balada de amor não correspondido. "Tenho orgulho dessa tabelinha com o Rennó, que é um letrista com parcerias ilustres", afirma Rosa, acrescentando que a dupla já tem cinco canções escritas.
"Começamos com 'Declaração', uma música já gravada para um projeto do Rennó, uma letra dele que começou a ser musicada pelo meu filho, Juliano, e eu terminei." Já João Ferreira se aproximou do cantor por causa do filho. Os dois integram a banda Departe.
O novo grupo de Rosa, que gravou o disco e está com ele na turnê, é uma mistura de gerações. Tem amigos antigos, como Alexandre Mourão e Doca Rolim, respectivamente no baixo e na guitarra, o tecladista Pedro Pelotas, também integrante da banda de rock Cachorro Grande, e o baterista Marcelo Dai, da novíssima geração.
"Alexandre e eu tocamos juntos antes do Skank. Eu fui com ele e a mãe comprar sua primeira guitarra. Disse que ele precisava comprar um baixo para a gente fazer banda, porque eu já estava com a guitarra. Mas a mãe dele insistiu. Ele mudou depois e diz que sou o responsável por ele ser baixista", recorda o músico.
Já Doca, outro amigo de juventude, acompanhou o Skank, chamado para a turnê do álbum "Cosmotron", lançado há 21 anos. Logo que ele entrou na trupe, o Skank foi convidado para um dos maiores festivais de rock da Europa, o Roskilde, na Dinamarca. "Mineiro tímido, acostumado aos botequinhos de Belo Horizonte, ele passou mal com a notícia. Tinha acabado de entrar no Skank e iria abrir show do Blur", lembra Rosa.
Por enquanto, a turnê de "Rosa" tem 25 datas até novembro. A estreia foi no João Rock, em Ribeirão Preto, mas o álbum ainda não havia sido lançado. Agora, o repertório será diferente. Mas Rosa faz suspense.
"Vou tocar coisas do Skank que sejam minhas e algumas novas. Não o disco todo, mas devo tocar boa parte do álbum. Talvez traga para o show coisas que gravei com outras pessoas e não com o Skank, como 'Tarde Vazia', com o Ira!. Ainda não sei."