Por: Affonso Nunes

CRÍTICA / DISCO / MPB4 - 60 ANOS DE MPB: Amigo é pra essas coisas

MPB4 - 60 ANOS DE MPB | Foto: Divulgação

Desde a volta do Correio da Manhã, há quase cinco anos, tenho a honra, o privilégio e a felicidade de dividir páginas com Aquiles Reis, o Aquiles do MPB4, que nos oferta seu conhecimento musical em críticas sensíveis e qualificadas de vários lançamentos fonográficos. Por tê-lo em nosso time, não vejo necessidade de resenhar álbuns lançados no Brasil mas como sei que o amigo não vai falar de "MPB4 - 60 Anos de MPB" (Biscoito Fino), farei as honras da casa.

E que felicidade para os amantes da MPB, sigla que se confunde com o mais tradicional quarteto vocal brasileiro, que o grupo se mantém altivo mesmo após as irreparáveis perdas de Magro Whagabi (1943-2012) e Ruy Faria (1937-2018). Formados no grupo Céu da Boca, Dalmo Menezes e Paulo Malagutti, o Pauleira, assumiram os postos vagos com a missão de manter uma tradição e, ao mesmo, renovar, pois o MPB4 sempre resistiu e se renovou. Na minha modesta opinião, quando um cantor é convidado a fazer parte do MPB4 é como se estivesse sendo convocado para a seleção de futebol ou eleito para a Academia Brasileira de Letras.

Mas vamos ao disco, fruto da amizade que o MPB4 tem com os maiores compositores da música brasileira, pois quem mais poderia ter num único álbum participações especiais de Chico Buarque, Milton Nascimento, João Bosco, Edu Lobo, Toquinho, Dori Caymmi, Ivan Lins, Paulinho da Viola, Kleiton & Kledir, Alceu Valença, Francis Hime e Guinga? Como diria Aldir Blanc em canção imortalizada pelas vozes

de Aquiles, Magro, Miltinho e Ruy em 1970, "amigo é pra essas coisas".

Não bastasse o time de peso a cantar em duetos com o MPB4, o álbum recebeu arranjos de Dori Caymmi, mago das artesanias musicais, que soube muito trabalhar com o talento do quarteto. O disco é feito de regravações, mas maioria das canções selecionadas ganha registro fonográfico do MPB4 pela primeira vez.

E como diria o mestre Aquiles, a tampa se abre com "Notícias do Brasil" (Milton Nascimento e Fernando Brant) em registro de rara emoção visto que Milton já se aposentou dos palcos. A faixa dois traz "O Cantador" (Dori Caymmi e Nelson Motta) com participação do primogênito do clã Caymmi que se soma a um arranjo vocal daqueles de arrancar suspiros nos transportando ao Festival da Record de 1967, quando o MPB4 defendia outra canção ("Roda Viva") com Chico Buarque de quem falaremos mais adiante.

O disco entra em modo samba com direito ao suingue de João Bosco em Pret-a-Porter de Tafetá" (João Bosco e Aldir Blanc) e a leveza de Toquinho em "Caso Encerrado" (Toquinho e Paulinho da Viola). Ivan Lins surge em dueto com quarteto em "Velas Içadas" (parceria com Vitor Martins), agora em modo romance.

Edu Lobo, outro amigo de longa data, divide os microfones com o MPB4 na sua "Dança do Corrupião" (parceria com Paulo César Pinheiro), um baião de respeito. Tudo isso serve de cama para a bela e triste "Angélica" (Miltinho e Chico Buarque) em que o maior compositor brasileiro vivo junta-se aos velhos amigos num registro que faz jus a toda resiliência desta canção-manifesto.

"Catavento e Girassol (Guinga e Aldir Blanc) com Guinga remete ao apadrinhamento do compositor pelo quarteto há 50 anos quando gravou uma de suas criações.

Intérprtes de tudo bom que existe na MPB, o grupo gravou Paulinho da Viola algumas vezes, mas nunca "Coisas do Mundo, Minha Nega". "Na Primeira Manhã (Alceu Valença) vem na sequência com os vocais do pernambucano numa levada que surpreende.

convidado da faixa.

Dos gaúchos Kleiton & Kledir, com quem o MPB4 nutre forte relação, o quateto se une à dupla com a tocante "Amor e Paz", concebida em tempos pandêmicos e que tão bem resume os assombros que vivemos. E "Parceiros" (Francis Hime, Chico e Milton) reforça a força da amizade que move as vozes do MPB4, tanto as atuais como as que a vida nos tirou.