O brega repensado de Odair José

Campeão absoluto de vendas nos anos 1970 se revela antenado com o presente (e o futuro) e lança álbum em que utiliza ferramentas de Inteligência Artificial

Por André Barcinski (Folhapress)

Odair diz que gostava de fazer as pessoas pensarem com sua música

Se há uma característica marcante de Odair José é a independência. Em 54 anos de carreira, esse goiano de Morrinhos fez tudo da maneira que quis, inclusive quando dominava as paradas na década de 1970, em gravadoras como CBS e Philips. Suas letras sempre trataram de temas polêmicos, como o amor pelas "damas da noite", na canção "Eu Vou Tirar Você Desse Lugar", de 1972, ou o uso da pílula anticoncepcional, como em "Uma Vida Só". Em 1977, ele lançou a ópera-rock "O Filho de José e Maria", em que criava o personagem de um Jesus Cristo contemporâneo e discutia dogmas religiosos.

O LP foi um fracasso de público e crítica e marcou o fim de um período de sete anos em que o compositor foi campeão de vendas, desde a estreia em disco com o LP "Odair", de 1970. "Eu sentia que minhas letras incomodavam muita gente", diz o compositor. "E isso me motivava a questionar mais, a continuar fazendo um trabalho que levasse o público pensar. No início da minha carreira, eu conversava muito com Raulzito [Raul Seixas], e a gente sempre falava sobre o papel do compositor. Ele dizia que a gente tinha que questionar tudo sempre. Eu adorava bater papo com ele."

A ousadia custou caro a Odair. Ele foi tachado de "brega" e "cafona". Na letra de "Arrombou a Festa", Rita Lee e Paulo Coelho o apelidaram de "terror das empregadas", por causa da canção "Deixa Essa Vergonha de Lado", em que contava a história de uma moça que não queria revelar ao namorado que era uma empregada doméstica.