José Augusto: 'No Brasil, as pessoas rotulam muito'
Aguenta coração que José Augusto tem 50 anos de carreira para celebrar, no palco, numa tour por todos os estados do país, com dois singles saindo do forno para lançar. No dia 16 de agosto, ele leva seu lirismo ao palco do Vivo Rio, resgatando os hits que o transformaram num dos mais bem-sucedidos vendedores de discos do Brasil. Sua estrada para a consagração se abre em 1973, com "De Que Vale Ter Tudo Na Vida" e "Eu Quero Apenas Carinho".
Na sequência, ele engata uma carreira pela América Latina, estendendo sua fama em shows na Europa e na África. Craque em emplacar hits em trilhas sonoras de novelas populares, ele embalou namoros com "Sábado", "De Igual Pra Igual", "Chuvas de Verão" e "Eu e você".
Na entrevista a seguir, o cantor faz um balanço dessa obra querida pelo público questionando as rotulações que recebeu num trabalho sempre aberto a ritmos, a parcerias, à reinvenção.
Qual é a responsabilidade de se cantar o amor nos tempos de hoje e de que forma suas canções celebram o romantismo?
José Augusto: Não existe uma responsabilidade de se cantar o amor de hoje porque o amor não é de hoje, o amor é de sempre. Desde que o mundo é mundo, o amor existe. As minhas canções, às vezes, celebram amor romântico, mas tenho outras que não. Eu tenho canções falando de Deus. Eu tenho canções falando de campo e de montanha. Não são todas que celebram amor. As mais conhecidas ficaram com esse rótulo. Mas não existe uma responsabilidade. O amor não vai deixar de existir nunca.
Que surpresas o público pode esperar do show do Vivo Rio e de que forma essa apresentação celebra suas parcerias com outros nomes da canção romântica no país?
As minhas parcerias não só com cantores românticos. Eu acabei de fazer uma canção com o Xande de Pilares. A minha canção, "Separação", é gravada por todos os pagodeiros do Brasil, não só os românticos. As minhas canções são gravadas por vários sertanejos, não só os românticos. A resposta não tem nada contra o romantismo. Ao contrário, eu me considero um cantor romântico. Só que no Brasil as pessoas rotulam muito. Então, se você fizer quatro músicas falando de guerra, você vira guerreiro. Se você fizer cinco músicas falando de romantismo, você vira romântico. Isso não quer dizer que amanhã eu não possa fazer um rock, que, aliás, eu já fiz no meu primeiro disco. Minha apresentação é feita através das pessoas, através das coisas que eu ouço, através das pessoas que vão ao camarim e me pedem uma música ou outra. Eu sempre costumo dizer que não existe um rótulo, não existe uma música melhor ou pior. Existe aquela que bate no coração de alguém. Pode ser um pagode, pode ser um rock, pode ser um frevo, pode ser uma música romântica.
Como você avalia a MPB e a música romântica hoje no Brasil? O que há de novidade, o que há de consagração? Quem mais te surpreende? O que mais mudou na indústria da música nesses 50 anos?
Não dá para avaliar o hoje da música romântica do Brasil, porque ela sempre existiu e ela sempre existirá. Ela jamais sairá de moda. Ela pode se reciclar e se modificar, mas sempre estará em moda, seja na minha voz, seja na voz do Péricles, seja na voz do Belo, seja na voz do Zezé de Camargo, seja com o Chitãozinho e Xororó, que são cantores de outros estilos. Para mim, toda a música brasileira faz parte da MPB e não só aquela parte elitista que a mídia gosta muito de exaltar. O que mudou na indústria foi a maneira de você vender a música. Antes, você tinha loja, tinha gravadora e hoje você disponibiliza no Spotify, você disponibiliza no mundo em outras plataformas. Essa foi uma forma que mudou nesses 50 anos... e as coisas continuarão mudando. Nos próximos 50 anos, será completamente diferente.
Qual é a maior saudade que você sente ao pensar nesses 50 anos de carreira? Qual foi a maior alegria desse tempo?
Eu tenho tanta coisa para lembrar que seria difícil poder resumir tudo, mas destaco encontros com artistas maravilhosos, como a Dionne Warwick e o B.J. Thomas, meu ídolo. Tive um encontro com Roberto Carlos, em que cantamos juntos "Fera Ferida". Tem os duetos que fiz com o Vitor e Léo; com o Luan Santana; com o Zezé Di Camargo e Luciano; e com cantoras que cantaram minhas canções, como Simone, Wanderléa e Alcione. Se eu tivesse que escolher um momento especial, esse momento seria a gratidão que eu tenho por um dos maiores cantores desse país, chamado Cauby Peixoto, ter gravado a minha primeira canção. Cauby foi um cara que me ajudou muito, que me proporcionou ganhar dinheiro com música pela primeira vez gravando uma canção minha, chamada "Meu Filho", quando eu ainda tinha 19 anos. São momentos de que jamais vou esquecer, como o fato de compor "Evidências", considerado o segundo hino nacional, não por mim, mas pelo povo brasileiro.