Por: Affonso Nunes

Toninho Geraes, um cidadão do samba

Toninho Geraes em seu habitat natural nas melhoras rodas de samba da cidade | Foto: Divulgação

Se você frequenta as melhores rodas de samba da cida já se deparou com Antônio Eustáquio Trindade Ribeiro, ou melhor, com Toninho Geraes. Cantor e compositor, ele é dono de sucessos que o Brasil conhece nas vozes Zeca Pagodinho ("Toda Hora", "Seu Balancê" e "Pago pra Ver"), Beth Carvalho ("Se a Fila Andar") e Diogo Nogueira ("Alma Boêmia") e tantos outros intérpretes. Mas também solta a voz, com carisma e personalidade, como em "O Amor dos Poetas", seu sétimo álbum, já disponível nas plataformas digitais e com show de lançamento nesta quarta-feira (7) no Teatro Rival Petrobras, com participações de seu filho, Alison Geraes, da cantora Marina Iris e de Chico Alves, um de seus mais frequentes parceiros.

Neste trabalho, Geraes mostra uma nova safra de canções um repertório que passeia pelo romantismo, mas sem abrir mão da alma boêmia do artista.

A faixa-título, composta em parceria com Chico Alves, é uma homenagem a Luiz Carlos da Vila, referência para a dupla. O novo álbum pretende mostrar a faceta de intérprete de Toninho Geraes, incorporando músicas de outros autoress, entre elas "Sozinho", um megasucesso de Peninha, também gravada também por Sandra de Sá, Tim Maia e Caetano Veloso. "É muita responsabilidade concorrer com essas feras. São grandes nomes da música, que fizeram versões lindíssimas. Mas teve um dia, recentemente, que fui arriscar tocá-la no cavaquinho e o resultado ficou ótimo. Todo mundo gostou. Aí, decidimos colocar no álbum", conta Toninho Geraes cujo apelido foi dado pelo amigo Zeca Pagodinho.

A faixa "Um samba de saudade", belíssima canção já gravada também pelo grupos Casuarina e Arruda está, claro, presente na obra. O álbum ganha um clima de descontração com a regravação da faixa "Maria, Mariazinha", que contou com a participação do recém-falecido Anderson Leonardo, do Grupo Molejo. A faixa "Samba Guerreiro", que ganhou o seu primeiro registro na voz de Jovelina Perola Negra, e "Luz da Minha Vida", gravada por Roberta Sá no

álbum Sambassá, também fazem parte da obra.

Fechando o álbum vem a faixa "Seu Zé", de Claudinho Guimarães, que faz uma homenagem ao povo de rua

através da figura do Zé Pilintra e já possui um clipe disponível nas plataformas digitais com mais de 1 milhão de visualizações.

SERVIÇO

TONINHO GERAES | O AMOR DOS POETAS

Teatro Rival Petrobras (Rua Álvaro Alvim, 33 - Cinelândia)

7/8, às 19h30

Ingressos entre

R$ 50 e R$ 120

 

CRÍTICA DISCO - O AMOR DOS POETAS: Uma sonoridade tradicional que não cai no saudosismo

Toninho Geraes e Chico Alves, um de seus parceiros mais frequentes: dupla compôs metade das faixas de 'A Alma dos Poetas' (no detalhe) | Foto: Divulgação

O mineiro Antônio Eustáquio Trindade Ribeiro, mais conhecido por Toninho Geraes tem uma celebrada carreira de quatro décadas no samba. Desde que chegou ao Rio na primeira metade dos anos 1980 e estreou em disco na coletânea "Na Aba do Pagode", de 1986, Toninho se estabeleceu como um compositor querido por grandes intérpretes. Agepê gravou "Me Leva", o amigo Zeca Pagodinho interpretou "Seu Balancê" e Martinho de Vila gravou "Mulheres". Geraes contabiliza mais de 200 canções gravadas por nomes como Emílio Santiago, Beth Carvalho, Simone, Bezerra da Silva e Neguinho da Beija-Flor.

Apesar da carreira de sucesso, ficou mesmo conhecido do grande público recentemente, quando processou a cantora britânica Adele por supostamente ter plagiado a canção "Mulheres" na faixa "Million Years Ago", de 2015, creditada a ela e ao produtor musical e compositor americano Greg Kurstin. É uma pena que um compositor tão talentoso seja mais conhecido por um caso jurídico do que por sua arte. Se o grande público ouvir o novo disco de Toninho Geraes, "O Amor dos Poetas certamente vai perceber que ele não merece ser apenas conhecido como "o compositor que a Adele supostamente copiou".

"O Amor dos Poetas" tem 12 faixas de samba de raiz, algumas mais animadas e festivas, outras românticas e introspectivas, mas todas com uma produção bonita em sua simplicidade e sem nenhum traço do irritante verniz de "perfeição" que se ouve nas produções recentes, com aquelas vozes autotunadas e timbres de FM.

Mérito do produtor e arranjador Alessandro Cardozo, que imprimiu ao disco uma sonoridade que consegue soar tradicional sem ser saudosista.

Toninho Geraes tem uma verdadeira voz de sambista, meio rascante, daquelas que já passaram incontáveis horas em pagodes noite adentro. E como é bom ouvir um disco de samba com um cantor que parece estar num fundo de quintal e não num púlpito.

Metade das 12 canções de "A Voz do Poeta" é composta por Toninho em parceria com Chico Alves. O mesmo Alves assina uma música sozinho, "Berço de Sereia", e Toninho gravou, em samba, uma versão linda da balada "Sozinho", de Peninha.

A canção que dá nome ao LP, "O Amor dos Poetas", é uma homenagem a Luiz Carlos da Vila, morto em 2008. E algumas músicas do disco poderiam ter se tornado hits nas vozes de gente como Agepê, Roberto Ribeiro ou Luiz Ayrão, como "Um Samba de Saudade" e "Desapego".

Toninho recebe a cantora Marina Iris para uma versão de "Samba Guerreiro", canção de Toninho gravada em 1996 pela grande Jovelina Pérola Negra.

E o disco encerra com a animadíssima "Seu Zé": "Quando desce o morro /ele vai trabalhar /com seu terno branco /baralho no bolso e o seu patuá /descendo a ladeira /lá vai o malandro /em cada esquina que passa /considerado ele é/ porque malandro que é malandro/ tem que respeitar seu Zé".