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Adelia Sampaio, a primeira diretora negra do cinema brasileiro

Adelia Sampaio desafiou tabus da sociedade brasileira ao apresentar o amor entre duas mulheres no longa 'Amor Maldito', de 1984 | Foto: Divulgação

Primeira cineasta negra do Brasil, Adelia Sampaio será homenageada nesta terça-feira (13), no Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), na Cinelândia, pelos 40 anos do longa metragem "Amor Maldito" (1984), que conta a história de duas mulheres, protagonizadas pelas atrizes Monique Lafond e Wilma Dias, que viviam um romance proibido, enfrentando preconceitos e desafios sociais. Baseado em um fato real e lançado ao final da ditadura militar, o enredo aborda a lesboafetividade de forma pioneira na América Latina, destacando a coragem e a resistência das protagonistas.

O trabalho de Adelia Sampaio, que está prestes a completar 80 anos, continua a ser uma referência para o cinema brasileiro. "Amor Maldito" não apenas promoveu uma quebra de barreiras, mas também lançou luz sobre a necessidade de uma maior diversidade e inclusão na indústria cinematográfica.

O filme narra a história trágica de amor entre Fernanda, uma executiva, e Sueli, uma ex-miss, filha de uma família evangélica e opressora, que comete suicídio. Tornada ré pela morte da ex-companheira, Fernanda é julgada por uma corte preconceituosa e cruel.

O filme não está disponível em nenhuma plataforma de streaming, mas pode ser conferido gratuitamente no YouTube. Entre outras obras da filmografia de Adelia estão os curtas-metragens "Denúncia Vazia" (1979) e "O Mundo de Dentro" (2018), e os longas (ambos documentários) "Fugindo do Passado" (1987) e "AI-5 - O Dia Que Não Existiu" (2001), este segundo com codireção de Paulo Markun.

O legado de Adelia é um testemunho da força e resiliência das mulheres negras e LGBTQIAPN no cinema, na arte e na sociedade. O CCJF fará uma sessão especial do filme às 18h, seguido de uma debate sobre o tema, com a participação da deputada estadual Marina do MST.

Em entrevista concedida ao Portal Catarinas em 2021, Adelia falou sobre negritude e seu trabalho como diretora, ressaltando que se considera "ousada pela coragem de fazer cinema".

"Eu sempre me senti negra. Sempre tive certeza da importância de ter esse orgulho e de procurar ser a melhor no que quer que estivesse envolvida (…) sou uma negra assumida, uma cineasta assumida, uma mãe assumida, uma avó assumida e vou por aí me assumindo em todos os sentidos. A mulher tem que se assumir", defende.

Mineira de Adélia Sampaio iniciou sua carreira no cinema nos anos 1970, trabalhando como roteirista e diretora de curtas-metragens. Ao longo de sua carreira, Adélia Sampaio explorou diversas temáticas, como a identidade negra, a violência, o racismo e as relações de gênero.

Sua obra foi exibida em diversos festivais de cinema nacionais e internacionais, e ela recebeu diversos prêmios por suas contribuições para o cinema brasileiro.