Um tesouro resgatado do mestre Adoniran

Eduardo Gudin põe música em letra inédita escrita pelo autor de 'Saudosa Maloca' por volta de 1977

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Eduardo Gudin e Adnoniran Barbosa em registro de 1982

Como se não bastassem serem artistas fundamentais para o samba de São Paulo, Eduardo Gudin e Adoniran Barbosa (1910-1982) eram muito amigos. No fim da vida, o autor de "Trem das Onze" fazia questão de ir à sede da produtora artística que o jovem colega montou, no bairro do Bixiga, para jogar conversa fora. O papo era tão bom que eles só tiveram tempo de fazer uma música juntos, "Armistício".

Depois de 42 anos da morte de Adoniran, os dois assinam "Vou Pegar o Metrô", que Gudin lança em single distribuído pela gravadora Biscoito Fino, com participação do Conjunto João Rubinato, grupo criado em 2009 que se dedica a preservar e divulgar o legado artístico de Adoniran Barbosa.

"Vou Pegar o Metrô" surgiu por acaso. Cassio Pardini, produtor de filmes sobre Adoniran, descobriu no acervo do artista uma matéria do jornal Notícias Populares, datada de 2 de maio de 1977. Naquela época, a expansão do transporte metroviário da capital paulista estava a todo vapor e a publicação divulgou a letra de um samba inédito de Adoniran sem título definido. No papel encontrado, há acréscimos feitos a caneta, demonstrando que Adoniran lapidou os versos. Se havia alguma melodia, ela se perdeu.

Com a letra entregue por Pardini em mãos, Gudin fez uma melodia pensando no estilo do amigo e assim a música ficou pronta. "Vou Pegar o Metrô" foi apresentada em primeira mão por Gudin e pelo Conjunto João Rubinato em um show no Sesc Pompeia, em junho de 2023. A letra segue atualíssima, já que milhões de moradores de São Paulo dependem diariamente do metrô. Hilda Maria e Cadu Ribeiro, integrantes do grupo, dão voz à canção junto a Gudin.

A gravação de "Vou Pegar o Metrô" é importante não somente por tornar pública uma música inédita de Gudin e Adoniran, mas para mostrar que o samba de São Paulo registra as transformações da cidade de maneira única, com a grife do veterano sambista, um dos grandes cronistas (e também personagens) de São Paulo.