A voz do compositor

Grandes nomes da música de câmara carioca executam as criações de Rodrigo Marconi e sua colcha de influências artísticas

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Rodrigo Marconi atravessa influências na música, poesia, artes plásticas e filosofia em 'Outros Eus', seu mais novo álbum

Nome de ressonância no circuito da música de câmara carioca, Rodrigo Marconi investe em suas composições, revelando-se e desdobrando-se em facetas múltiplas no álbum "Outros Eus", já nas plataformas digitais. O trabalho reúne expoentes da música de câmara carioca os violoncelistas Ricardo Santoro e Paulo Santoro (Duo Santoro), a soprano Tânia Moura, o pianista Felipe Naim, a flautista Geisa Felipe e o violonista Fábio Adour, entre outros.

O que leva um artista criar? Qual o seu estímulo? Para quê criar? Para quem? Será que a frase do poeta Ferreira Gullar, "A arte existe porque a vida não basta", contempla todas essas questões? Seriam as diversas formas de arte uma necessidade humana de se comunicar e de se expressar? De colocar - ou criar - diferentes mundos no mundo?

Nesse processo criativo, Rodrigo Marconi se conecta profundamente com que há de mais íntimo, deixando uma parte de si imortalizada em sua obra. No álbum, essas partes ganham vida quando amigos e renomados instrumentistas materializam a partitura em sons. "O ciclo se fecha quando esses sons vão ao encontro do ouvinte, que também cria suas interpretações e leituras fazendo desses outros eus um pouco seus", acredita o compositor.

Marconi apresenta uma amálgama formada por elementos diversos e díspares, salpicando referências impregnadas de diálogos que ultrapassam os limites do espaço-tempo, encontros que só a arte é capaz de promover. A produção poética de Cruz e Souza na faixa de abertura "O Assinalado", e Arthur Rimbaud, na composição "Canção da Mais Alta Torre", as leituras de mundo de Paul Valéry na obra "Para os Olhos... a Nuca é um Mistério!", os artistas surrealistas como André Breton, Luis Buñuel e Salvador Dali em "O Lado Mágico das Coisas", as reflexões de Nietzsche sobre as tragédias gregas com a obra Apolo e Dionísio no "Templo das Musas", as conversas semanais com a flautista Odette Ernest Dias em "Eram Dias Grávidos de Sons e Poesia", a criação estética dos compositores da Segunda Escola de Viena representada em "Os Três Rapazes de Viena" e as outras formas de expressão artística como a fotografia, na última faixa do álbum, "Polaroids" alimentam o processo criativo do artista.

"No processo de criação, o que há de mais íntimo se aflora e se desvenda aos olhos e ouvidos do público, como se a sua obra fosse um reflexo de si. Nesses outros eus é onde me faço linguagem. É também a forma que eu encontrei de resistir e de re-existir", revela Marconi, professor de música e diretor da Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna.