A doçura eterna do clarinete e sua flexibilidade
Das rodas de choro às salas de concerto, passando pelos bailes de gafieira e bandas de retreta, álbum navega pela rica e versátil tradição do instrumento
Os amantes da música de concerto ainda lamentam o fim da Orquestra de Mato Grosso. Felizmente, seu rico trabalho ainda rende frutos. Conhecida por seu repertório inovador e gravações com grandes solistas brasileiros e estrangeiros, a orquestra, sob a regência de Leandro Carvalho, e tendo o clarinetista Cristiano Alves como solista, traz temas de choro, seresta e gafieira, juntamente com composições clássicas para orquestra, mostrando a flexibilidade do instrumento e sua rica tradição na música brasileira no álbum "Clarinete Concertante - Choro, Seresta & Gafieira".
Gravado em 2016, o projeto foi retomado este ano com a mixagem e masterização finalizadas. "Foi impactante ouvir este trabalho sete anos depois de registrado. Fazíamos música de altíssimo nível com um time de músicos de primeira linha", elogia o maestro.
Todas as obras foram dedicadas ao solista Cristiano Alves, sendo duas delas estreadas por ocasião dos concertos e gravações: "Fantasia Concertante sobre formas de choro para clarinete e orquestra", de Leonardo Bruno, filho do lendário clarinetista e compositor Abel Ferreira, e 'Três Cenas Musicais Brasileiras Para Clarinete e Orquestra', de Paulo Aragão, um dos mais importantes compositores brasileiros de uma geração mais recente.
"Na 'Fantasia', Leonardo trabalhou com temas criados pelo pai, como 'Chorando Baixinho', numa obra magistral que explora a riqueza de timbres do clarinete. Já nas cenas musicais, Paulo Aragão conectou-se a rica tradição do clarinete para criar uma obra contemporânea, extremamente bem escrita e criativa", conta Carvalho.
As peças "Divagações nº 12", de Vittor Santos, e "Cafezais Sem Fim", De Wagner Tiso, foram comissionadas em 2004 pela Orquestra Petrobras Sinfônica e estreadas na Sala Cecilia Meireles, tendo o próprio Cristiano Alves como solista. "Divagações nº 12" faz parte do Ciclo de Divagações que, iniciado em 2002, já conta com mais de 40 obras, nas mais diversas formações, e retrata o estilo criativo, detalhista e virtuoso de Vittor Santos. Já em Cafezais, Wagner Tiso buscou inspiração na canção por ele composta em 1985. Ambas deixam claro que não existem fronteiras rígidas entre a música clássica e popular.
Criada em 2005, a Orquestra de Mato Grosso realizou mais de 800 concertos em mais de 120 cidades de todas as regiões do país. Gravou 17 álbuns originais, todos lançados pela gravadora Kuarup, com solistas como Yamandu Costa, Hamilton de Holanda, Vittor Santos, Renato Teixeira, Turibio Santos, Carlos Corrales, Roberto Correa, Ivan Vilela, Emmanuel Baldini e outros. Infelizmente, a Orquestra encerrou suas atividades em 2017, deixando um rico legado de concertos e gravações que podem ser acessadas pelas principais plataformas digitais.
Cristiano Alves iniciou os estudos musicais aos sete anos. Detentor de diversas premiações em importantes concursos, participou de centenas de gravações sinfônicas e camerísticas, atuando ainda junto a grandes artistas da MPB. Apresentando-se com frequência no exterior, o instrumentista é regularmente convidado a realizar recitais, concertos e masterclasses em diversos países.