Clara Sverner: '88 é um número mágico'

Pianista comemora aniversário e uma trajetória ímpar nas artes brasileiras em concerto na Sala Cecília Meireles

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Grande dama do piano brasileiro, Clara Sverner chega aos 88 anos em plena atividade e se apresenta na Sala Cecília Meireles nesta terça

Uma das maiores pianistas brasileiras, Clara Sverner, com duas indicações ao Grammy Latino e uma carreira que a tornou uma de nossas mais prestigiadas virtuoses, Clara Sverner está completando 88 anos em plena atividade. Lançou neste ano o álbum "Brahms Fauré" (Azul Music) e, nos últimos anos, vem produzindo em ritmo intenso, inclusive em outras áreas, como ebooks de contos e poemas, além de ficado anos em cartaz com a atriz Nathalia Timberg na peça "Chopin ou o Tormento do Ideal". E nesta terçca-feira, a musicista se apresenta na Sala Cecília Meireles.

No programa, obras de Mozart, Ravel, Brahms e Chopin, além dos compositores brasileiros Glauco Velasquez e Chiquinha Gonzaga. De Brahms, a pianista irá tocar o "Intermezzos" Op. 117, cuja integral está presente no álbum lançado este ano.

"88, número mágico", comenta Clara. "Aos quatro anos de idade, o piano surgiu na minha vida. Fez se a luz, meu segundo nascimento. Entre tantas experiências de vida, dolorosas, radiantes, eu e a música sempre inseparáveis. E neste belo crepúsculo de minha vida, que posso dizer? Que por fazer 88 estou mais livre! Nas interpretações Mozart, Ravel, Chiquinha, Brahms.... Como se minha alma ultrapasse barreiras. Nos unimos então na dor e na alegria. Divido com meu público a emoção, a arte. E o presente, é meu presente para vocês. E a luz da música nos acompanha", empolga-se a veterana artista.

Em sua carreira, não transitou somente na área musical, mas também no teatro, audiovisual e na literatura. Ao lado de seu filho, o designer, Muti Randolph, desenvolveram um projeto inovador no qual imagens são geradas a partir do piano em tempo real. O espetáculo denominado "Sinestesia" ganhou a sua versão em 3D, sendo sucesso de público e de crítica.

No teatro, Clara fez parte do elenco da peça "33 Variações de Beethoven", estrelada pela atriz Nathalia Timberg sob a direção de Wolf Maya. Em cena, Clara interpreta com grande sensibilidade as 33 Variações ao vivo. Posteriormente, nos anos de 2017, 2018 e 2021, a convite de Nathalia, Clara retorna ao teatro com a peça "Chopin ou o Tormento do Ideal", onde percorreram diversas cidades brasileiras em extensa temporada de muito sucesso.

Em 2020, em isolamento devido à pandemia da Covid-19, Clara começa a organizar os seus manuscritos de poemas e contos, e publica seu primeiro e-book onde reúne 26 poemas escritos entre 1982 e 2020, intitulado "Reminiscências". O segundo e-book "Interiores", que reúne 10 contos inéditos, escritos dos anos 80 aos dias atuais, foi lançado em 2023. Ambas obras estão disponíveis gratuitamente para download. No audiovisual, em 2023, um pequeno documentário em sua homenagem é disponibilizado na web, nomeado "Notas de uma pianista".

Clara Sverner teve sólida formação que se iniciou em São Paulo com o professor José Kliass. Aperfeiçoou-se mais tarde nos centros musicais mais avançados, como o Conservatório de Genebra, onde recebeu uma medalha de ouro, e o Mannes College of Music, de Nova Iorque. Premiada no Concurso Internacional Wilhelm Backhaus, ainda adolescente iniciou a vitoriosa carreira que a tornou uma das mais prestigiadas virtuoses brasileiras. Seu grande mestre foi o notável Koellreuter, grande pensador, que a ajudou sempre a pensar na liberdade e aperfeiçoamento do artista. Aos 18 fez a estreia do piano de Khatchaturian com o grande maestro Eleazar de Carvalho.

Privilegiando, antes de tudo, a qualidade estética, o arrojo da invenção e a carga expressiva das músicas que executa, Clara Sverner é uma artista inquieta que não se cansa de se aperfeiçoar, pesquisar e ousar. No domínio da música clássica brasileira, foi a principal responsável pela redescoberta de partituras com obras de Glauco Velásquez e Chiquinha Gonzaga, a quem dedicou várias gravações. Em 1980, saiu o primeiro álbum com algumas obras para piano da maestrina. O sucesso foi imenso e, em 1981, gravou o segundo LP com outras obras de piano dessa fecunda compositora. Em 1999, o CD "Chiquinha Gonzaga por Clara Sverner", foi utilizado na minissérie da Rede Globo, intitulada "Chiquinha Gonzaga".

Sua discografia que reflete sua estética apurada e seu espírito de vanguarda, consiste em mais de 29 títulos, distribuídos internacionalmente.

Em sua parceria com o saxofonista Paulo Moura, aboliu fronteiras, abriu-se para outros universos sonoros, explorando um repertório que abrangia desde os clássicos da nossa música popular. Com Paulo, gravou quatro discos, sendo que o disco "Vou Vivendo" ganhou o prêmio Villa-Lobos.

Gravou a "Íntegra das Sonatas de Mozart" onde o primeiro volume de "Mozart Por Clara Sverner" foi finalista do Prêmio TIM. O Vol. 2 ganhou o Prêmio TIM de Melhor Disco Clássico. O Vol. 3 indicado ao Grammy Latino. E o álbum "Chopin por Clara Sverner", lançado em 2011, foi indicado ao Grammy Latino, na categoria de melhor álbum de música clássica.

SERVIÇO

CLARA SVERNER - 88 ANOS

Sala Cecília Meireles (Rua da Lapa, 47)

27/8, às 19h

Ingressos: R$ 40 w R$20 (meia)