Por: Affonso Nunes

Carminho e o fado de ontem, hoje e sempre

Destaque da música portuguesa, Carminho volta ao Brasil para participar do Rock in Rio e depois segue em turnê por três capitais | Foto: Fernando Thomaz/Divulgação

O rock está no nome do festival, mas já faz tempo que o Rock in Rio extrapola as fronteiras deste gênero musical para se transformar numa festa global da música, com sonoridades que falam de perto a várias tribos. E uma das novidade desta edição comemorativa de 40 anos do festival é a cantora portuguesa Carminho, uma das mais expressivas vozes do fado contemporâneo. Ela se apresenta no próximo dia 20 no palco Global Village e depois segue em turnê pelo Brasil com shows em São Paulo, Fortaleza e Florianópolis.

Talvez seja preciso ser português (ou um pouco) para explicar que para eles o fado é muito mais do que um estilo musical. É uma expressão viva da alma da nação - uma expressão profunda de sentimentos e emoções e com fortíssimos vínculos ao jeito português de ser.

Nascido nas vielas de um dos bairros mais antigos de Lisboaa, a Alfama, o fado se caracteriza por versos melancólicas em melodias de grande riqueza harmônica. A interpretação vocal profunda normalmente tem o acompanhamento da guitarra portuguesa e da viola. A palavra "fado" deriva do latim "fatum", que significa "destino", e as letras das canções costumam explorar temas como o amor, saudade, vida e morte.

O fado é tradição, mas também um gênero vivo a se transformar e evoluir com o passar dos anos embora seja fiel às raízes. E assim é a música de Carminho, intérprete vigorosa que domina esse estilo com maestria desde a infância. Cantora e compositora, a portuguesa tem sucessos como "Meu Amor Marinheiro" e "Chuvas no Mar". Nesta turnê em terras brasileiras, o público terá a oportunidade de conferir todas as nuances do repertório da artista, que inclui clássicos do fado e suas canções autorais, incluindo músicas de "Portuguesa", seu sexto álbum de carreira, lançado no ano passado.

O show marca a volta da cantora ao Brasil após uma extensa turnê pelo país no ano passado. Carminho revela que veio ao Brasil pela primeira vez em 2003, aos 19 anos, de navio. Em quase duas décadas de carreira, já gravou ao lado de nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso e Marisa Monte. "Chuva no Mar", de Marisa e Arnaldo Antunes, estará no setlist, assim como "O Quarto", que integra a trilha sonora do premiado filme "Pobres Criaturas".

A ligação da cantora com o Brasil tornou-se ainda mais estreita em 2016, ao receber um convite da família Jobim para gravar "Carminho canta Tom Jobim", com a banda que acompanhou o maestro ao vivo nos seus últimos dez anos de vida. A relação de pertencimento com o Brasil, com o povo e com a língua, é algo muito presente na carreira dessa artista portuguesa.

"Cantar no Brasil é cantar em casa. Estou muito feliz em voltar ao país, onde tenho amigos queridos, tenho lugares que já são meus de alguma maneira. O álbum 'Portuguesa' é um retrato muito pessoal do fado, das minhas raízes e daquilo em que acredito. Vejo o fado como um instrumento que permite mostrar nossas tradições e, ao mesmo tempo, expressar uma visão contemporânea do mundo. Ele traduz um universo do qual nos sentimos parte", diz ela.

Filha da também fadista Teresa Siqueira, a cantora de 40 anos é uma das responsáveis por trazer um frescor ao gênero desde o final dos anos 2000. Ela, no entanto, rejeita o rótulo de fado moderno. Recentemente, fez a música "Levo o meu barco no mar", com Marcelo Camelo, para o disco "Portuguesa". Das 14 faixas do álbum, é daquelas que grudam no ouvido à primeira audição. Carminho a considera um "hino transatlântico".

"Marcelo Camelo é um dos compositores da língua portuguesa que eu mais admiro e que tive o privilégio de poder partilhar vários momentos de composição e de procura por uma canção. Na verdade, esta canção foi ele quem me enviou, porque sentiu que seria para mim. A construção do repertório tem a ver também com o gosto, com a linguagem, com o imaginário, não necessariamente precisa ser um fado tradicional na sua estrutura mais técnica", comenta a cantora. "Há muitas canções que são fados reais, e para mim esta é um grande fado, não só pela forma como foi produzida, mas sobretudo pela essência que ela já tinha. Essência de superação e de persistência", completa a cantora, dando a entender da universalidade deste gênero que defende com tanto talento.

SERVIÇO

CARMINHO

Rock in Rio (Cidade do Rock - Av. Embaixador Abelardo Bueno s/nº)

20/9, no palgo Global Village

Ingressos: R$ 795