E da canção Luiza Brina fez oração

Cantora e compositora mineira 'Prece', álbum que reúne orações criadas pela artista que 'descobriu' que não sabia rezar

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Desde que passou por um momento difícil na vida, a cantora e compositora Luiz Brina passou a criar orações em forma de canção de forma a se conectar com a religiosidade. Elas agora integram o álbum 'Prece', seu 4º disco de estúdio

Nome de destaque da música contemporânea brasileira, a novíssima MPB, Luiza Brina aposta na canção, matéria fundamental de seu jeito de ver o mundo. A cantora e compositora mineira traz "Prece", seu quarto álbum de estúdio, que reúne um repertório autoral que vem sendo lapidado desde 2010. Nesta quarta-feira, Luiza e seu violão levam esta nova safra de músicas ao palco do Manouche acompanhada por Guilherme Kastrup (percussão), Aline Gonçalves e Karina Neves (flautas).

Cantora, compositora, multi-instrumentista, arranjadora e produtora musical, Luiza considera este o seu mais ambicioso trabalho. Com uma orquestra formada por 19 instrumentistas mulheres - integrantes das Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e Orquestra Ouro Preto, selecionadas a dedo por Luiza - e processamentos eletrônicos conduzidos por Charles Tixier, o disco apresenta 10 orações de Luiza, além de um interlúdio.

No repertório, a artista, que escreveu todos os arranjos - tanto para as percussões do chileno José Izquierdo como para 22 instrumentos de uma orquestra de câmara - percorre diferentes formas de prece, incluindo orações ao amor, aos rios minerados, à solidão, e, acima de tudo, à própria fé que a artista busca ao fazer canções.

Ao lado dela, parceiros como Iara Rennó, Julia Branco, Luizga, Sérgio Pererê, Thiago Amud e Vovô Bebê ajudam a desenvolver essa prece-canção. Além deles, Luiza também se cercou de participações vocais, como as de Silvana Estrada, LvRod, Maurício Tizumba, além do próprio Sérgio Pererê e de Iara Rennó, compositores e cantores no disco. E, claro, das instrumentistas: Aline Gonçalves (clarinete, clarone e flauta); Alma Maria (trompa); Ana Calina (viola); Ana Cecilia (trompete); Camila Rocha (contrabaixo); Catherine Carignan (fagote); Elise Pittenger (violoncelo); Joanna Bello (violino 1); Jovana Trifunovic (violino 2); Kamila Druzd (viola); Karina Neves (flauta, flautim e flauta baixo); Laura Von Atzingen (violino 1); Lauriza Anastacio (violoncelo); Natália Mitre (percussão); Natália Porto Coimbra (trombone e eufônio); Rosana Guedes (oboé); Taís Gomes (contrabaixo) e Tatiana Martins (violino 2). Luiza Brina assina a direção musical, a produção musical (ao lado de Charles Tixier), os arranjos e ainda os violões de nylon e de aço.

Entre regravações (três, incluindo agora uma versão instrumental de "Oração 1", uma regravação da "Oração 2" ao lado de Silvana Estrada e uma regravação de "Oração 3") - e inéditas (sete ao todo), nada soa igual no novo álbum de Luiza.

São construções sonoras cheias de desvios, desencaixes e dobras, mas que conseguem ressoar beleza em suas formas, trazendo um estranhamento pop a cada canção. Se em 2017, era uma Luiza Brina astronauta explorando o espaço, agora temos uma Luiza escafandrista, buscando pérolas nas águas de um rio onde correm referências que vão de Hermeto Pascoal a Helado Negro, de Caetano em "Livro" à Pierre Schaeffer em seus estudos sobre objetos sonoros.

Era 2010 quando Luiza Brina começou a ter as primeiras crises de pânico. "Confinada pelo estado de saúde naquele momento, me dei conta de que não sabia rezar", conta.

Sem vínculo ou educação religiosa, a artista sentiu falta de uma conexão com algo que pudesse ajudá-la a superar aquele episódio, e o sentimento de morte contido nele. A canção, então, lhe pareceu mais naturalmente conectada à ideia de prece do que qualquer nova incursão religiosa na qual pudesse se lançar. Foi então que compôs "Oração 1"- música registrada inicialmente no álbum "Tão Tá", lançado em 2017, e que trouxe, à época, outras duas orações, modo como começou a batizar determinado tipo de canção.

Agora, mais de dez anos depois, Luiza soma mais de 20 orações compostas. E selecionou as mais significativas para o disco que chega agora. São composições que, de simples ajuda, se tornaram a maior expressão de sua linguagem musical.

SERVIÇO

LUIZA BRINA - PRECE

Manouche (Rua Jardim Botânico, 986 - subsolo da Casa Camolese)

16/10, às 21h

Ingressos: R$ 100 e R$ 50 (meia solidária, mediante doação de 1kg de alimento não-perecível ou livro para doação)