Navegar (sempre) é preciso
Fadista Carminho reforça laços entre a música portuguesa e a MPB ao gravar 'Argonautas', de Caetano Veloso, em EP produzido nos EUA
O fado e a MPB são dois gêneros musicais com uma rica história de interação. Vide o estupendo álbum de Amália Rodrigues com Vinicius de Moraes, os flertes de Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Marisa Monte, Zeca Baleiro e Fafá de Belém com esse estilo português. Do lado lá Além de grande diva Amália, nomes como Sergio Godinho, Carlos do Carmo, Pedro Abrunhosa e António Zambujo fazem declarações do amor à nossa música. E essa sucessão de influências mútuas e colaborações ganha nova página com Carminho. Uma das grandes vozes portuguesas contemporâneas, acaba de lançar EP em que gravou a clássica "Argonautas", de Caetano Veloso, com a participação do baiano em dueto de rara beleza e encanto.
"Argonautas" é conhecida pelos versos "Navegar é preciso / viver não é preciso", que remonta a um poema de Fernando Pessoa, como destaca Caetano. "Tem uma música que Bethânia me pediu para fazer em 1968, com as frases "navegar é preciso/ viver não é preciso", que ela tinha encontrado num texto de Fernando Pessoa. A frase remonta à Grécia Antiga... O Fernando Pessoa atribui aos argonautas e eu botei o título "Os Argonautas" por causa de Fernando Pessoa", disse Caetano em depoimento citado nas redes sociais de Bethânia. A cantora gravou a faixa e Caetano também o fez em seu álbum de 1969.
Voltando a carminho, seu EP tem o nome de "Carminho at Electrical Audio". O título em inglês remete ao estúdio do lendário produtor americano Steve Albini (falecido em maio), na cidade de Chicago.
A fadista relembra a amizade com Caetano e a inclusão da música no EP. Os dois já tinham gravado "Você-Você", do baiano, a partir de uma discussão sobre a Língua Portuguesa e os diferentes usos das palavras nos países lusófonos. Em 2023, quando foi a Lisboa com a turnê do álbum "Meu Coco", Caetano convidou Carminho para subir ao palco do Coliseu dos Recreios. Juntos cantaram "Você-Você" e também "Os Argonautas", a pedido dela.
"Essa música é cativante não só pela beleza da letra e da melodia, mas pela relação com os versos de Fernando Pessoa. O tom nostálgico, que evoca Portugal de outros tempos, me fascinou. Caetano sugeriu que eu gravasse essa canção e foi o que fiz, com guitarra portuguesa. Ele colocou voz mais tarde, selando esse EP com seu talento, sua voz e sua generosidade", comemora a fadista.
Ao receber a gravação, Caetano foi só elogios: "Sinto-me honrado de ter essa canção minha interpretada de maneira tão bela, que me emociona fundo. Orgulho-me de cantar ao lado dela como quem assina a autoria".
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