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Quincy Jones, lenda da música, morre aos 91

Quincy Jones e Michael Jackson: o produtor foi o responsável por novos rumos na carreira do cantor | Foto: Divulgação

Para ele, a música não tinha fronteiras e por isso mesmo tornou-se uma lenda na música americana. O músico, arranjador e produtor Quincy Jones morreu neste domingo (3) aos 91 anos. Ele é reconhecido por trabalhos que vão de Count Basie a Frank Sinatra e pela reformulação da música pop ao colaborar com Michael Jackson.

Ele ajudou a moldar o som de diversas gerações de músicos e produtores. Sua capacidade de mesclar diferentes gêneros musicais, do jazz ao hip hop, e de criar arranjos complexos e inovadores o tornou um verdadeiro mestre da produção musical. Ele foi um dos primeiros a utilizar novas tecnologias na produção musical, como sintetizadores e samplers.

O produtor recebeu 79 indicações ao Grammy (sendo premiado 27 vezes), ganhou um Oscar honorário este ano por "seu gênio artístico" e foi ainda o primeiro compositor negro a assumir um alto cargo de uma grande gravadora, ao assumir a vice-residência da Mercury.

O assessor de Jones, Arnold Robinson, informou que ele morreu em sua casa, na região de Bel Air, em Los Angeles, ao lado da família. A causa não foi informada.

"Esta noite, com corações cheios, mas partidos, devemos compartilhar a notícia do falecimento de nosso pai e irmão Quincy Jones", disse a família em um comunicado. "E embora esta seja uma perda incrível para nossa família, celebramos a grande vida que ele viveu e sabemos que nunca haverá outro como ele."

Nascido em Chicago em 1933, Jones demonstrou um talento musical desde cedo. Aos 10 anos, mudou-se para Bremerton, Washington, onde fez amizade com Ray Charles, que o ensinou braille. Essa amizade marcaria o início de uma longa jornada na música. Depois integrou as célebres big bands de Lionel Hampton e de Dizzy Gillespie.

Logo se destacou como arranjador, trabalhando com artistas como Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Count Basie, Duke Ellington, Sarah Vaughn, Aretha Franklin, Gene Krupa e Miles Davis.

A partir dos anos 1960, Jones se consolidou como um dos produtores musicais mais importantes do mundo, trabalhando com artistas de diversos gêneros, do jazz ao pop.

Sua parceria com Michael Jackson foi um dos pontos altos de sua carreira. Juntos, eles criaram alguns dos álbuns mais vendidos da história, como "Off the Wall", vendeu 40 milhões de cópias, se tornando um dos mais aclamados discos de música negra do século XX. O trabalho seguinte, "Thriller" (1982), alcançou um sucesso sem precedentes, vendendo 100 milhões de cópias e tornou-se o álbum mais vendido de todos os tempos. os dois ainda trabalhariam juntos em "Bad", que vendeu 30 milhões de cópias mundialmente, e se firmou durante algum tempo como o segundo álbum mais vendido da história.

'We Are The World'

Jones ainda se tornaria célebre por uma grande façanha: reunir os maiores artistas americanos em um estúdio para gravar a legendária canção "We Are The World" para angariar fundos para as vítimas da fome na Etiópia. Quando as pessoas se espantaram com sua habilidade para fazer com que todos trabalhassem unidos, Jones explicou que ele apenas deixou uma placa na porta dizendo: "Deixe seu ego na porta".

Convém lembrar também que Quincy Jones possui uma vasta discografia como artista. Gravou cerca de 40 álbuns, entre trabalhos de estúdio e apresentações ao vivo. Destacam-se nessa lista trabalhos como The Birth of a Band!" (1959), um de seus primeiros trabalhos em que apresentava um jazz vibrante; "Back on the Block" (1989) foi um de seus maiores sucessos comerciais, tendo participações de Michael Jackson, Ray Charles e Miles Davis; e "Q's Jook Joint" (1995), um projeto mais pessoal, com um som mais soul e blues, explorando suas primeiras influências musicais.

Jones também compôs trilhas sonoras para filmes como "O Feiticeiro" e séries de TV como "Um Maluco no Pedaço".

Além de sua carreira musical, Jones foi um ativista social, usando sua influência para promover causas como a igualdade racial. Por muitos anos trabalhou ao lado de Bono, do U2, em trabalhos filantrópicos. Fundou a Quincy Jones Listen Up Foundation, uma fundação que dá aos jovens acesso à tecnologia, educação, cultura e música. Um dos programas da organização é um intercâmbio intercultural entre os jovens carentes de Los Angeles e da África do Sul.

Grande pesquisador, incentivador e observador de todas manifestações musicais de qualidade, Jones revelou-se um grande admirador da música brasileira. Entre os artistas favoritos, figuram Simone, a qual ele citava como "uma das maiores cantoras do mundo", Milton Nascimento, Gilson Peranzzetta, Ivan Lins e nomes da bossa nova. Chegou a desfilar na Portela em 2006, no alto de um carro alegórico, em defesa do enredo "Brasil, marca a tua cara e mostra para o mundo".

Em fevereiro de 2018, o artista pediu desculpas após entrevistas polêmicas em que acusou Michael Jackson de roubar canções e disse que os Beatles eram os piores músicos do mundo.