Um disco para honrar Tom Jobim

Paula Morelenbaum, cantora da Nova Banda do Maestro Soberano, se une ao violonista Arthur Nestrovski no magnífico 'Jobim Canção'

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Paula e Nestrovski: repertório de 10 canções representativas na obra do maestro

A intenção é apresentar um apanhado da obra imortal de Tom Jobim nos 30 anos de sua morte e a escolha não poderia ser mais apropriada. "Jobim Canção" (Biscoito Fino) é a feliz reunião de Paula Morelenbaum e Arthur Nestrovski. Ela, cantora da Nova Banda de Jobim por uma década. Ele, o solista de "Jobim Violão", um álbum-referência na leitura do repertório jobiniano para o instrumento. O resultado? As sofisticadas harmonias de Tom parecem flutuar com este duo virtuoso.

Traçando um arco de cinco décadas, "Jobim Canção" reúne 10 canções representativas da carreira de Antônio Carlos Jobim (1927-1994). "A lista partiu do desejo de Paula de gravar apenas músicas que nunca tinha registrado antes, nos próprios discos dela. Só depois de selecionarmos as 10 faixas, quando pesquisamos as datas de composição de cada uma, foi que percebemos o arco de cinco décadas de criação musical de Jobim. Veio a calhar, fazendo eco às videoaulas da série 'A Longa Arte de Antônio Carlos Jobim', que fizemos juntos para as plataformas da revista Piauí", pontua Arthur Nestrovski.

Para Paula, a convivência com o maestro foi enriquecedora em todos antigos, sobretudo como cantora e musicista. "A minha única experiência havia sido com o grupo vocal Céu da Boca, todos muito jovens como eu. Quando entrei para a Nova Banda pude viajar pelo mundo, vivenciar o showbiz internacional. Fora isso, o Tom sempre me chamava para cantar números solo em shows, álbuns e programas que fazia. Entendi que ele gostava da minha voz e do meu jeito de cantar", diz, ela, uma das mais respeitadas intérpretes da obra de Tom.

As três músicas mais antigas do álbum são de 1958: "Cala, Meu Amor", lindo samba-canção, hoje esquecido, com letra de Vinicius de Moraes; um clássico da bossa nova, "Caminhos Cruzados", com letra de Newton Mendonça; e o clássico "Eu Não Existo Sem Você", também de Tom e Vinícius, que Paula canta num dueto com José Miguel Wisnik.

Dos anos 1960, vêm "Wave" (letra e música de Tom Jobim) e uma das primeiras parcerias de Tom com Chico Buarque, "Pois É", aqui novamente com a letra original de Chico, alterada na famosa gravação do disco "Elis e Tom".

Em seu momento solo, Nestrovski toca "Nuvens Douradas" (1972), que Tom mandou para Chico botar letra - mas ele não fez. Outro número instrumental é a suíte "Gabriela" (1987), em versão inédita para dois violões: Nestrovski e João Camarero, que também participa de duas outras faixas, com o seu 7 cordas.

Metade do disco conta com a percussão de Marcelo Costa. Isso inclui desde uma bossa nova tardia como "Você Vai Ver" (1980) até a canção ecológica "Passarim" (1987), defendendo uma causa da qual Tom Jobim foi pioneiro. E ainda o irresistível samba "Piano na Mangueira"(1991), de Tom e Chico, que estava no último disco lançado em vida por Tom.