Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Márcio Greyck renova sonhos e volta à ativa

Márcio Greyck hoje e nos anos 1970, no auge do sucesso. Depois de um período de auto reclusão, o artista mineiro lança álbum de inéditas e livro com as memórias de sua infância até chegar ao Rio e ver sua carreira decolar | Foto: Divulgação

Quantos anos já vividos, revividos simplesmente por viver, alimentam as páginas de "O Menino Que Eu Fui" (editora 7 Autores), relato autobiográfico de um dos maiores galãs do cancioneiro romântico do Brasil dos anos 1970 e 80, o mineiro Márcio Greyck. Ele tem um hit novo no ar, embalando tímpanos no Youtube: "Eu Ainda Sou Um Sonhador". A faixa e o livro formam uma simbiose. Juntos, promovem uma evasão para um tempo em que o cantor de hinos do benquerer como "Infinito", "Aparências" (que passou cinco anos no topo da parada de rádios AM, a partir de 1981) e "O Mais Importante É O Verdadeiro Amor" era guri, da infância em BH à adolescência.

Compositor de pelo menos umas 150 canções de rasgar o peito da gente, o bardo, cujo nome no RG é Márcio Pereira Leite, lançou faz pouco um disco com 13 pérolas inéditas: "Envolver". Vai cantar algumas delas e muitas das gemas de seu baú de joias num show agendado para janeiro, em Fortaleza. Tem outro show para fazer em Ipatinga, ainda no primeiro trimestre de um 2025 que começa promissor para sua rotina de trabalho.

Visto no cinema em "Cine Holliúdy" (2013), Greyck começou a trabalhar com música aos 15 anos, tocando serenatas. Em 1967, pela Polydor, gravou seu primeiro compacto, com "Minha Menina" (uma versão em português do sucesso dos Beatles "Eleanor Rigby") e sua primeira composição, "Venha Sorrindo". Lançou mais três LPs, que venderam entre 40 mil e 50 mil cópias cada, e chegou a ter um programa de TV, "O mundo é dos jovens", na Tupi. Em 1970, assim que firmou contrato com a CBS, viu seu primeiro LP na gravadora vender 500 mil exemplares em menos de seis meses, ao som de "Impossível acreditar que perdi você".

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'Hoje, fazer sucesso é questão de empreendedorismo'

Márcio Greyck | Foto: Divulgação

Aquele Márcio Greyck de ontem, que compunha com o irmão, Cobel, segue no Greyck de hoje, ainda repleto de poesia, como ele explica no papo a seguir com o Correio da Manhã:

Que espaço existe para as canções de amor que fizeram sua fama?

Márcio Greyck: Eu completei 57 há 20 anos, portanto, sou de uma época em que se cultivava o romantismo, quando se fazia serenata. "Aparências" chegou a ser gravada pelo (arranjador) Ray Conniff, que era como os Beatles dos bailes. Atualmente, entretanto, o romantismo é execrado pela mídia em prol de músicas que estouram hoje e são esquecidas amanhã. Não existem mais melodias que o povo saia assobiando mesmo sem saber a letra, como se fazia no passado. Hoje mudou o paradigma. Antes, você gravava uma música e ia visitar emissoras, as rádios, para se promover. Hoje, fazer sucesso é questão de empreendedorismo.

Você ainda compõe?

Não com o entusiasmo que tinha aos 25 anos, aos 30, mas, sim, continuo fazendo as coisas no meu limite. O disco "Envolver", meu trabalho mais recente, traz 13 faixas inéditas e eu gravei tudo sozinho. Toco tudo. Tem também "Eu Ainda Sou Um Sonhador", que fiz para o livro, como trilha sonora da leitura.

Como tem sido a sua rotina de shows?

Eu me afastei por um tempo. Comprei uma casa em Belo Horizonte, onde vivo cercado de árvores e frutas, com um pequeno estúdio doméstico que é a minha Disneylândia, onde eu toco todos os instrumentos. Eu me isolei ali para me reestabelecer. Fui viver só, mas agora estou retornando. O livro me permitiu travar novos contatos e 2025 me promete uma série de turnês.

Que passagens de sua vida estão nas páginas de "O Menino Que Eu Fui"?

São minhas peripécias e minhas peraltices, de garoto até os 18 anos, quando fui para o Rio. Ao chegar, a história acaba, mas já estou escrevendo um outro, falando de outros momentos.

Quem é o Márcio Greyck que se reestabeleceu nesse período de isolamento?

Guimarães Rosa escreveu que Minas são muitas. Márcio Greyck também são muitos e eu gravei versões dele.

Qual foi o momento mais emocionante de sua carreira?

Um dia eu gravei um K-7 com uma canção que compus, "Vivendo Por Viver", e dei para (o maestro) Eduardo Lages para ver se ele fazia aquela fita chegar ao Roberto Carlos. Eu não sabia como chegar até ele. Um dia, Lages me disse: "Tenho uma boa notícia: o Roberto vai gravar". O sonho de todo compositor era ser gravado pelo Roberto.