Por: Aquiles Rique Reis*

Jericoacara, o festival dos festivais

O público acompanha as apresentações na praça da cidade | Foto: Aquiles Rique Reis


Eis que na primeira segunda-feira de dezembro, Nilza e eu estávamos num avião no prumo de Jericoacoara, no Ceará. Viajamos a convite de Antonio Ivan Capucho, idealizador e curador do Festival Choro Jazz. Já em sua 15ª edição, com patrocínio da Petrobras, o evento tornou-se itinerante, reunindo músicos de várias partes do Brasil e do mundo para participarem de shows e oficinas em Soure, na Ilha do Marajó (PA); no Crato, no Cariri; em Fortaleza, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura; e em Jeri.

Nossa segunda vez em Jeri: a primeira foi há exatos dez anos. À época, todos os músicos convidados descemos no aeroporto de Fortaleza, onde um ônibus nos aguardava para viajarmos até o município de Jijoca de Jericoacoara. Lá nos dividimos em caminhonetes 4x4, capazes de cruzar o Parque Nacional de Jeri. Anoitecia. Guiadas por conhecedores da região, as jardineiras subiam e desciam as dunas nos faziam sentir como aventureiros a sacolejar, sem entender direito como os motoristas se orientavam para cruzar o caminho, já que era tudo "apenas" areia no chão e estrelas no céu. Chegando em Jeri... vento, muito vento! Foi inevitável constatar: é aqui que o vento faz a curva.

Em 2024, pousamos direto no aeroporto de Cruz, município próximo de Jijoca, quando um carro 4x4 conduziu a gente e o violonista Lula Galvão por 35km, até a Vila de Jericoacoara. Chegamos!

A cada dia, de terça a domingo (de 3 a 8/12), foram três shows na praça. Durante o dia rolavam as oficinas para os jovens da comunidade e os que vieram de outras cidades, inclusive do exterior. Tudo grátis!

Todas as noites, sentávamos em frente ao palco na pracinha de Jeri. Logo na primeira, vieram ao palco o contrabaixista Jorge Helder e o violonista Lula Galvão, que tocaram de Villa-Lobos a Pixinguinha. Até que no domingo rolou a homenagem do festival a Lia de Itamaracá, que realizou um show que consagrou a ciranda, gênero tipicamente nordestino.

Na oficina de choro do violonista Maurício Carrilho, eu o ouvi dando dicas a Amélia, uma menininha clarinetista de Jijoca. Carrilho a instigava a tocar um choro do Jacob... sua lição de casa. Amélia deu o melhor de si. E dois dias depois, lá estava ela assistindo ao show de O Trio, grupo formado por seu professor Carrilho no violão de sete, Pedro Amorim no bandolim e Paulo Sérgio Santos no clarinete. Ao final, Amélia subiu num banco e aplaudiu de pé. Tive vontade de subir na cadeira e me juntar a ela... melhor não, pensei.

Sob às bençãos de Jeri, músicos curtiram os colegas que tocavam. A plateia os ouvia e todos se entreouviam, em irreprimível sintonia libertária e democrática. O Festival Choro Jazz concluia sua missão de levar cultura e música a todos.

PS. Saúdo os realizadores Antonio Ivan Capucho (idealizador e curador do Festival), Aline de Moraes (produtora da Iracema Cultural), Pedrinho Figueiredo (som), Pedro Altman (luz) e Dalwton Moura (assessor de imprensa).

*Vocalista do MPB4 e escritor