Paralaremixes do Sucesso

Marcelinho da Lua comanda álbum em que DJs fazem releituras de 10 hits do trio

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Marcelinho da Lua cita a influência dos Paralamas e do rock nacional em seu trabalho: 'Escolheram o cara certo'

Pouquíssimas bandas brasileiras têm uma obra capaz de atravessar com tanta naturalidade gerações e décadas. Desde o começo dos anos 1980, Os Paralamas do Sucesso vêm renovando seu público com talento, carisma e um repertório recheado de clássicos. E a partir de agora contam com um forte vetor aliado nesse movimento, um projeto ousado que expande e atualiza a força de suas canções: "Os Paralamas do Sucesso — 10 Remixes" reúne dez novas versões de sucessos do grupo, recriados por alguns dos mais influentes e inventivos produtores brasileiros, de gerações e perfis muito diversos.

O álbum foi coordenado por um dos mais talentosos desses produtores, a convite da própria banda: o DJ e produtor Marcelinho da Lua, que atuou com carinho de fã de longa data (e hoje amigo) dos Paralamas. "Minhas maiores influências como DJ são música brasileira, reggae, rock e música caribenha; acho que chamaram o cara certo (risos)", comenta Marcelinho.

Ainda na adolescência, ele vibrou com o lançamento de LPs clássicos como "Selvagem?" (1986) e "Bora-Bora" (1988). E a coleção de vinis que foi acumulando seguiu caminhos que de certa forma sintetizam as principais influências dos Paralamas. Além de, como DJ, abrir e fechar vários shows da banda, Marcelinho participou da gravação de "Ao Acaso" (do álbum "Hoje", de 2005). A faixa-título de seu primeiro álbum solo, "Tranqüilo!" (de 2003), conta com um feat. antológico do baixista Bi Ribeiro (junto com o rapper Black Alien), parceria vencedora que se repetiu em "Black Belt", do álbum "Insolente" (2019).

Convocado por Herbert Vianna, Bi Ribeiro, João Barone e José Fortes (empresário da banda e "quarto paralama") para o trabalho, ele teve a preocupação de escolher os produtores/remixadores cruzando diferentes gerações e conciliando sugestões da banda e da Universal Music Brasil. "Eles já tinham uma lista de caras que gostariam de ter por perto, mas trabalhei com liberdade para escolher outros remixers. Pude trazer um pouco do meu gosto e dar uma personalidade ao conjunto. Acho que fomos bem sucedidos em dar um equilíbrio entre mainstream e pessoas muito musicais da esfera do pop, que entenderam bem o lance dos Paralamas", comenta Marcelinho.

No balanço entre modernidade, brasilidade, disrupção e apelo pop, "Paralamas — 10 remixes" traz destaques como a brilhante versão "Lanterna dos Afogados" (Mahmundi remix), recriada pela produtora e cantora carioca Mahmundi. Como aponta Marcelinho, é um remix com uma característica raríssima: além de interferir eletronicamente com o bom gosto em timbres, que é marca de seu trabalho, a produtora também (e como!), soma-se à voz de Herbert Vianna, valorizando ainda mais a melodia.

Outra faixa que se impõe à primeira audição é "O Beco" (Tropkillaz remix), versão sonicamente lapidada a partir de ecos de tamborzão, com vocais em chicote percussivo e aquele grave profundo que estoura no peito do ouvinte. Internacionalmente consagrado, o Tropkillaz, duo formado pelo paulistano Zé Gonzales e o curitibano André Laudz, renova os acentos jamaicanos da música, sem tirar a ênfase nos sopros. Não por acaso, a nova versão clássica do álbum "Bora-Bora" foi escolhida como single. Mas foi uma decisão difícil, no photochart, porque tinha muita coisa boa na linha de chegada.

Nome legendário da música eletrônica, DJ Marky cria uma ponte dançante entre décadas ao acelerar o clássico "Ska" com as manhas únicas do drum'n'bass made in São Paulo. Em outra onda, mas na mesma ponte temporal, "Selvagem" viaja mais longe a partir das intervenções do sempre sagaz Daniel Ganjaman, mestre produtor do hip-hop nacional com doutorado informal em dub.

As concepções autorais e o dedo de Marcelinho da Lua aparecem em duas faixas que chamam a atenção. Ele se associa ao craque Pretinho da Serrinha para trazer novos encantos ao mega-hit "O Amor Não Sabe Esperar", com direito a cuíca na introdução e outras ideias que só valorizam a contribuição milionária da voz de Marisa Monte. Na clássica "Mensagem de Amor", Marcelinho trabalha com arsenal próprio e abre sua caixa de surpresas, conduzindo o ouvinte por inusitados climas cinemáticos. No caminho, sem perder a ternura jamais, expõe charmes que passavam meio batido na gravação original.

Seja aprofundando as referências ou abrindo novas vertentes, os remixes multiplicam as faces da música dos Paralamas. O carioca cada vez mais internacional Mulú (Antonio Antmaper) transforma positivamente a balada "Aonde Quer Que Eu Vá" conciliando disrupção com suavidade e dando novos sentidos à bela letra de Paulo Sérgio Valle (parceiro de Herbert na canção).

O mestre beatmaker carioca Papatinho, por sua vez, traz "Ela Disse Adeus" e seu irresistível apelo pop para a vibe das festas contemporâneas, numa faixa daquelas para dançar sem saber em que ano estamos. "Lourinha Bombril" mantém sua vocação original, filtrada pelo inquieto grupo baiano ÀTTOOXXÁ, que mixa referências da bass culture com o pagodão local contemporâneo.

O encerramento da viagem é em grande estilo, com mais surpresa: "Saber Amar" reaparece oxigenada pela visão sonora "afro mix" de Groove Delight, nome artístico da DJ paulistana Ké Fernandes, e traz novas e inesperadas recompensas para os fãs da música dos Paralamas.

Como ensina a letra de Herbert — "saber amar, saber deixar alguém te amar" —, "Paralamas — 10 Remixes" é um trabalho de amor pelo repertório — da parte de todos os produtores/remixadores envolvidos. "Estou muito feliz, muito realizado. Musicalmente e também pelo desafio de gestão, de coordenar todo esse pessoal talentoso, em poucos meses", resume Marcelinho da Lua.