Bogarins na síntese de uma sonoridade caseira
Conhecida na cena indie internacional, banda goiana opta por trilhar caminhos mais alternativos no álbum 'Bacuri'
Numa carreira de pouco mais de uma década, a banda goianiense Boogarins vem cavando um lugar de destaque na cena internacional de rock alternativo. São figuras conhecidas na Europa e nos Estados Unidos, que tocaram em festivais importantes como o Primavera Sound, em Barcelona, e South By Southwest, em Austin, e acabam de retornar ao Brasil depois de mais uma apresentação, a terceira, no cultuado festival Levitation, também em Austin.
Formado por Benke Ferraz (guitarra e voz), Dinho Almeida (guitarra e voz), Raphael Vaz (baixo, moog e voz) e Ynaiã Benthroldo (bateria e voz), o Boogarins acaba de lançar seu sétimo disco de estúdio, "Bacuri".
Para uma banda tão internacional, "Bacuri" representa uma espécie de retorno da banda ao Brasil e a uma filosofia mais "caseira". Produzido pela banda e pela engenheira de áudio Alejandra Luciani na casa em que ela, Raphael Vaz e Dinho Almeida moram no bairro da Barra Funda, em São Paulo, este é o primeiro disco inteiramente gravado de forma caseira desde a estreia da banda, com "As Plantas que Curam", de 2013.
"A gravadora OAR queria botar um produtor conhecido para fazer o disco com a gente", diz Benke. "Mas acabamos escolhendo fazer o disco com nossos próprios recursos, começando um novo capítulo na história da banda."
Antes de optar por produzir o próprio disco, o Boogarins conversou com vários candidatos ao cargo de produtor, incluindo nomes famosos como Adrian Quesada, do grupo Black Pumas, e Mario Caldato Jr., famoso por trabalhos com Beastie Boys, Bjork e Marcelo D2. "Foi maravilhoso trocar ideia com esses caras", diz o guitarrista Dinho Almeida. "Acabamos mandando músicas para o Adrian, visitamos o estúdio do Mario, e foram experiências incríveis."
Outros nomes cogitados foram Wayne Coyne, líder do grupo psicodélico Flaming Lips, e o megaprodutor Brian Eno, que assinou discos de U2, Coldplay, Talking Heads e Devo. "O papo com Brian Eno foi todo por e-mail", conta o baixista Raphael Vaz. "Mas aí escrevi que a gente poderia apresentar ele para um novo público no Brasil, acho que ele se irritou e não respondeu mais."
O trabalho em "Bacuri" foi lento e sem pressão. O fato de estarem literalmente em casa, e não em um estúdio com horários limitados, possibilitou à banda experimentar com timbres e sons diferentes. "Bacuri" traz a bonita mistura de psicodelia sessentista e sons brasileiros que sempre marcou a música do Boogarins, uma banda que se sente tão à vontade dividindo palcos com bandas lisérgicas e pesadas como The Black Angels quanto fazendo shows com repertório do Clube da Esquina.
Uma das faixas mais curiosas é "Só Deus Sabe", um folk-rock que a banda queria oferecer para a dupla Chrystian e Ralf, conta Benke. "A gente não curte essa massificação do sertanejo, mesmo sendo de Goiás, mas gostamos de Chrystian e Ralf desde crianças. Lembro a minha mãe ouvindo discos deles e contando histórias, de como eram dois irmãos que cantavam muito bem, eram considerados a dupla mais afinada do sertanejo."
A morte de Chrystian, em junho de 2024, acabou com os planos, mas o Boogarins homenageou a dupla colocando o nome dos irmãos no título da canção - "Chrystian e Ralf (Só Deus Sabe)".
Com "Bacuri", o Boogarins espera ter chegado até a síntese da sonoridade que vinham elaborando desde sua estreia. "Uma mistura de nossas influências com muita coisa brasileira que nos marcaram. O disco mostra essa maturidade", diz Dinho.
Ele cita outras bandas nacionais, a paraibana Papangu e a paulista Bike, que misturam música brasileira a gêneros como o black metal, vertente mais pesada do heavy metal, e rock psicodélico. "Existem várias bandas brasileiras fazendo um som muito maduro e pessoal. Isso tem a ver com a vivência, com conhecer mais música e ter outras influências. A gente quer fazer a coisa do nosso jeito, fazer o nosso trem."