Unidos de Padre Miguel: com a benção de Iya Nassô
Escola conta a saga da sacerdotisa que fundou no século XIX o Terreiro da Casa Branca em Salvador

A Unidos de Padre Miguel, uma das escolas de samba mais tradicionais da Zona Oeste, faz seu retorno ao Grupo Especial do Carnaval com um enredo que promete emocionar e enaltecer a cultura afro-brasileira. Sob o tema "Egbé Iya Nassô - A Saga de uma Mãe de Santo e a Fundação do Terreiro da Casa Branca", a escola vermelha e branco mergulha na história de Iyá Nassô, uma das figuras mais importantes do candomblé no Brasil, e na fundação do Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, o mais antigo terreiro de candomblé em atividade no país. O samba de
Sacerdotisa iorubá que chegou ao Brasil como escravizada, Iyá Nassô se tornou uma das líderes religiosas mais influentes do século XIX. Junto com outras mulheres negras, ela fundou o Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, em Salvador, Bahia, um espaço de resistência espiritual e cultural que se mantém vivo até os dias atuais.
Desenvolvido pelos carnavalescos Lucas Milato, já conhecido pelo trabalho na agremiação, e Alexandre Louzada, que chega à escola para este desfile, o enredo celebra a força, a sabedoria e a espiritualidade de Iyá Nassô, destacando sua importância na preservação das tradições africanas e na formação da identidade afro-brasileira. A narrativa também aborda a luta contra a intolerância religiosa e a importância dos terreiros como espaços de acolhimento e resistência.
O abre-alas da escola representando a travessia de Iyá Nassô e outros africanos escravizados para o Brasil. Esculturas de navios negreiros, correntes quebradas e símbolos religiosos do candomblé ganharão vida em meio a efeitos visuais que remetem à dor, à fé e à esperança. A comissão de frente trará uma dança inspirada nos rituais de candomblé, com movimentos que simbolizam a conexão entre o sagrado e o terreno.
ENREDO: "Egbé Iya Nassô - A Saga de uma Mãe de Santo e a Fundação do Terreiro da Casa Branca"
Eiêô! Kaô kabesilê babá obá!
Couraça de fogo no orô do velho Ajapá
a raça do povo do Alafin, e arde em mim..
Rubro ventre de Oyó
Na escuridão, nunca andarei só
Vovó dizia: "Sangue de preto é mais forte que a travessia!"
Saudade, que invade! Foi maré em tempestade
Sopra a ancestralidade no mar (ê rainha)
Preceito é herança sem martírio
Airá guarda seus filhos no ilê da Barroquinha
É a semente que a fé germinou, Iyá Adetá
O fruto que o axé cultivou, Iyá Akalá
Yiá nassô, ê babá Assika
Yiá nassô, ê babá Assika
Vou voltar mainha, eu vou
Vou voltar mainha, chore não
Que lá na Bahia
Xangô fez revolução
Oxê… a defesa da alma na palma da mão
No clã de Obatossi, há bravura de Oxossi no meu panteão
é d’Oxum o acalanto que guarda o otá
Do velho engenho, xirê que mantenho no meu caminhar
Toca o adarrum que meu orixá responde
Olorum, guia o boi vermelho seja onde for
Gira saia Aiabá, traz as águas de Oxalá
Justiça de Agodô, tambor guerreiro firma o alujá
No egbé Vila Vintém, dagô Xangô!
Amor que vai além, legado de família
Exemplo de luta sem medo
Voz feminina do gueto
Samba-enredo de mãe pra filha
Autores: Thiago Vaz, W. Corrêa, Richard Valença, Diego Nicolau, Orlando Ambrósio, Renan Diniz, Miguel Dibo, Cabeça Do Ajax, Chacal do Sax, Julio Alves, Igor Federal, Caio Alves, Camila Myngal, Marquinhos, Faustino Maykon e Claudio Russo