O Lollapalooza 2025 começou nesta sexta-feira em um dia marcado por um raríssimo público adolescente marcando presença em massa junto aos pais para verem a ícone teen Olivia Rodrigo. Também foi nítida a presença do público fanático por Jão, o grande nome do pop romântico nacional, que marcou para o Lolla 2025 sua despedida dos palcos antes de uma pausa na carreira.
Mas o público ‘tradicional’ do festival, que nasceu para misturar tribos e unir o mundo por meio dos mais diferentes estilos musicais, também compareceu em peso, não apenas para ver Olivia, mas também por nomes indie, como Empire Of The Sun, Girl In Red, Dead Fish e Jovem Dionísio.
Ainda assim, esse primeiro dia deixou uma má impressão por conta da chuva. Não que fosse novidade, principalmente para os paulistanos, que choveria em Interlagos no fim de março. A queda do temporal era mais certa que o pessoal do Jovem Dionísio tocar ‘Acorda Pedrinho’. O que decepcionou mesmo foram as ações tomadas pela equipe durante o temporal.
Diante da possibilidade de queda de raios, os shows foram interrompidos para evitar acidentes envolvendo a parte elétrica, como aconteceu no ‘I Wanna Be Tour’ 2024, no Rio de Janeiro, que terminou com a morte de um jovem. No entanto, nesse período de pausa dos shows, os estandes foram fechados, deixando milhares de pessoas sem terem o que fazer ou onde buscarem abrigo. O resultado foi um caos de gente tentando se abrigar nos banheiros, dificultando o acesso de quem realmente precisava utilizar os sanitários.
“Quando começou a chover, eles pararam o show, obviamente, por conta dos aparelhos metálicos no palco e separando a plateia. Só que eles também fecharam os estandes, que tinham estruturas para proteger da chuva. Qual o sentido? Até pelo apelo comercial mesmo. Não tinha show para assistir. Era nessa hora que as pessoas iam comprar as coisas, mas estava tudo fechado”, disse a publicitária Rafaela Ciboto, de 22 anos.
Um dos shows interrompidos pela chuva foi o de Girl In Red. Durante o momento de dispersar o público, houve relatos de despreparo do time responsável, que teria agido de forma mais truculenta para acelerar a saída do público, gerando o famoso ‘empurra’, o que resultou numa porção de escorregões. E como havia muitas crianças e adolescentes, a impressão não foi positiva.
Outro ponto negativo foi a hora da saída. Com o famoso lamaçal de Interlagos, que vitima centenas de tênis seja no Lolla ou no GP de Fórmula 1, houve uma série de desencontros que complicou a saída do público. A falta de sinalização ao fim do dia foi um grande problema, principalmente porque as filas para o metrô começaram a se formar com grande distância, não havendo divulgação sobre qual fila era a de quem tinha passagens ‘normais’ e qual era destinada para quem havia pago a mais pelos bilhetes expressos. Isso rendeu muvuca nas catracas e muitas pessoas furando fila, muito por conta também da falta de segurança acompanhando todo o trajeto até o metrô. O policiamento se restringiu a pontos próximos aos portões.
Isso contrastou bastante com o início do dia. A ida foi surpreendentemente bem-sinalizada, tanto para quem ia de carro como para quem ia de transporte coletivo. Havia placas a todo o momento indicando o caminho. Ao redor do evento, as entradas para o público-geral foram muito bem indicadas, permitindo um acesso tranquilo. Lá dentro, as compras poderiam ser feitas por meio de um cartão que poderia ser adquirido e recarregado no próprio festival, o que evitou o aumento de filas por conta da espera do carregamento do Pix.
Quanto aos shows, o grande nome da noite foi mesmo Olivia Rodrigo. Subir em um palco para cantar – sem playback ou apoio vocal eletrônico – para um público de mais de 100 mil pessoas, no auge de seus 22 anos de idade, não é para qualquer um.
A diva pop, que explodiu durante a pandemia, transformou o Autódromo de Interlagos em um karaokê, misturando suas músicas ‘para fãs’ com os hits poderosíssimos que embalaram as rádios e plataformas de streaming nos últimos cinco anos. E a troca dela com o público não deixou dúvidas: ela veio para ficar. E mesmo com um show espetacular, ficou aquela sensação de que ela passaria tranquilamente mais duas horas cantando, pulando e dançando no palco.
“Eu gostei muito do Jão, mas eu já tinha ido a outros shows da turnê, então o show da Olivia Rodrigo foi o melhor da noite. A diva arrasa. Eu não achava que era tinha essa presença tão ‘rock star’, ela é incrível! Foi uma experiência surreal!”, explicou Rafaela Ciboto.
O brasileiro Jão foi outro que fez valer sua fama. O paulista está tão poderoso no cenário pop nacional que pode se dar ao luxo de dizer que levou um público gigantesco ao Lollapalooza exclusivamente para vê-lo. E nem mesmo o atraso causado pela chuva foi capaz de desanimar seus fãs, que entoaram a plenos pulmões seus hits e músicas mais intimistas.
No palco, Jão deu mais um grande espetáculo muito bem-produzido. Sabendo que seria seu show de despedida antes do hiato na carreira, ele deu ainda mais de si para entregar uma experiência memorável.
Aos 19 anos, Sophia Oliveira, estudante de publicidade, foi uma das fãs que compareceu ao Lolla exclusivamente para acompanhar a ‘despedida’ do cantor.
“Esse foi meu primeiro Lollapalooza, eu só tinha vindo no The Town. Meu show favorito da noite foi o do Jão. Ele sempre entrega [um bom show], né? E foi o último show da turnê, então foi memorável para quem é fã. Eu vou levar para sempre no meu coração”, disse.
Ela também elogiou bastante a disposição dos palcos do Lollapalooza, que permitiam uma melhor visualização dos artistas sem comprometer o fluxo das pessoas para as lojas e banheiros.
Outro destaque que roubou a cena foi o show do ‘Empire Of The Sun’. O grupo australiano parecia não ser tão conhecido quanto os outros grandes nomes da noite, mas logo que começaram a tocar seus hits, o público-geral embalou e entrou na vibe de canções, criando uma experiencia sensorial espetacular em meio aos sintetizadores e uma psicodelia apaixonante. O ponto alto foi quando tocaram ‘Alive’, que embalou o videogame FIFA 14 e virou trend nas redes sociais recentemente, unindo públicos completamente distintos em um clima sensacional de paz e alegria.
Dentre altos e baixos, o primeiro dia do Lollapalooza teve um saldo positivo, principalmente pelo line-up arrojado que escolheram para a edição, criando uma boa narrativa musical para o dia. Na questão da organização, esse primeiro dia deixou a desejar principalmente por conta de problemas que já foram vividos em outras edições, então não eram novidade. Mas basta esses pequenos ajustes para deixar a experiência ainda melhor, porque os próximos dois dias prometem nomes tão espetaculares quanto para encantar o público.
*Com supervisão de Pedro Sobreiro