Gravado ao longo de 2024, com a artesania que caracteriza a trajetória de Francis Hime, o álbum é fruto de encontros e colaborações. Muitas das canções nasceram de melodias enviadas por parceiros — uma forma de composição que Francis experimentou com entusiasmo. "A partir da ideia inicial do meu parceiro compositor, eu segui compondo a sequência. Foi assim com Ivan Lins em 'Imaginada'; com Maurício Carrilho em 'Não Navego Pra Chegar', e com Zé Renato em 'Imensidão'", conta o músico.
As letras dessas faixas, assim como de outras do disco, são assinadas por Olivia Hime, cuja presença se estende também aos vocais. "Esse título fala muito sobre o jeitinho do Francis de estar na vida e na música", conta a parceira de música e de vida. "É bonito vê-lo, como quem não quer nada, preparar um disco de inéditas, compor um concerto, caminhar pela vida como quem não se preocupa com o tempo", elogia.
No repertório, há parcerias que aguardavam há décadas por uma gravação. "Infinita", feita com Ziraldo para uma peça teatral nunca encenada, ganha aqui sua primeira versão, na voz de Olivia. Já "Tempo Breve", composta com Bráulio Pedroso, encontrou em Zélia Duncan a intérprete ideal. "Foi só nós dois, ao vivo, no estúdio. Ele me ensinava as notas com paciência e vigor. Aquela noite foi uma das mais especiais da minha vida", diz a cantora.
Com Simone, Francis divide "Samba pra Martinho", homenagem a Martinho da Vila escrita com Geraldo Carneiro. "Quando ouvi a música, visualizei uma avenida. O samba-enredo, a vida do Martinho, a melodia do Francis... está tudo arraigado na gente", comenta a Cigarra.
Outras participações se destacam pela entrega vocal e sensibilidade dos arranjos. Mônica Salmaso transforma a faixa-título num choro-canção, em interpretação guiada pelo cuidado e pelo tempo da música. "Essa parceria de craques diz muito sobre quem eu sou e como vivo meu trabalho. Todos celebramos juntos a felicidade que é a música brasileira", diz ela.
Leila Pinheiro encara uma das composições mais exigentes do disco, "Tomara que Caia, uma salsa escrita por Francis e Moraes Moreira, que nos deixou em 2020. "Até a hora de gravar, eu duvidava, de verdade, que daria conta. Mas deu certo, e até pareceu fácil. Que loucura!", comenta. Para ela, a canção funciona como "um susto feliz dentro de um álbum de canções densas e líricas".
Lenine canta o baião "Chula Chula", parceria de Francis com Geraldo Carneiro. "O Francis me deu, já há alguns anos, uma cadeira cativa nos discos dele. Participo sempre com muito amor e orgulho. Gravar essa canção foi maravilhoso, como sempre", destaca.
A lista de duetos inclui ainda Dori Caymmi, em "Um Rio", e Zé Renato, em "Sinfonia do Rio". Zé também assina a melodia de "Imensidão". "Ter uma canção em parceria com o Francis é quase como realizar um sonho. Desde que comecei a fazer música, as melodias dele me guiaram — e continuam guiando", diz Zé.
Completam o repertório "Shakespeareana" (com Geraldo Carneiro), que traz Francis nos vocais acompanhado pelo Quarteto Maogani, e uma constelação de músicos que reforça a delicadeza do projeto: Paulo Aragão (violão), Jorge Helder (contrabaixo), Diego Zangado (percussão), Ricardo Silveira (guitarra), Luciana Rabello (cavaquinho), Maurício Carrilho (violão), Kiko Horta (piano), Marcus Thadeu (bateria e percussão), Aquiles Moares (flugelhorn), Dirceu Leite (flauta e sax), Hugo Pilger (violoncelo) e Cristiano Alves (clarinete).
"Não Navego Pra Chegar", já diz o próprio nome é disco de travessia, feito com aquele esmero que pde tempo, escuta e afeto. Como diz Olivia, as gravações aconteceram com leveza e alegria. "O Francis atrai esse clima de paz", acredita.