Por:

Risos à flor da pele em comédia que aborda o TOC

'TOC TOC', de Laurent Baffie, apresenta cinco personagens com diferentes tipos de TOC que buscam se ajudar quando o médico não aparece | Foto: Divulgação

A comédia "TOC TOC", escrita pelo dramaturgo francês Laurent Baffie, retorna aos palcos brasileiros em nova montagem e segue em cartaz no Teatro dos 4, na Gávea. Sucesso de público desde sua estreia na França, em 2005, a peça foi traduzida para diversos idiomas e montada em dezenas de países. No Brasil, já ultrapassou a marca de um milhão de espectadores.

O enredo parte de uma premissa simples, mas rica em possibilidades cênicas: seis pessoas com diferentes tipos de Transtorno Obsessivo-Compulsivo, o popular TOC, aguardam atendimento em um consultório, mas o médico não aparece.

Enquanto esperam, Branca, Maria, Lili, Bob, Vicente e Fred revelam ao público suas obsessões, medos e manias, transformando a sala de espera num espaço de convivência forçada, repleto de situações cômicas e momentos de vulnerabilidade. As relações que se estabelecem entre eles oscilam entre o confronto e a cumplicidade. Sem um profissional à frente, eles decidem conduzir, por conta própria, uma espécie de sessão terapêutica improvisada. O resultado é uma sequência de cenas que equilibram o riso fácil com a delicadeza do olhar sobre o outro.

Branca, interpretada por Letícia Lima, tem horror à sujeira. Maria, vivida por Claudia Ohana, é uma religiosa dominada pela culpa de ter deixado portas e janelas abertas. Lili, papel de Sara Freitas, se repete compulsivamente. Bob, personagem de Miguel Menezes, busca simetria em tudo. Vicente, vivido por André Gonçalves, não consegue parar de fazer cálculos. Já Fred, interpretado por Daniel Dantas, convive com uma síndrome que o faz disparar palavrões incontroláveis. Jade Mascarenhas completa o elenco como a assistente do médico, figura que, apesar de periférica, contribui para a construção do humor e da tensão contidos na trama.

O texto de Laurent Baffie — também conhecido por seu trabalho como roteirista e comediante, sempre atento às falhas de etiqueta da sociedade — é uma crítica bem-humorada às tentativas de enquadramento do comportamento humano. Ao lançar luz sobre os limites entre o excêntrico e o patológico, ele convida o espectador a reconhecer, com graça e desconforto, pequenas obsessões presentes no cotidiano de todos nós.

A direção é de Fernando Philbert, que conduz a encenação com leveza e precisão, apostando na escuta entre os atores e em um humor que nasce do estranhamento. A tradução e adaptação brasileira são assinadas por Gabriela Giffoni. O cenário de Aurora dos Campos reproduz a frieza de uma sala de espera clínica, contrastando com a crescente intensidade das relações em cena. O desenho de luz de Paulo César Medeiros reforça os climas de isolamento e aproximação que se alternam ao longo do espetáculo.

Com ritmo afiado e atuações cuidadosas, a montagem brasileira preserva o espírito original da obra, mas atualiza a atmosfera com gestos e expressões que aproximam os personagens do público local. O mérito do elenco está justamente na maneira como transforma caricaturas em figuras comoventes, sem perder o tempo cômico. O riso, aqui, não surge da zombaria, mas da empatia — da identificação com o que há de absurdo, desajeitado ou frágil em cada um.

"TOC TOC" é uma comédia construída sobre o inesperado. Faz rir sem esforço e pensar sem didatismo. Em tempos de individualismo, propõe escuta. Em tempos de urgência, propõe pausa. E ao tratar do TOC com respeito, leveza e inteligência, reafirma o teatro como lugar de encontro — entre manias e afetos.

SERVIÇO

TOC TOC

Teatro dos 4 (Shopping da Gávea - Rua Marquês de São Vicente, 52)

Até j30/6, às sextas (20h), sábados (18h e 20h) e domingos (18h)

Ingressos: R$ 140 e R$ 70 (meia)