Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

De volta à Era Hiboriana

Criado por Robert E. Howard em 1929, o rei Kull é uma espécie de antepassado de Conan, o guerreiro cimério. Uma leva de títulos dos dois personagens chega às bancas e livrarias | Foto: Divulgação

 

Pouco antes de criar Conan, o cimério imortalizado por Arnold Schwarzenegger no cinema, o escritor Robert Erwin Howard (1906-1936) deu vida a uma espécie de ancestral do bárbaro mais famoso da cultural pop: Kull, o Conquistador, herói de uma Atlântida sem ciência, mas cheio de magia, que viria a se coroar senhor do reino da Valúsia.

Esse personagem, que virou filme nos anos 1990, encarnado por Kevin Sorbo, nasceu em agosto de 1929, na revista "Weird Tales". Hoje, 94 anos depois de seu surgimento na literatura pulp, o herói espadachim renasce no mercado editorial brasileiro num bonde que ajuda a jogar nova luz sobre seu "descendente" de aço em punho, Conan.

A Panini Comics acaba de lançar aqui um tijolaço de 952 páginas com Kull a decepar cabeças. É caro. Custa R$ 389,90. Mas vale cada moedinha. De quebra, a Skripta lança aqui o livro ilustrado "Rei Kull - Da Atlântida ao Reino das Sombras" com arte de J. L. Padilha. Porém, quem é conamaníaco vai ficar feliz mesmo com outro mimo da Panini: a edição em HQ da versão quadrinizado dos longas com Schwarzenegger de 1982 e 1984.

Sucesso de bilheteria, com US$ 79 milhões de arrecadação, o primeiro filme foi rodado por John Milius, que escreveu o roteiro em duo com Oliver Stone, um dos papas do cinema político dos EUA, oscarizado por "Platton" e "Nascido em 4 de Julho". O segundo foi rodado por Richard Fleischer (1916-2006) e faturou cerca de US$ 30 milhões. A edição luxuosa chamada "Conan, o Bárbaro - A Espada Selvagem em Cores", da Panini, traz uma compilação de ambos os longas com desenhos de John Buscema (1927-2002). Quem escreve é Michael Fleischer (1942-2018).

É um lançamento que ainda se aproveita das comemorações dos 90 anos de Conan. Em 2022, houve uma corrida nos leilões de bibliófilos do mundo todo em busca de um exemplar raro do exemplar do Natal de 1932 da já citada "Weird Tales", onde ele fez sua primeira aparição, no conto "The Phoenix on the Sword". Há lances de até US$ 3,7 mil por esse almanaque.

Pelo Brasil, no Rio, veteranos quadrinhófilos cariocas se estapeiam pelos exemplares mais recentes da republicação de "A Espada Selvagem de Conan", guardando ainda um troco para os sazonais álbuns encadernados da Panini com as peripécias do guerreiro de bronze, criadas nos EUA pela Marvel. Mas, há algo de mais saboroso ainda envolvendo o legado do espadachim: uma nova linhagem de aventuras do herói, egressas da França, começam a mobilizar as livrarias e gibterias de todo o país. A editora Pipoca & Nanquim anda desafiando a concorrência ao publicar por aqui, com elegância ímpar a coleção de quadrinhos franceses "Conan, o Cimério", editada no Velho Mundo pela Glénat, e traduzida aqui oferecendo quatro histórias por edição.

Trata-se de uma BD, ou banda desenhada. É esse o nome que se usa no continente europeu para definir álbuns gráficos em quadrinhos, de luxo, em capa dura, que optam por narrativas de gênero (fantasia, sci-fi, faroeste) mas trilham caminhos que fogem do maniqueísmo. Como o filão capa & espada é uma sensação de vendas nas BDterias, Conan acabou por inspirar uma seleção de narrativas inéditas.

Grifes autorais como Jean-David Morvan, Pierre Alary e o artista espanhol Sedyas pilotava o primeiro número de "Conan, o Cimério", já lançado aqui, com direito à saga "A Rainha da Costa Negra". Saca só o mimo que é: um encadernado no formato 23 x 31 cm, com capa dura, oferecendo 252 páginas coloridas e mais uma galeria de extras com textos, ilustrações e esboços sobre a criação da série. É uma ode editorial ao gênero chamado Espada & Feitiçaria.

Supervisionadas pela direção da Glénat, essas missões de Conan apresentam releituras dos contos "Weird Tales". Cada volume francês é produzido por uma equipe criativa diferente, que, em sua totalidade, compreende os artistas mais talentosos de sua geração, portanto esta é a oportunidade perfeita para mergulhar no rico universo da Era Hiboriana (nome dado ao período histórico fictício do bárbaro) pela primeira vez ou para revisitá-lo sob novos olhares.

A segunda edição definitiva da Pipoca & Nanquim reúne mais quatro volumes publicados na França. Tem "A Cidadela Escarlate", de Luc Brunschwig e Etienne Le Roux, que mostra o rei Conan sendo traído por nobres da corte e destituído do trono da Aquilônia. Tem também "Sombras de Ferro ao Luar", de Virginie Augustin, em que o cimério e a princesa Olívia enfrentam uma ameaça sobrenatural em uma ilha distante. Já a feroz "Pregos Vermelhos", de Régis Hautière, Olivier Vatine e Didier Cassegrain, mostra o primeiro e único encontro entre Conan e a pirata Valéria, como foi escrito por Howard. Por fim, rola "As Negras Noites de Zamboula", de Gess, onde o cimério é envolvido em uma sórdida trama de feitiçaria, que pode significar seu fim.

Paralelamente ao material da Pipoca & Nanquim, a editora Mythos vem fazendo também um trabalho impecável com Conan, ao lançar os encadernados "Omnibus", uma pataca com sagas assinadas por Timothy Truman e Tomás Giorello, incluindo tramas do mestre do horror Richard Corben.

 

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