Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Dólar nada furado

Mágico Vento é um ex-militar salvo de um desastre ferroviário pelos índios, que se torna protetor das tribos do Oeste | Foto: Divulgação

Lar brasileiro do ranger Tex Willer e do herói da floresta Zagor, a Mythos Editora recheou seu site oficial - e sua loja na Rua Augusta, em São Paulo - de títulos de um bamba do faroeste cuja luta contra a intolerância deu um novo contexto para a representação das causas indígenas nos quadrinhos: Mágico Vento.

"O Manicômio" e "O Colecionador" são os títulos de maior relevo na recente leva de gibis do personagem que podem ser encomendados online por meio da URL https://www.lojamythos.com.br/. É gibi que vem da Itália.

Sob constante patrulha da correção política, o faroeste sobrevive no audiovisual do empenho de cineastas autorais, como Quentin Tarantino (com "Django livre" e "Os Oito Odiados"), Pedro Almodóvar (e seu "Estranha Forma de Vida") e do recente "Assassinos da Lua das Flores", de Martin Scorsese.

Mas nos quadrinhos europeus, o gênero, importado dos grandes clássicos de John Ford e Howard Hawks, continua sendo um dos mais rentáveis veios de dramaturgia, graças a heróis como Mágico Vento. Criado na Itália, em junho de 1997, para a Sergio Bonelli Editore, a maior indústria de fumetti (HQs) de seu país e uma das maiores do mundo, o galante pistoleiro de trajes e vocabulário indígenas virou um ícone internacional do intercâmbio cultural e da defesa da Natureza.

Seu nome de berço era Ned Ellis: usava farda, matava em nome do Exército e mal tinha tempo de contemplar a beleza das pradarias que sujava de sangue até sofrer um acidente ferroviário, do qual foi salvo por um sábio do povo sioux. Entre xamãs, Ellis deu lugar aos ditames do Capital e aprendeu a escutar as matas, os rios e as visões que adquiriu em um poder de clarividência, além de ter ampliado sua rapidez no gatilho e na luta com facões.

Especialista nas reflexões sociais e política de Jean-Jacques Rousseau e sua metáfora do Bom Selvagem (a pureza que transcende as castrações do processo civilizatório), Gianfranco Manfredi, escritor responsável pela criação desse vigilante politicamente correto, concebeu seu olhar sobre o Oeste celebrando as tradições indígenas. É o que se vê nas tensas aventuras narradas nas HQs da Mythos. Um de seus mais inspirados álbuns, "Faca Comprida", pode ser encontrado no site da editora. Com traço de Giuseppe Barbati e Bruno Ramella, a trama do gibi originalmente intitulado "Lungo Coltelo", traduzida por Julio Schneider, põe Mágico Vento no rastro de caçadores de escalpos ligados à morte de seu guru, Cavalo Manco. A história é narrada com chumbo quente mas com pitadas de humor na figura do parceiro habitual do herói, o jornalista alcoólatra Willy Richards, um sósia de Edgar Allan Poe (1809-1849), autor de "O corvo".

Autor regular da revista "Tex", Mafredi, nascido em Senigallia, no leste da Itália, há 70 anos, é um compositor e ator que vive de quadrinhos desde 1991, quando estreou nas páginas de "Gordon Link". "Magico Vento começou como uma mistura de gêneros e de universos literários, combinando o mundo cheio de fronteiras culturais Fenimore Cooper, em "O último dos moicanos", com o ambiente gótico de Edgar Allan Poe… como se fosse um faroeste sobrenatural, um western de horror. Durante o desenvolvimento de sua série em quadrinhos mensais, de 1997 a 2010, os temas étnicos e históricos foram ganhando mais evidência", disse o autor, hoje com 75 anos, em recente entrevista ao Correio da Manhã. "O investimento em fatos históricos deu a Mágico Vento uma linha específica entre a magia e o realismo".

 

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