Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

BDmania

Révolution | Foto: Fotos/Divulgação

Centrado nos ideias humanistas de 1789 na França, "Égalite" é o nome do segundo tomo da saga "Révolution", da dupla Florent Grouazel e Younn Locard, um dos quadrinhos de maior procura nas livrarias europeias este mês, revivendo em ilustrações deslumbrantes uma era de transcendência política sob o fio da guilhotina. Premiada no Festival de Angôuleme, espécie de Cannes dos gibis, a trilogia acerca dos feitos de Robespierre, Danton e Marat é um dos álbuns que têm mobilizado quadrinhófilos cujo alvo são as BDs. Banda Desenhada é o nome que se usa no Velho Mundo pra definir álbuns gráficos em quadrinhos, de luxo, em capa dura, que optam por narrativas de gênero (fantasia, sci-fi, faroeste) ou por aulas de História (cheias de poesia) mas trilham caminhos que fogem do maniqueísmo. Nos EUA, quem dá as cartas nesse mercado é a Marvel e a DC. Mas, na França, quem gira a roda são tramas adultas, calcadas em temas políticos, que dissecam mitos e biografam artistas. Eis as BDs mais procuradas.

UNDERTAKER: Leitores franceses hoje se rasgam pelo nº 7 dessa série de faroeste, repleta de adrenalina, escrita por Xavier Dorison e desenhada por Ralph Meyer. Os dois narram os mil perigos que cercam Jonas Crow, um ex-soldado da Guerra de Secessão que troca a farda pelo uniforma de agente funerário itinerante. Cada caixão seu é repleto de pólvora.

LES FILLES DES MARINS PERDUS: Escrito por Teresa Radice e desenhado por Stefano Turconi, sob as rédeas da editora Glénat, este magistral painel de época assume como protagonistas as prostitutas do Pilar, um bordel para marinheiros em Plymouth. Mulheres empoderadas dão um nó no desejo alheio enquanto nos contam a história de um amante nada exemplar.

LADIES WITH GUNS: Amparada pelo espírito da equidade de gêneros e da luta antissexista, Anlor, pseudônimo da desenhista Anne-Laure Bizot, cria em parceria com o roteirista Bocquet Olivier um faroeste regado a feminismo, em que cinco mulheres de origens distintas vão lutar contra as intempéries do Oeste Selvagem. É a Ed. Dargaud que publica lá fora.

GINETTE KOLINKA - RÉCIT D'UNE RESCAPÉE D'AUSCHWITZ-BIRKENAU: Aos 97 anos, uma das mais famosas sobreviventes dos expurgos nazistas de judeus em campos de concentração tem sua história passada em revista, em forma de HQ (ou melhor, BD), no traço finíssimo de Aurore D'Hondt. Numa mirada memorialista, ela encara os horrores do Holocausto.

ARCA: Linkado à tradição da sci-fi francesa - que deu ao cinema cults como "O Quinto Elemento" -, o roteiro de Romain Benassaya é uma aula de tensão, galvanizada pela arte de Joan Urgell. Na trama, o astronauta Eric Rives acorda de uma longa viagem em uma nave espacial que deveria levá-lo e aos outros passageiros para a Garra do Leão - a terra prometida onde esperam encontrar melhores condições de vida do que na órbita da Terra, combalida em seus recursos naturais. Mas a tripulação logo percebe que não chegou ao seu destino.

INDIANS!: A partir de um projeto de revisionismo histórico de Tiburce Oger, iniciado em 2021, esta série da editora Grand Angle reconstitui a luta pela sobrevivência de populações indígenas americanas entre 1540 e o início do século XX. Um episódio em 1823 é um dos ápices de ação da saga, desenhada por uma tropa de ilustradores, como os célebres Boucq e Blanc-Dumont.

MEXICANA: Digna de um bom filme dos irmãos Coen, à la "Onde os Fracos Não Têm Vez", esta coletânea policial é assinada pelo roteirista do momento na França, Alexis "Matz" Nolent, em duo com Steven "Mars" Marten. Seu protagonista é Emmet Gardner, um guarda de fronteira que trabalha ao largo do Rio Grande, nos EUA, e vê sua vida desmoronar ao descobrir a conexão de seu próprio filho, Kyle, com um cartel local. Pra livrar o rapaz do submundo, Emmet assume a tarefa de matar um criminoso, mas acaba alvejando alguém com quem não deveria mexer.