Balõezinhos que não caem
Mercado se aquece com novos lançamentos de grifes autorais e revisões de personagens clássicos
O papel tá caro, muita gente tá lendo em Kindles e aplicativos de celular e várias bancas viraram lojas de guloseimas. Porém, os quadrinhos ainda resistem e ainda revivam grifes de autor. Confira algumas apostas que andam arrebatando o público leitor:
PINGUIM: Coletânea com roteiros de Tom King e desenhos de Rafael de Latorre. Criado em dezembro de 1941 e reinventado por Colin Farrell para uma série do MAX, o ás do guarda-chuva estrela um gibi só dele, lançado aqui pela Panini Comics, no qual finge a própria morte e se refugia em Metrópolis, a terra do Homem de Aço. Lá, ele não conta com seu império criminoso, mas segue fiel a seus instintos mortais.
SESSENTA PRIMAVERAS NO INVERNO: A obra-prima das quadrinistas Aimée de Jongh e Ingrid Chabbert. Cabem à editora Nemo todos os louros da inclusão e da excelência por trazer ao Brasil a HQ do ano. Encarada hoje como a quadrinista mais inquietante de nosso tempo, a autora holandesa responsável por cults como "Táxi!" une seu talento ao da roteirista francesa Ingrid Chabbert para falar de amor numa fase outonal da vida. No dia em que completa 60 anos, Josy, a protagonista desta joia, recusa-se a assoprar as velas do bolo de aniversário. Ela já está de malas prontas. Havia tomado uma decisão: iria deixar o marido e a casa para recuperar a sua liberdade, ganhando a estrada com a velha Kombi. No caminho, uma paixão inesperada, em todos os sentidos, vai mudar suas perspectivas acerca do futuro.
INCAL - KILL CARA-DE-CÃO: Concebida pelo cineasta e tarólogo franco-chileno Alejandro Jodorowski (diretor de "El Topo") e pelo quadrinista Jean "Moebius" Giraud (1938-2012), a saga sci-fi de fantasia e lisergia "O Incal" nasceu em dezembro de 1980 na revista em quadrinhos "Métal Hurlant" e seus seis álbuns foram publicados entre 1981 e 1988 pela Les Humanoïdes Associés com o título "Uma Aventura de John Difool". Cerca de 40 anos depois de sua criação, os quadrinistas Brandon Thomas e Pete Woods retornam àquela saga atrás do ET canino Tête de Chien, explorando suas peripécias sexuais. Les Humanïdes Associés edita o gibi na Europa e a Pipoca & Nanquim o edita por aqui.
DYLAN DOG & DAMPYR: As traduções sempre impecáveis de Julio Schneider fazem valer a leitura dos quadrinhos da milanesa Sergio Bonelli Editora trazidas para o português pela Mythos. Desenhos de Daniele Bigliardo e de Brindisi alimentam a força plástica do encontro entre o Investigador do Pesadelo e o Caçador de Vampiros. Quando uma praga de sugadores de sangue, armados até as presas, resolve atacar Londres, Dog, um detetive acostumado a explorar tramas sobrenaturais, une forças com Harlan Draka, o Dampyr.
ÁRDUO AMANHÃ: Eis um belo exercício de criatividade gráfica de Eleanor Davis. A autora dessa HQ da editora Tordesilhas ganhou o LA Times Booker Prize por um estudo precioso sobre o limite entre inércia e resiliência numa narrativa que celebra a união, na amizade e no amor. Sua protagonista, Hannah, uma cuidadora de idosas, que anda cheia de dúvidas em suas cabeças, é "a" personagem de quadrinhos do ano em nossas livrarias. Seu namorado é maconheiro profissional que vive da erva e sonha finalizar uma casa do campo, para plantar legumes e cânhamo. Já Hannah só quer ter um bebê. Mas a vida anda cruel com seu desejo. O traço de Eleanor é de uma elegância modiglianesca.
CONAN - OMNIBUS: DESFORRAS E DESFECHOS: o escritor Cullen Bunn (de "Harrow County") empresta a pena ao universo sangrento do bárbaro imortalizado por Arnold Schwarzenegger e adapta uma a clássica história do criador do guerreiro, Robert E. Howard, chamada "O Demônio de Ferro". Ele une seu talento ao traço magistral do desenhista Sergio Dávila ("Red Sonja") e ao refinamento do colorista Michael Atiyeh ("Star Wars"). Este volume da Mythos reúne as edições de 1 a 12 da série "Conan the Slayer".