Do fim de semana para cá, fãs de quadrinhos não arredam pé do Amazon Prime, onde Bruce Timm, bamba da animação, agita o streaming com a série "Batman: Cruzado Encapuzado", embalada num visual de filme noir. Paralelamente, a MAX (ex-HBO) faz uma campanha pesada para a estreia da série do Pinguim, agendada para setembro. Já em bancas brasileiras, a editora Panini aquece as vendas do herói ao lançar o encadernado "Europa", reunindo artistas como Brian Azzarello, Giuseppe Camuncoli, Jim Lee e Matteo Casali. Toda essa movimentação amplia a expectativa por "Batman 2", que o cineasta Matt Reeves prepara para 2026, com Robert Pattinson no papel principal. Com isso, o original, de 2022, amplia sua visibilidade no streaming, em especial agora que o sucesso de "Deadpool & Wolverine" dá um novo frescor ao cinema de super-heróis, que vinha em crise.
Fracassos sazonais na venda de ingressos, como se viu com "The Flash" e "Quantumania" deram indícios de que as narrativas de super-herói, baseadas em HQs, estejam perdendo o elo com as plateias. Há um empenho de James Gunn ("Guardiões da Galáxia") em repaginar o Homem de Aço, mas ninguém sabe o que será do filão. Da mesma forma, "Coringa - Delírio a Dois", com Joaquin Phoenix e Lady Gaga, escalado para concorrer no Festival de Veneza, pode mudar a situação de tramas baseadas em HQs. Enquanto isso, o Homem-Morcego faz a sua parte para salvar um dos veios mais rentáveis da indústria audioviosual.
Tudo indica que o Sr. Frio será o vilão do novo longa de Reeves, que assina a produção de "Cruzado Encapuzado". Há um quadrinho sobre a gênese dele, publicado pela Panini Comics, hoje nas bancas, e é um achado, assim como os especiais da mesa editora sobre o Pinguim e o Duas-Caras. Para além dessas leituras, é obrigatório dar uma conferida atenta no trabalho que Reeves fez em sua incursão por Gotham City há dois anos. Tá na já citada MAX.
A partir de uma geografia idealizada nos gibis em, 1939, por Bob Kane e Bill Finger, os pais do Homem-Morcego, Reeves reinventou as apresentações do herói, flertando com um legado de suspense sombrio típico dos anos 1990. O Cruzado Encapuzado da revista "Detective Comics" do fim dos anos 1930 pouco se assemelha com a versão cheia de angústias existencialistas proposta por um Robert Pattinson em estado de graça, sob a batuta do realizador de "Planeta dos Macacos: A Guerra" (2017). O herói das HQs, em sua gênese, era já um vingador, mas estava bem-resolvido com sua sina, sua herança. O Bruce Wayne do sombrio "The Batman", ao contrário, vive em conflito consigo… e com sua conta bancária. Leva esse conflito às ruas. No Brasil, seu brado - "Eu sou a Vingança!" - ganhou um tônus extra com a dublagem de Wendel Bezerra.
Agonias variadas acossam a Gotham de Reeves, a começar pela onda de assassinatos brutais, com vítimas evisceradas. As mortes supostamente foram deflagradas por um psicopata que usa o nome de Charada. Essa figura é vivida por um Paul Dano nas raias do esplendor. Não se tratam de crimes caricatos como aqueles do seriado do Batman, com Adam West e Burt Ward, dos anos 1960. A fim de tratar filmes egressos de quadrinhos com seriedade (e enlevo estético), Reeves cria uma atmosfera de suspense mórbida, similar à do cult "Se7en" (1995) e dá a seu Brad Pitt mascarado (Pattinson) um Morgan Freeman peculiar: o futuro comandante Gordon, vivido por um Jeffrey Wright na mais pura precisão. Dali nasce um thriller policial sobre o quanto a vingança nunca é plena, mata a alma e envenena, com absoluto domínio de rimo e cenas de ação em puro frenesi. Vale um destaque para a presença de John Turturro no papel do mafioso que legisla sobre as negociatas de Gotham.Sua bilheteria beirou US$ 770 milhões.
Acerca de "Cruzado Encapuzado": quem dubla Bruce Wayne/Batman é Márcio Seixas, que fez sucesso dublando o vigilante em desenhos dos anos 1990.