As bruxas do Rio de Janeiro

Em 'A Magia de Aruna', Disney explora magia e preconceito com leveza e bom humor

Por Pedro Sobreiro

Cleo, Erika Januza e Giovanna Ewbank interpretam três bruxas que despertam no Rio de Janeiro de 2023

Seguindo com a aposta da Disney nas produções nacionais, a série 'A Magia de Aruna' estreia nesta quarta (29) no streaming Disney . Com um elenco de peso e um texto afiado, a série conta a história de um Rio de Janeiro diferente, que vive as consequências da criminalização da magia no passado, separando a sociedade entre as pessoas comuns e os descendentes das bruxas.

Nesse contexto, três bruxas guardiãs, que se sacrificaram nos anos 1700 para proteger a magia, despertam em 2023 e acabam encontrando a jovem Mima, uma adolescente que enfrenta os desafios comuns da idade, enquanto tenta esconder seus poderes, que começaram a despertar.

A convite da Disney, o Correio da Manhã conversou com o elenco da série, que contou um pouco mais dos bastidores da produção e do que o público pode esperar desse projeto tão interessante.

Um dos pontos da série é a desmitificação das bruxas. Por anos, as histórias de bruxas atravessaram culturas como criaturas más e impiedosas, mas 'A Magia de Aruna' segue por um caminho inverso, trazendo à luz esse trio de feiticeiras que busca a proteção.

"Eu acho que a questão das bruxas traz para a pauta uma marginalização às pessoas que são diferentes. A pessoa que tinha um dom era afastada da sociedade, vista com maus-olhos. E não necessariamente era uma coisa má. A gente costuma deixar de lado aquilo que a gente teme, que não compreende, como é feito ainda hoje. E acho que vem muito daí essa história de bruxa má e bruxa boa", comentou Erika Januza, que interpreta a bruxinha Latifa.

Já para Giovanna Ewbank, que dá vida à bruxa Juno, a série tenta mudar um pouco do preconceito sobre as bruxas.

"É superimportante desmistificar a bruxa para essa geração que está vindo agora. Que as crianças entendam que as bruxas nada mais eram que mulheres à frente do seu tempo, curandeiras. Meus filhos, quando souberam, me perguntaram: 'mamãe, você vai fazer uma bruxa? Uma bruxa má?'. E eu expliquei que a bruxa não é necessariamente má, que eles as veriam fazendo coisas muito legais. Então, é legal saber que essas crianças e adolescentes vão ter uma nova visão de bruxa", disse.

E Cleo, que faz a bruxa Cloe, na série, comentou sobre a influência do padrão social na imagem negativa das bruxas.

"Eu acho que essa questão das bruxas estarem sendo mais normalizadas tem muito a ver com a questão da bruxa em si não ser uma coisa ruim e ter sido demonizada pelo patriarcado. E para compor a Cloe, eu me inspirei muito... Em mim mesma. Minha bruxa interior saúda a sua bruxa interior [risos]".

A série brinca muito com o anacrônico, porque a vida em 2023 é muito diferente do que era o mundo no Século XVIII. E em alguns momentos, a produção mostra esses conflitos de realidade das bruxinhas encarando a modernidade pela primeira vez, como na cena em que elas "descobrem" um telefone celular. Para Cleo, esse foi um dos maiores desafios do show.

"A gente trabalhou bastante na preparação sobre esses momentos de descoberta, do impacto de entender o que é novidade e da gente se sentir diferente de todo mundo. A gente precisava ficar sempre atenta", disse.

"Nós tentamos trazer o que nossas personagens eram em 1700 para 2023. Não só pelas roupas, mas pela forma de falar. E para nossas bruxinhas, eram elas que estavam arrasando. Elas estavam usando as roupas certas para a época delas, só que em 2023. E descobrir as coisas que parecem normais pra gente, hoje, como a energia elétrica, foi um desafio. A gente teve que abrir esse olhar para o novo. Tem uma cena em que a Giovanna [Ewbank] está em uma loja e ela quer pegar em tudo, como uma criança que está descobrindo um mundo novo. Isso é muito gostoso de fazer", explicou Erika.

E quando se fala de brincar com as bruxas no audiovisual, um dos processos de criação mais interessantes é o de encontrar seu gestual mágico para soltar os feitiços. E o elenco, claro, se divertiu muito até chegar ao que é visto em tela.

"Durante a preparação, a gente foi descobrindo o gesto de cada uma. Eu acho que foi no último dia de preparação que a gente descobriu que cada uma tinha seu gesto próprio. A gente foi se entendendo e se sentindo em cena, até descobrir que cada gesto tem a ver com as personalidades", afirmou Giovanna.

"E o maravilhoso é que cada vez que uma descobria um gesto que elas gostavam, era como uma epifania. Elas se empolgavam e saiam dizendo: 'Eu achei! Achei o meu gesto!'. E queriam mostrar para todo mundo. Foi maravilhoso!", acrescentou Caio Manhente.