Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

A Córsega de La Corsini

Na França, para as cineastas, existe, sim, um momento de solidificação de novas diretoras, mas é no grito. Temos muita luta ainda". | Foto: Divulgação

Revelado ao mundo em Cannes e consagrado no olhar do Brasil no Festival do Rio 2023, o drama "De Volta à Córsega" ("Le Retour") se firma como um dos achados da nova leva de títulos autorais na streaminguesfera nacional, a partir da plataforma Reserva Imovision. O filme é um rico panorama das inquietações artísticas da realizadora francesa Catherine Corsini. Ela deu o ar de seu carisma e de seu talento na cidade em outubro. Essa produção é um trabalho magistral dela na observação dos códigos de solidariedade entre mulheres e o entendimento de uma geografia pouco explorada pela indústria audiovisual europeia.

"A Córsega é um local onde as pessoas parecem esconder algo. Lembro de ter visto um filme de um conterrâneo francês, chamado 'Le Silence' (dirigido por Orso Miret), que se passava lá e era um atestado do mistério que existe naquela paisagem", disse Corsini ao Correio da Manhã pouco antes de partir para uma ronda pelo bairro da Glória, onde ficava a sede do Festival do Rio. "Já passei pelo Brasil antes e fico sempre me questionando como as questões ligadas a uma transformação do papel das mulheres, como a legalização do aborto e a equidade, tem sido processada aqui, por conta do histórico machista. Na França, para as cineastas, existe, sim, um momento de solidificação de novas diretoras, mas é no grito. Temos muita luta ainda".

Aos 67 anos de vida e 42 de carreira, a realizadora lançou "De Volta à Córsega" na disputa pela Palma de Ouro de Cannes, depois de ter brigado por prêmios no badalado balneário com "A Repetição" (2001) e "A Fratura" (2021). Este último - também na grade online do Reserva - deu a ela a Queer Palm, espécie de láurea LGBTQIA . Seu filme mais recente, perfumado com o aroma do melodrama, narra o regresso de Khédidja (Aïssatou Diallo Sagna), com suas duas filhas, à terra de onde, um dia, teve de fugir. Regressar é uma experiência dolorosa.

"A maneira de reagir àquela paisagem era busca uma luz que fugisse do cartão-postal", diz Corsini. "Estamos falando de uma personagem forte, num filme onde tudo é íntimo".

 

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