Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Streamings em pílulas

A Incrível História de Henry Sugar | Foto: Divulgação

Embora tenha concorrido ao Oscar muitas vezes, com longas-metragens aclamados como "O Grande Hotel Budapeste" (2014), o texano Wes Anderson só levou a estatueta hollywoodiana para casa graças a um curta-metragem, "A Incrível História de Henry Sugar", hoje em cartaz na Netflix.

Benedict Cumberbatch (o Doutor Estranho da Marvel) é um ricaço que adquire dons sobrenaturais. Ben Kingsley, Ralph Fiennes e Dev Patel integram o elenco estelar dessa produção de 40 minutos.

Há outros curtas de Wes (como "Veneno", "O Cisne" e "O Caçador de Ratos") no www.netflix.com, onde é possível conferir um dos mais dolorosos concorrentes de Henry Sugar na disputa pela láurea dourada da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood: "O Depois" ("The After").

A recente busca a esse drama sobre o luto - dirigido pelo fotógrafo e ativista nigeriano Misan Harriman e estrelado pelo inglês David Oyelowo - é a prova de que há a streamiguesfera anda caindo de amores pelo cinema em pílulas. Curtas vão de 1' a 59' hoje em dia. No passado, se um filme passasse de 25' e fosse inferior a 1h01'01", o rótulo dele seria média-metragem. Mas os tempos são outros. O audiovisual também.

Curtas premiados são a predileção dos streamings, como comprova a decisão da Paramount de exibir o ganhador do Oscar de curta documental de 2024: "O ABC da Proibição de Livros" ("The ABCs of Book Banning"), dirigido por Sheila Nevins, Trish Adlesic e Nazenet Habtezghi. Nele, somos apresentados à centenária Grace Lin, que participa na reunião do Conselho Escolar do Condado de Martin, na Florida. Ela recorda ao Conselho Escolar que seu marido morreu na Segunda Guerra Mundial numa luta pela democracia, questionando a queima de romances, contos e coletâneas de poemas por nazistas. Ela passa em revista censuras proibitivas à literatura.

Na Disney , John Travolta comove os assinantes da plataforma de Mickey Mouse à frente de "O Pastor", filme de Natal no qual vive um aviador misterioso, capaz de conduzir pilotos em perigo, como se fosse a própria Estrela de Belém. Garimpando os terrenos de Mickey, chega-se a uma joia italiana: "Le Pupille", de Alice Rohwacher, indicado ao Oscar em 2023. Fotografado por Hélène Louvart, o filme condensa em 37 minutos as picardias de um grupo de garotas rebeldes de um internato católico, num momento histórico de escassez e de guerra.

Sempre atenta a filme com até 50 minutos, a MUBI vai se debruçar, a partir do dia 22, sobre o mundo onírico da animadora e pintora norte-americana Suzan Pitt (1943-2019) por meio de uma retrospectiva de sua obra. Figura emblemática do cinema underground experimental, Pitt deixou sua marca de picardia na década de 1970, por meio de impressionantes curtas animados feitos à mão, mergulhando a audiência em seu universo surrealista, de timbres psicodélicos. É o caso de "Aspargus" (1979) e "Crocus" (1971).

Sintonizado com a filmografia de um dos mais renomados cineastas brasileiros da atualidade, o www.mubi.com promove atualmente em sua grade uma espécie de retrospectiva dos curtas do pernambucano Kleber Mendonça Filho. Estão lá "Vinil Verde" (2004), "Eletrodoméstica" (2005); "Noite de Sexta Manhã de Sábado" (2007); e "Recife Frio" (2009), todos premiados no Brasil e no exterior.

Que catar Kleber por lá pela MUBI vai se deparar com um curta de Sofia Coppola, diretora de "Encontros e Desencontros" (2003) pouco conhecido por aqui: "Lick The Star". Nele, a jovem Kate (Christina Turley) está ausente do colégio há uma semana devido a um pé quebrado. Ao retornar, ela descobre que seu grupo de amigas elaborou um plano secreto com arsênico, de codinome "Lamba a estrela", para enfraquecer os garotos.

Para quem saboreia o formato com interesse e curiosidade sempre é válido dar audiência ao site https://curtaocurta.com.br/ e ao https://www.portacurtas.com.br/, onde se destacam "Nada", de Gabriel Martins, e "Baile", de Cíntia Domit Bittar.

 

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