Por: Guilherme Luís (Folhapress)

'A Casa do Dragão' retorna com duas feras na proteção de suas proles

Olivia Cooke (Alicent) e Emma Darcy (Rhaenyra), as antigas amigas se tornam arqui inimigas na nova temporada de 'A Casa do Dragão', cuja segunda temporada estreia neste domingo na HBO | Foto: Divulgação HBO

Em "A Casa do Dragão", o embate é entre duas feras que querem proteger seus filhotes. Não dragões, mas as ex-amigas do peito Rhaenyra Targaryen e Alicent Hightower, que na nova temporada da série abandonam qualquer traço de carinho que já nutriram uma pela outra. Agora arqui inimigas, elas tomam partido na briga dos filhos, cujas travessuras adolescentes acabaram num assassinato não premeditado entre eles na primeira leva de episódios, de 2022.

O segundo ano do seriado prelúdio de "Game of Thrones", que volta a ser exibido pela HBO neste domingo (16), leva a picuinha de madrasta e enteada afora dos seus castelos, o que faz com que outras castas metam o bedelho neste grande caso de família.

Ainda que "A Casa do Dragão" agrade a audiência ao apostar no mesmo misto de espadas e fofocas de "Game of Thrones", ela tem uma diferença notável - o que impera aqui são os dramas de duas mulheres, Rhaenyra e Alicent, que flutuam sobre os homens da história.

É um avanço frente à primeira temporada, quando as duas orbitavam o rei Viserys, pai de Rhaenyra e marido de Alicent. Agora, com ele morto, elas se enfrentam pela coroa, a primeira para seu próprio desfruto, e a outra para agraciar o filho mais velho.

"É isso que torna 'A Casa do Dragão' única no cenário de fantasia, e diferente da série original", diz Ryan Condal, cocriador e roteirista da produção. "A razão de termos escolhido contar essa história, e não outra [do universo de 'Game of Thrones'], é o fato de termos duas mulheres no centro, mesmo que sob o controle do patriarcado, lutando contra ele."

Outro papel importante é o de Rhaenys Targaryen, tia da protagonista Rhaenyra, conhecida como a Rainha que Nunca Foi - no passado ela disputou o trono com o irmão Viserys, mais novo que ela, mas perdeu justamente por ser mulher.

"Desde que 'Game of Thrones' estreou, em 2011, o mundo mudou muito. Houve o Me Too", diz a atriz Eve Best, intérprete de Rhaenys, mencionando o movimento em que mulheres denunciaram casos de assédio e abuso cometidos por homens da indústria do audiovisual. "Hoje vemos toda uma geração de mulheres ascendendo a cargos de governança."

"A discussão da série é tão palpável que me faz relacioná-la com a Câmara dos Comuns, do Reino Unido, [câmara que reúne parlamentares britânicos], um ambiente tão masculino e machista. É muito parecido com o que interpretamos no set de gravações, como as cenas no conselho do reino em que Rhaenyra [que luta pela coroa] é intimidada ou ignorada por um grupo de homens."

Seguir numa toada mais feminina faz com "A Casa do Dragão" atenda também a uma demanda antiga dos fãs de "Game of Thrones", que por uma década acumulou prêmios e prestígio, mas também uma mesma reclamação - a de que exagerava nas cenas de violência e abuso sexual com mulheres.

"A Casa do Dragão" já tinha sido mais comedida nesse sentido desde sua estreia, e a julgar pelos capítulos liberados aos jornalistas com antecedência, a série volta com a promessa de frear nas cenas de crueldade. "Brutalidade e sexo são intrínsecos a esse mundo, e precisa haver uma razão para inseri-los na história, mas não queremos ser gratuitos aqui", diz Condal.

O roteirista escreve os episódios de "A Casa do Dragão" usando como base o livro "Fogo e Sangue", obra é de George R. R. Martin, a mente por trás deste universo fictício. O autor não esteve envolvido com a nova temporada de "A Casa de Dragão". Ele é hoje um dos nomes mais relevantes da fantasia contemporânea. Um dos seus méritos foi criar uma história em que é difícil definir quem é bom ou mau, o que fez "Game of Thrones" despertar amores e ódios por seus personagens nada maniqueístas. Essa pegada segue em "A Casa do Dragão". "Somos criaturas complexas", diz Steve Toussaint, ator que dá vida a Corlys, lorde dos Velaryon, aliados da protagonista Rhaenyra. "Existem políticos que eu não suporto ouvir discursarem, mas que com certeza são adoráveis entre seus amigos. Nos cabe tentar retratar isso de forma fiel porque é como o mundo opera."

Se nos tempos de "Game of Thrones" os fãs se dividiam entre torcer para alguns poucos mocinhos, em "A Casa do Dragão" é muito mais difícil decidir se é a madrasta ou a entrada quem merece prosperar.