Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Plataforme-se: Uma leva de filmes candidatos a cult pula a janela da tela grande e vai diretamente para o streaming, sem lançamento em circuito no Brasil

Liam Neeson encara terroristas em 'Na Terra de Santos e Pecadores' | Foto: Divulgação

Quando se caça alguma novidade na Netflix, o anúncio de "Beverly Hills Cop: Axel F", ou seja, "Um Tira da Pesada 4", salta aos olhos, com Eddie Murphy em mil trapalhadas a se destacar, a força dos Originals, os longas-metragens que são produzidos sob a encomenda e sob a verba daquela plataforma. A nova aventura do policial malandrão dublado por Mário Jorge estreia aqui no dia 3 de julho, cercada de expectativa.

Mas há - cada vez mais - casos de lançamentos nos streamings que não são de lavra própria e, sim, aquisições de candidatos a cult que as salas de projeção não conseguiram absorver. Um dos casos mais potentes é "Showing Up" (2022), de Kelly Reichardt, lançado aqui como "Esculturas da Vida", via Telecine, que pode ser acessado também pela Amazon Prime.

Indicado à Palma de Ouro de Cannes e incluído na lista dos 10 Melhores Filmes da prestigiada revista "Cahiers du Cinéma", o longa traz Michelle Williams no papel de uma escultora que se prepara para uma nova exposição em meio a uma fase de caos pessoal e profissional. "É uma radiografia da cena criativa das artes plásticas nos EUA, entendendo como as subjetividades se comportam num momento de tensão", disse Kelly ao Correio da Manhã em Cannes.

Um modo de lançar parecido ocorreu com "Georgetown", comédia abrasiva dirigida pelo ator austríaco Christopher Waltez (de "Bastardos Inglórios"), hoje encontrável na Amazon Prime. Ele estrela o filme no papel de um alpinista social que se casa com uma mulher bem mais velha (Vanessa Redgrave) para lucrar com a união. A trama é baseada em fatos reais. "É um conto sobre a arte de enganar", disse Waltz no Festival de Tribeca, em Nova York, ao lançar a fita.

Ainda na Amazon, há um trabalho de Liam Neeson que não teve vez na tela grande: "Na Terra de Santos e Pecadores" ("In The Land Of Saint And Sinners"), exibida no Festival de Veneza do ano passado. No enredo, o personagem de Neeson tenta deixar seu passado sombrio para trás, mas é forçado a agir quando terroristas mobilizam sua cidadezinha.

A já citada Netflix não fica de fora desse bonde e trouxe para o Brasil a joia "No Vale Da Violência" ("In a Valley of Violence", 2016), de Ti West. Homenagem ao western spaghetti feita pelo diretor do cult "Pearl" (2022). Ethan Hawke é um pistoleiro em busca de paz, com passado de serviço militar nas costas, que arruma encrenca ao chegar a uma cidade arruinada, mas regida com mão de ferro por um xerife cheio de estilo (John Travolta, dublado por Mario Jorge Andrade). Os créditos de abertura são um primor.

Outro western de peso preferiu a Netflix ao circuitão: "Old Henry - Retorno da Lenda" ("Old Henry", 2021), de Potsy Ponciroli. Faroeste cheio de exuberância, este thriller rural ambientado no início do século XX conta com o talento de Tim Blake Nelson no papel central. Regado a adrenalina e vitaminado por uma virada de roteiro de cair o queixo, o longa traz o ator no papel de um rancheiro viúvo que tenta proteger seu lar e seu filho de uma tropa de criminosos que buscam uma fortuna roubada. Stephen Dorff é o vilão. As sequências de ação são surpreendentes

No terreno da não ficção, a plataforma também faz bonito e atraca em sua grade o obrigatório

"Django & Django" (2021), de Luca Rea. Trata-se de um documentário cinéfilo genial, no qual Quentin Tarantino passa em revista a obra do cineasta Sergio Corbucci (1926-1990), um dos pilares do western spaghetti, famoso por "Django" (1966), com Franco Nero.

Especializada em trazer para o país produções que não tiveram vez em circuito, a MUBI acaba de incluir em sua grade o imperdível "O Nosso Tempo" ("Nuestro Tiempo", 2020), de Carlos Reygadas. É um dos filmes de maior potência do realizador de "Luz Silenciosa" (2007), que se arrisca como ator em cena. Na trama, uma família vive no interior do México criando touros. Esther (Natalia López) é responsável pela gestão do rancho, enquanto o seu marido Juan (o próprio Reygadas), poeta de renome mundial, cria e selecciona os animais. Apesar de terem um casamento aberto, a sua relação começa a desmoronar quando Esther se apaixona por um americano que treina cavalos e Juan é incapaz de controlar os seus ciúmes.

O bloco latino-americano de estreias exclusivas em streamings se estende ao Star onde há lugar para "30 Noites Com a Minha Ex" ("30 Noches Con Mi Ex", 2022), de Adrián Suar. Dirigida por um dos comediantes de maior prestígio na Argentina, essa comédia romântica foi um fenômeno popular, apoiada no carisma de Pilar Gamboa. Ela e Suar vivem um casal separado há três anos, com uma filha adulta. Ele, Turbo, é um investidor de sucesso na bolsa de valores. Ela, Loba, é cantora. Mas sua vida foi pro beleléu depois que ela passou por surtos esquizofrênicos dos quais não se recuperou. A fim de ajudá-la, sua psiquiatra recomenda que Loba passe um mês morando com Turbo. Mas essa volta dela ao lar gera desastres.

Mais e melhores lançamentos desse porte estão por vir nos próximos meses, diretamente numa plataforma perto de você.