Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

'Tulsa King' parte dois, a revanche

Dwight Manfredi (Stallone) volta a abalar os calcanhares da máfia na nova temporada de 'Tulsa King' | Foto: Divulgação

 

À espera de tela para "Armored", thriller sobre um segurança de transporte de valores em luta para resguardar seu carro-forte de assaltantes, Sylvester Stallone tem um reencontro marcado com seus fãs no dia 15 de setembro, data de estreia da nova temporada de um de seus êxitos recentes: a série "Tulsa King".

No fim de 2022, a Paramount Plus ampliou seu já regado cardápio audiovisual, aberto aqui com "Yellowstone" (seriado responsável por repaginar a carreira de Kevin Costner), ao adicionar o eterno Rocky Balboa a suas fileiras.

Aos 77 anos, Stallone (dublado aqui por Luiz Feier Motta) farejou nas plataformas digitais um veio para assegurar longevidade à sua trajetória pop. Há cerca de dois anos, lançou o filme "Samaritano" na Amazon Prime - no qual vive um gari que esconde possuir superpoderes - e embarcou em um contrato com streaming da Paramount onde brilha também no reality "A Família Stallone". Esse streaming tem Costner; conta com "Top Gun: Maverick" (maior sucesso de bilheteria de 2022, com US$ 1,5 bilhão em sua receita); e dispõe de um faroeste com Helen Mirren e Harrison Ford, o western serializado "1923". Stallone foi se juntar a esse bonde para destronar a concorrência.

"Quando a imagem que construímos no cinema está mesclada a grifes, como Rocky ou Rambo, a gente precisa estar aberto a reinvenções, ou a nossa carreira fica estagnada", disse Stallone ao Correio da Manhã quando lançou "Samaritano". "Venho interpretando personagens de carne e osso que não se encaixam nos padrões da realidade que conhecemos, por mais humanos que sejam. Sou sempre o sujeito fora da curva que não pode evitar a sina do altruísmo. A questão é que eu cheguei numa idade em que não posso mais interpretar Rambo do modo que eu fazia lá pelos meus 30 anos. Preciso honrar e respeitar a idade que tenho".

Não por acaso, um dos melhores diálogos de "Tulsa King" é a conversa entre o personagem de Stallone, o gângster Dwight "O General" Manfredi e uma agente federal quarentona, Stacy (Andrea Savage), no qual ela, após uma transa acalorada, assusta-se ao saber a idade dele. Dwight pergunta: "Qual foi o problema? É o nosso gap geracional?". E ela: "Não é um gap, é um cânion". A nova fase de episódios traz Stacy de volta e os demais personagens que integram a batalha de Dwight contra os gângsteres a quem, um dia, ele serviu.

Integrante do elenco de "Bananas" (1973), de Woody Allen, do qual quase foi descartado por não parecer ameaçador o suficiente, Stallone traz situações hilárias para "Tulsa King", ainda que o foco da trama seja a violência. A brutalidade é inerente ao trabalho de um gângster grisalho que precisa criar uma célula criminosa do zero numa cidadezinha do interior, onde a maconha é legalizada e o único perigo é uma gangue de motoqueiros. "Não existe pesadelo maior para um ser humano do que a derrota", disse Stallone, numa referência à resiliência que sempre marca seus personagens.

Taylor Sheridan, responsável pelo sucesso do já citado "Yellowstone", é um dos criadores de "Tulsa King", que tem Terence Winter (de "A Família Soprano") à frente do roteiro e da concepção de um universo de famílias mafiosas repletas de pecados. A agilíssima direção é de Allen Coulter (de "Ray Donovan" e do filme "Hollywoodland"), que entende com precisão a persona de Stallone e o que ele simboliza historicamente. É o que se percebe na maneira como o cineasta recria o ethos de "exército de um homem só" muitas vezes encarnado pelo ator, traduzido no tom de empáfia e de retidão plena de Dwight. A que ele sente em relação à ausência que se encarceramento deixou na vida da filha, Tina (Tatiana Zappardino).

Durão inquebrantável, Dwight passou 25 anos encarcerado e sai da cadeia com a missão de erguer uma facção da máfia em Tulsa, encarando uma realidade social diferente daquela em que se configurou como um criminoso assustador, em Nova York. Ele se depara com figuras com visual de caubói, com botas de couro de jacaré. E é ali que precisa se reerguer, tendo como aliados um taxista (Jay Will), um dono de bar (Garrett Hedlund, perfeito em cena) e um assassino aposentado (Max Casella). Duas estrelas dos anos 1990, há tempos sem destaque, regressam aos holofotes na companhia de Stallone: Annabella Sciorra (que foi colega do ator em "CopLand") e Dana Delany. A primeira vive a irmã de Dwight e a segunda é a vilã Margaret.

Houve um erro crasso da Paramount na dublagem inicial de "Tulsa King", que foi não escalar o já citado Luiz Feier Motta, a voz oficial de Sylvester no país desde 1993. Mas reclamações dos fãs trouxeram o locutor e dublador gaúcho de volta.