Por: Pedro Sobreiro

Miguel Falabella revela os desafios de adaptar 'O Som e a Sílaba'

Para Miguel Falabella, uma das maiores dificuldades para adaptar a série foi criar novos personagens | Foto: Divulgação/ Disney

Sucesso nos palcos de todo o Brasil, 'O Som e a Sílaba' encantou o público com seu bom-humor e sensibilidade para contar a história de Sarah Leighton, uma jovem no espectro autista que tem um talento fenomenal para música. No entanto, a sociedade não aceita muito bem sua presença. Só que tudo muda quando seu irmão consegue inscrevê-la em aulas com a soprano Leonor Delise, que a grande inspiração da jovem. Então, elas tentam se entender, enquanto o extraordinário talento de Sarah vai aflorando e surpreendendo a todos.

Nesta quarta (28), chega ao streaming Disney uma produção original nacional, também escrita e dirigida por Miguel Falabella, que adapta a peça para o formato de série.

A convite da Disney, entrevistamos Miguel Falabella e as atrizes Alessandra Maestrino e Mirna Rubim, que interpretam Sarah e Leonor, respectivamente.

E um dos pontos mais interessantes é que a alma da peça de 2017 foi mantida, já que esse trio repete suas funções do teatro nas telas. E não poderia ser diferente, já que toda a história foi inspirada em uma antiga relação desse trio.

"A história foi criada pelo Miguel [Falabella] especialmente para a gente, baseada em uma relação que nós tivemos de muitos anos. A Mirna [Rubim] foi minha professora de canto na vida real por muitos anos, e claro que a gente ficou amiga. Eu, Mirna e Miguel já nos amamos há muito tempo. Foi assistindo a uma aula minha, em que ele chegou um pouquinho mais cedo, que ele teve o insight para fazer a peça, inclusive", revelou Alessandra Maestrini.

E um dos maiores destaques da série é o talento de Maestrini para trazer uma personagem tão complexa à vida. E o processo para compô-la veio de experiências próprias e muitas consultas a pessoas no espectro autista.

"Eu sou neurodivergente, tenho TDAH. É uma neurodivergência completamente diferente do autismo, mas que tem uma interseção de sintomas. Então, eu tenho hiperfoco. É uma coisa que eu conheço. Eu tenho hipersensibilidade sensorial, então também conheço. E são coisas que compõe a personagem. Não é à toa que o Miguel escreveu essa personagem para mim. Ele se inspirou em um tema que ele já estava ligado, ele se inspirou na habilidade específica musical que eu tenho para a ópera, e ele se inspirou também nessas idiossincrasias que são minhas e que têm interseções com o tema do autismo que ele queria tratar. Além disso, eu pedi a uma fonoaudióloga, a Dra. Mara Behlau, para conhecer uma pessoa do espectro. E levei o texto para ela ler, perguntei se ela sentia falta ou se alguma coisa incomodava. E ela adorou tudo. Assim eu construí a Sarah do teatro. E quando a gente foi fazer a série, o Miguel conheceu mais a Julia Balducci, a trouxe para integrar a série. Ela faz a melhor amiga da Sarah", contou.

Mente inconfundível por trás de algumas das principais produções da arte brasileira, Miguel Falabella também falou sobre o processo de adaptação da peça para as telas.

"Como eu mesmo escrevi a peça e eu mesmo escrevi a série, o grande desafio foi criar personagens novos, que eram citados, que eram mencionados e alguns que sequer existiam, mas foram acrescentados ao formato da série. Por exemplo, a filha da Leonor era apenas citada na série e agora passa a existir. Eu criei uma governanta para ela, que é feita pela Maria Padilha, fiz uma jovem secretária... Criar esses personagens e trazê-los à vida foi esse grande desafio. Quanto a playlist, ela foi muito determinada pelo registro da Alessandra Maestrini, que é uma soprano muito aguda. O registro dela me guiou a escolher áreas que fossem mais populares, palatáveis para o grande público, obviamente. Não fui para áreas que só conhecedores de ópera apreciariam. Isso determinou um pouco a escolha. A própria Alessandra é um diferencial. Ter um elenco que canta, não dubla, é muito bacana. E acho lindo, nesse mundo de hoje, a gente trazer outra vez o belo canto. Trazer o canto lírico é bem interessante", afirmou Miguel Falabella.

Por fim, Mirna Rubim e Miguel falaram um pouco mais sobre o processo de construção da cantora lírica Leonor, que carrega um passado sombrio e acabou se fechando para o mundo.

"A Leonor, para mim, veio de uma imagem célebre da Maria Callas, já quase no final da vida, que é tirada do lado de fora de seu apartamento em Paris, em que ela está sentada e olhando pela janela em uma solidão absoluta, pouco antes de morrer. Essa foto me inspirou muito para escrever a solidão desta mulher, que passa a vida com o sentimento extremado, assim como na ópera", disse Miguel.

"No decorrer da série, ocorre uma transformação, assim como acontece na peça. Na peça, começamos extremamente tensas, agressivas, e eu angustiada. Existe uma escuridão no começo, mas vai 'ensolarando' conforme a gente vai criando intimidade. No início, existe a efervescência das personagens. Mais adiante, a música e o amor vão tomando conta", concluiu Mirna Rubim.

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Para Miguel Falabella, uma das maiores dificuldades para adaptar a série foi criar novos personagens | Foto: Divulgação/ Disney