Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Novos holofotes para Todd Haynes

Todd Haynes no set de 'Segredos de um Escândalo' com Natalie Portman e Julianne Moore | Foto: Francis Duhamel/Divulgação Netflix

 

Dias depois de ser anunciado como presidente do júri do Festival de Berlim de 2025 (agendado de 13 a 23 de fevereiro), o realizador americano Todd Haynes viu seu nome figurar numa das listas de maior prestígio do cinema, a enquete anual de 10 Mais da revista francesa "Cahiers du Cinéma", que elegeu seu "Segredos de um Escândalo" ("May December") o segundo melhor filme de 2024. O n° 1 é "Misericórdia", de Alain Giraudie.

Essa escalação, somada à convocação para presidir a escolha do Urso de Ouro, ampliou seu cacife (já bem alto) na seara autoral indie dos EUA, consolidado por sucessos como "Velvet Goldmine" (1998), "Longe do Paraíso" (2002) e "Carol" (2015).

Essas conquistas aliviam (um pouco) o percalço por que o diretor californiano de 63 anos passou após ter um projeto abortado às vésperas da filmagem pela desistência (em cima da hora) do ator Joaquin Phoenix ("Coringa"), que seria um de seus protagonistas, num enredo de amor queer. Existe ainda a chance de o projeto vingar, mas muito (tempo e dinheiro) foi perdido, atrasando a agenda de Haynes.

Diante desse quadro, a visibilidade extra que "Segredos de um Escândalo" ganhou parece uma compensação. É possível conferir a trama, estrelada por Natalie Portman e por Julianne Moore, na Amazon Prime, que hoje abre espaço para outros experimentos narrativos de Haynes pouco falados: "Sem Fôlego" (2017) e "O Preço da Verdade" (2019).

"Foi Natalie que trouxe a trama de 'May December' para mim e nela existe um olhar sobre o desconforto que as presunções morais trazem", explicou Haynes ao Correio da Manhã em papo no Festival de San Sebastián, na Espanha, onde encheu de elogios o montador paulista Affonso Gonçalves, editor habitual de seus filmes e da minissérie "Mildred Pierce" (2011), também no ar na Prime Video. "Affonso é uma pedra fundamental na minha criação. Eu sou ruim de olhar o copião do que rodo, sobretudo quando ainda estou filmando, e entrego a ele a tarefa de me propor uma versão inicial do material bruto. Ele sempre me sai com ideias provocativas".

Affonso, que montou "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles (candidato do Brasil ao Globo de Ouro de Melhor Filme de Língua Não Inglesa e ao de Melhor Atriz, via Fernanda Torres), disse há pouco ao "Correio da Manhã" que Haynes lhe oferece trocas profundas na concepção de seus trabalhos. Em "Segredos de um Escândalo", eles vão às profundezas do moralismo a partir de um roteiro indicado ao Oscar. Concorrente à Palma de Ouro de Cannes de 2023, a produção de US$ 20 milhões narra o empenho de uma atriz, Elizabeth (papel de Portman), para encenar a conflituosa vida da vendedora Gracie (Julianne) que teve um caso com um adolescente 30 anos mais moço na loja de ração onde trabalhava. Ela acabou por se casar com o menino que, hoje, adulto (vivido por Charles Melton), repensa as escolhas de seu passado.

"Inseguranças são sempre perigosas, sobretudo em circunstâncias excepcionais como a desse episódio, que expõe a perda da inocência", disse Haynes ao Correio, lembrando que a trilha sonora do longa é do brasileiro Marcelo Zarvos. "Editamos o filme ao som da música dele".