Ô, psit,é Natal! Renato Aragão mobiliza as plataformas de streaming com programas do passado e filmes recentes

A um passo de chegar aos 90 anos, Renato Aragão, ícone de muitas infâncias, mobiliza as plataformas de streaming com programas do passado e filmes recentes

Por Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Renato Aragão: perto dos 90 anos

Maior campeão de bilheteria do Brasil entre a segunda metade da década de 1970 e o fim dos anos 2010, quando contabilizou 30 milhões de ingressos vendidos (só ou lado dos Trapalhões), Antônio Renato Aragão sopra sua 90ª velinha de aniversário no dia 13 de janeiro, embalado no amor de legiões de fãs. Todo Natal ele posta um vídeo ou uma foto inédita em sua conta no Instagram, prestigiada por 5,5 milhões de seguidores, que diariamente traz uma peripécia, seja uma brincadeira, uma reflexão ou uma recordação. Já se espera um fofo jingle bell dele neste 24 de dezembro.

Fora isso, em variadas plataformas digitais, dá para matar as saudades de suas contribuições ao audiovisual deste país. A mais recente delas é sua participação como um misto de Sr. Miyagi e Mestre Yoda no filme "Príncipe Lu e a Lenda do Dragão", que pode ser alugado ou comprado no YouTube. Foi a participação mais recente do mais ilustre cidadão de Sobral na telona.

No Globoplay, tem três temporadas de "A Turma do Didi", no qual o filho do casal Dinorá e Paulo Aragão desafia as leis da gravidade no papel do Chaplin cearense que usa sua sagacidade para driblar as adversidades do dia a dia. Ainda no streaming global é possível conferir uma leva de episódios do programa "Os Trapalhões" (1977-1994), com Dedé, Zacarias e Mussum ao lado dele. Na mesma URL, a https://globoplay.globo.com/, Renato ataca de ator e cantor em "Os Saltimbancos Trapalhões Rumo A Hollywood" (2017), musical dirigido por João Daniel Tikhomiroff. Esse é o longa de maior visibilidade de RA hoje no país.

É possível vê-lo na Netflix e na Amazon Prime (em parceria com a Rede Telecine), além de essa lúdica produção estar sempre na "Sessão da Tarde" da Globo. Nota-se brilho em seu engenho narrativo já na abertura, na qual Aragão vai à festa do Oscar, nos EUA, buscar uma estatueta para Didi Mocó. Qualquer detalhe que se dê sobre ela é um convite a spoilers. O ideal, durante a transmissão deste poético exercício de lirismo de Tikhomiroff, é sacar quem está na plateia, quem apresenta os prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e, em especial, como se faz a locução dela. Até Tom Hanks (ou quase) está lá. É uma crítica abrasiva num filme pautado pela doçura, que presta um tributo ao Cinema e ao Circo ao revisitar o clássico de Josip Brogoslaw Tanko (1906-1993): "Os Saltimbancos Trapalhões" (1981). Não se trata de um remake e, sim, de um exercício de "revisitação", de paráfrase, repaginando situações e personagens do longa original, preservando o mesmo ambiente e a mesma premissa.

Mesmo Didi não aparece com o perfil chapliniano padrão. O vagabundo errante de antes agora virou um autor. Ele é um aspirante a dramaturgo com a missão de escrever uma peça de canto e dança para salvar o picadeiro que sempre chamou de seu. Vai testar todas a sua destreza na escrita para isso.

Apoiado no roteiro de Mauro Lima (diretor do sucesso "Meu Nome Não é Johnny"), "Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood" é uma espécie de "Amarcord" de Aragão. A palavra se refere ao título de uma obra-prima do diretor italiano Federico Fellini, calcada num termo de um dialeto de Rimini que significa "eu me recordo". É um "Amarcord" uma vez que permite a RA a chance de mergulhar em suas memórias cinematográficas, usando-as não como um documento de época, mas como matéria-prima de sonho.

A partir de um resgate do clássico de Tanko e da peça teatral homônima dele derivada (em 2014), cria-se um novo e tocante produto, calcado numa aventura de Didi para manter seu circo de pé. Seu maior algoz será o Prefeito Gavião, defendido pelo sempre titânico Nelson Freitas, que cria um vilão deliciosamente caricato.

A chance de rever esse longa hoje, às vésperas da chegada do Bom Velhinho, tem um sabor de panetone, um gostinho do Natal (o passado, o presente e o futuro).

"O Natal representa esperança. Uma nova vida para todos", comentou RA, numa recente conversa com o Correio da Manhã. "O cinema é a minha vida. Quando falo em cinema, o meu coração palpita".

Longa vida a Renato Aragão!