Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Garimpando filmes pelo digital

Jurado nº 2 | Foto: Divulgação

À espera do Oscar, tem uma penca de filme bom estreando em circuito, mas tem uma leva de clássicos, de cult e até de inéditos em salas que se depositaram nas plataformas de streaming da virada de 2024 para cá. Tem coisa que estreou nas redes já faz um tempinho, mas só foi bombar entre o Natal e o Réveillon, em meio à publicação listas de Melhores do Ano e balaços. Já, já, a Max (ex-HBO) vai lançar "A Cozinha" ("La Cocina"), de Alonzo Ruizpalacios, que foi uma das sensações da Berlinale, em sua grade. Deve estrear no fim do mês. O Correio da Manhã traz aqui uma lista de joias a serem vistas, revistas, descobertas ou reencontradas num giro pela streaminguesfera.

MINHA IRMÃ E EU (2023), de Suzana Garcia: Maior sucesso de bilheteria da Retomada até "Ainda Estou Aqui", esta comédia de risos imparáveis vendeu cerca de 2,2 milhões de ingressos. A química entre Tatá Werneck e Ingrid Guimarães é perfeita. Na trama, duas maninhas de índoles distintas são obrigadas a unir forças para encontrar a mãe, que desapareceu sem deixar rastro. Plataforma: Globoplay

BATALHÃO 6888 ("The Six Triple Eight", 2024), de Tyler Perry: Neste comovente épico do diretor e astro da franquia "Madea", acompanhamos a saga de 855 mulheres que se juntaram à guerra a fim de consertar o atraso de três anos de correspondência não entregue. Diante da discriminação, num país devastado, elas conseguiram separar 17 milhões de correspondências com antecedência. Kerry Washington é o destaque do elenco. Plataforma: Netflix

JURADO N.2 ("Juror #2", 2024), de Clint Eastwood (EUA): Este thriller jurídico pode ser o derradeiro trabalho de direção do realizador, hoje com 93 anos. Sua habitual angústia acerca de responsabilidade e consciência pesada repousa aqui numa corte na qual um jornalista (Nicholas Hoult) precisa analisar um caso de feminicídio. O dilema: bêbado, ele pode atropelado a vítima, não o atual réu. Toni Collette esbanja talento no papel da promotora por trás do julgamento. Plataforma: Max

30 NOITES COM A MINHA EX ("30 Noches Con Mi Ex", 2022), de Adrián Suar: Dirigido por um dos comediantes de maior prestígio na Argentina, essa comédia romântica foi fenômeno popular, apoiada no carisma de Pilar Gamboa. Ela e Suar vivem um casal separado há três anos, com uma filha adulta. Ele, Turbo, é um investidor de sucesso na bolsa de valores. Ela, Loba, é cantora. Mas sua vida foi pro beleléu depois que ela passou por surtos dos quais não se recuperou e sua psiquiatra recomenda que Loba passe um mês morando com Turbo. Plataforma: Disney

PEQUENA MAMÃE ("Petit Maman", 2021), de Céline Sciamma: Indicado ao Urso de Ouro numa Berlinale realizada online, sob o efeito da pandemia, este drama da realizadora de "Retrato de Uma Jovem em Chamas" (2019) concorreu a 38 prêmios e ganhou o troféu Cidade de Donostia no Festival de San Sebastián. Na trama, Joséphine Sanz vive Nelly, uma menina que perde a avó e está ajudando seus pais a limpar a casa de infância de sua mãe. Ela explora o local e conhece uma garota de sua idade construindo uma casa na árvore, mas há um mistério dessa aparição. Plataforma: MAX

CORIOLANO ("Coriolanus", 2011), de Ralph Fiennes: Cotado para o Oscar por seu desempenho no thriller "Conclave", o eterno Lorde Valdemort da saga "Harry Potter" estreou como cineasta transformando um texto de Shakespeare numa alegoria sobre a militarização do Ocidente. Na trama, um líder guerreiro de Roma (Fiennes) é traído por seus pares e se une a seu inimigo (Gerard Butler) atrás de vingança. A produção disputou o Urso de Ouro da Berlinale. Plataforma: Adrenalina Pura

NÃO ESPERE MUITO DO FIM DO MUNDO ("Nu Astepta Prea Mult De La Sfârsitul Lumii", 2023), de Radu Jude (Romênia): O novo longa do diretor de "Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental" (Urso de Ouro de 2021) ganhou o Prêmio do Júri em Locarno e entrou no Top 10 da Cahiers du Cinéma. Sua atriz, Ilinca Manolache, está em estado de graça. Apesar disso tudo, esta joia não teve lugar em circuito, estreando diretamente no www.mubi.com. Jude estuda o sucateamento das relações laborais, centrada no empenho de uma produtora em filmar pessoas que sofreram acidentes de trabalho. Sua abordagem debochada é hilária. Plataforma: MUBI

ROTHKO - UM MESTRE AMERICANO ("Rothko: Pictures Must Be Miraculous", 2019), de Eric Slade: Um delicado biopic do pintor Mark Rothko (1903-1970), considerado uma das figuras mais renomadas do movimento Expressionista Abstrato. Ele transformou o mundo da arte a partir da década de 1940. Durante décadas, Rothko lutou para encontrar sua voz única, desprezado por galerias e museus, sobrevivendo com vendas ocasionais e um trabalho como professor de arte. Em 1948, Rothko descobriu o estilo que o tornaria um artista aclamado para além dos EUA. Plataforma: Curta!On

TEMPORADA DE CAÇA ("Affliction", 1997), de Paul Schrader: O mítico roteirista de "Taxi Driver" (1976) renovou seu prestígio como realizador apoiado em um elenco em estado de graça, coroado por um Oscar de Melhor Coadjuvante dado a uma lenda do cinema moderno, James Coburn (1928-2002). Na trama um professor (Willem Dafoe) narra os estranhos acontecimentos em torno de seu irmão, Wade (Nick Nolte, brutal em cena), que perde a lucidez em meio à investigação de um assassinato, assombrado pelo legado machista e violento de seu pai (Coburn). Plataforma: Amazon Prime

DAHOMEY (2024), de Mati Diop (Senegal): Laureada em 2019 com o Grande Prêmio do Júri de Cannes de 2019 por "Atlantique" (hoje na Netflix), a atriz e diretora franco-senegalesa ganhou o Urso de Ouro da Berlinale com esta aula de geopolítica. Seu roteiro é estruturado como a cartografia do tráfego de uma série de relíquias beninenses, surrupiadas por colonizadores europeus, de volta ao lar. Uma dessas peças, a estátua chamada de Número 26, é quem narra a rapinagem histórica sofrida por populações da África, como se fosse uma entidade. Plataforma: MUBI

O FIO INVISÍVEL ("Distancia de Rescate", 2021), de Claudia Llosa: Eis um "Carrie, a Estranha" à moda hispânica, calcado na literatura da argentina Samanta Schweblin (autora do brilhante "Kentukis"), a partir do romance "Distância de Resgate", lançado aqui pela editora Record. Seu clima tenso, aplicado a uma reflexão sobre as opressões femininas, cria ponte com o longa anterior da cineasta "A Teta Assustada", que conquistou o Urso de Ouro na Berlinale de 2009. ala da relação que se estabelece entre Amanda (María Valverde) e Carola (Dolores Fonzi, em sublime atuação). As suas são mães, têm relações com homens de rala presença e se embrenham numa região rural em que o uso de pesticidas envenena alimentos do dia a dia. Sem muita explicação, intui-se que um agrotóxico condenou o filho de Carola à morte, mas este acabou salvo em um ritual pagão. Plataforma: Netflix

QUERIDO PAPAI NOEL ("Dear Santa", 2024), de Peter Farrelly: Taí o filme de Natal mais doidão (e mais criativo) da indústria pop em anos, desde "Bad Santa" (2003). Fazia tempo que Jack Black não atuava de forma tão hilária. Ele vive um diabo trapalhão. Quando um menino envia sua lista de desejos natalinos ao Bom Velhinho com um erro de ortografia crucial, o tal demônio chega à Terra para causar estragos nas festas de fim de ano. Plataforma: Paramount

PEPE (2024), de Nelson Carlo De Los Santos Aria: Indicada ao Urso de Ouro esta produção da República Dominicana junta documentário e ficção, num espírito anticolonial nas raias do fantástico. Seu enredo é inspirado na figura de um hipopótamo adotado por Pablo Escobar, Pepe, que foi trazido da África para a Colômbia e, mais tarde, tornou-se um símbolo de desrespeito ecológico devido à controvérsia em torno de sua morte. Seu realizador ganhou o prêmio de Melhor Direção na Berlinale. Plataforma: MUBI