Depois de 21 semanas em exibição, o filme "Ainda Estou Aqui", melhor filme internacional no Oscar 2025, encerrou seu percurso nas salas de cinema do Brasil com um desempenho notável. Ao longo desse período, a produção atraiu 5,834 milhões de espectadores, consolidando-se como um dos maiores fenômenos recentes do cinema nacional. O longa de Walter Salles conquistou o público, estabeleceu marcos inéditos para o audiovisual brasileiro em premiações internacionais e agora faz sua estreia no streaming ao chegar na grade da plataforma Globoplay.
Inspirado na vida da advogada e ativista Eunice Paiva, o filme parte de uma experiência profundamente pessoal para iluminar uma das fases mais sombrias da história recente do Brasil. Eunice, viúva do ex-deputado federal Rubens Paiva, morto nos porões da ditadura militar em 1971, transformou sua dor em luta. Mãe de cinco filhos e sem qualquer experiência anterior na política ou no ativismo, ela assumiu o papel de voz pública em defesa dos direitos humanos em um país silenciado pela repressão. "Ainda Estou Aqui" acompanha sua trajetória de coragem, dignidade e reinvenção, abordando com sensibilidade temas como violência de Estado, maternidade, memória e resistência.
Nascida em 1929, em São Paulo, Eunice Paiva formou-se em Direito após o desaparecimento do marido e dedicou-se ao trabalho junto a comunidades carentes, especialmente no campo da regularização fundiária. Atuou como advogada popular em favelas da Zona Sul paulistana, tornando-se referência na defesa dos direitos civis e sociais. Sua postura discreta, mas firme, transformou-a em símbolo de resiliência e comprometimento ético em tempos de ruptura democrática. Faleceu em 2015, aos 86 anos.
A recepção calorosa dos espectadores foi acompanhada por uma trajetória impressionante nos festivais e nas cerimônias de premiação. "Ainda Estou Aqui" tornou-se o primeiro filme brasileiro a conquistar o Oscar de Melhor Filme Internacional, uma vitória histórica que reforça a força criativa do cinema produzido no país. Na mesma temporada, recebeu o Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano, além do Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Drama para Fernanda Torres. A atriz, que protagoniza o longa com intensidade e sutileza, foi amplamente celebrada pela crítica especializada. A produção também foi reconhecida pelo Festival de Veneza, onde venceu na categoria de Melhor Roteiro. Ao todo, já são sete prêmios de Melhor Filme atribuídos pelo júri popular em festivais de renome.
Com uma carreira internacional igualmente sólida, o filme já foi exibido em 42 países. A distribuição abrange um amplo espectro geográfico, incluindo mercados tradicionais como França, Espanha, Itália, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos e Canadá, e também países da América Latina, como Argentina, Chile, Colômbia, México, Uruguai, Paraguai, Peru e Venezuela. Além disso, chegou a regiões menos habituadas à presença do cinema brasileiro, como Taiwan, Romênia, Eslováquia e Turquia. As próximas estreias já estão confirmadas: China (17/5), Japão (agosto), Suécia (setembro), Dinamarca (2/10) e Noruega (3/10).
Nos Estados Unidos, onde estreou em 17 de janeiro, o filme segue em cartaz e já arrecadou mais de US$ 6,2 milhões, o que o coloca como o terceiro filme internacional mais assistido no país desde o início da pandemia. Em escala global, a bilheteria superou a marca de US$ 35,5 milhões, segundo dados do site Box Office Mojo. Os números expressivos reforçam o interesse internacional por obras autorais com identidade cultural forte e narrativa universal.
A caminhada de "Ainda Estou Aqui" nas premiações continua firme. No Prêmio Platino, uma das mais prestigiadas honrarias do cinema ibero-americano, o longa concorre nas principais categorias: Melhor Filme Ibero-Americano, Melhor Direção para Walter Salles e Melhor Atriz para Fernanda Torres. Também disputa o Prêmio do Público nas categorias de Melhor Filme de Ficção e Melhor Atriz. A cerimônia será realizada em 27 de abril, no Palácio Municipal Ifema Madrid, com transmissão ao vivo pela plataforma SmartPlatino TV.
Desde sua estreia, o filme tem sido destaque em mais de 50 festivais ao redor do mundo, acumulando até agora 27 prêmios nacionais e internacionais. Dentre os mais relevantes, sete foram atribuídos ao longa como Melhor Filme pelo júri popular: no Festival Internacional de Cinema de Roterdã, na 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no Festival de Vancouver (Canadá), no Festival de Cinema de Mill Valley (Estados Unidos), no Festival de Pessac (França) — onde também recebeu o Prêmio Danielle Le Roy, concedido pelo júri jovem — e no Festival Internacional de Cinema de Miami.
A força de "Ainda Estou Aqui" reside não apenas em seus reconhecimentos formais, mas na forma como dialoga com o público. A sensibilidade do roteiro, a direção segura de Salles e a entrega dos atores em cena resultam em uma obra que reverbera muito além das salas de exibição, encontrando eco nas discussões sobre a fefesa dos valores democráticos.