Por: Cláudia Chaves (Especial para o Correio da Manhã)

O legado da diferença de classes

O espetáculo começa com 10 homens gays numa sala de criação. Querem escrever uma peça, mas não sabem por onde começar | Foto: Hudson Rennan/Divulgação

"A Herança", de Matthew Lopez, é inspirada no romance "Howards End", escrito em 1910 por Edward Morgan Forser. A adaptação teatral da obra estreou em Londres, em março de 2018, antes de ser transferida para a Broadway em novembro de 2019.

A obra original conta a história da luta de classes na Inglaterra, no começo do século XX. Os principais temas do livro, adaptado ao cinema em 1992, são as dificuldades e também os benefícios das relações entre membros de classes sociais diferentes. Esses conflitos que Lopez transfere para a cena homossexual na segunda década do nosso século.

Em Londres, Stephen Daldry é o diretor talentoso de cinema e teatro, vencedor de três Tonys, um Olivier Award (o Tony ingles) e três indicações ao Oscar. E a cereja do bolo: Daldry foi o produtor e diretor da série "The Crown" (Netflix). Entre as peças desse diretor, assistimos ao musical "Billy Elliot"; "The Audience", com Helen Mirren em desempenho memorável como Elizabeth II.

Stephen Daldry dirige um elenco estelar, incluindo Vanessa Redgrave, nesse épico de montanha-russa sobre gays em Nova York. A crítica do The Guardian, o mais importante diário britânico, pontua que "Na produção de Daldry, encenada em um cenário de Bob Crowley que parece uma mesa japonesa despojada, a ênfase principal está na clareza narrativa. As atuações, de um elenco misto americano-britânico, também são exemplares."

A montagem da Broadway mantém o mesmo diretor de Londres, parte do elenco para compor o que o New York Times definiu como "Esse esforço para evocar uma era de pesadelo que corre o risco de ser esquecida por muitos jovens de hoje captura o que há de melhor em 'A Herança'".

O espetáculo chega ao Rio, depois de temporada de sucesso em São Paulo, com indicações aos prêmios APCA 2023 nas categorias Melhor Peça e Melhor Ator (Marco Antônio Pâmio). Confronta gerações desde os anos 1980, durante a explosão do HIV, até os dias de hoje, colocando em pauta, com humor e agilidade, uma discussão geracional sobre pertencimento, amadurecimento e amor no universo LGBTQIAPN , com 12 atores que se revezam na interpretação de 25 personagens, além da presença de Miriam Mehler, no mesmo papel de Vanessa Redgrave.

"A Herança" foi idealizada por Bruno Fagundes. "Fiquei obcecado pela peça e lutei para que os brasileiros conhecessem esta história", conta o ator, que juntou-se a Zé Henrique de Paula, diretor e tradutor, para manter o formato diferenciado da peça, com seis horas de duração, apresentada em dois dias diferentes, com duas partes com três horas de duração.

Zé Henrique de Paula esteve à frente de peças e adaptações de grande sucesso nos últimos anos, como "Dogville", "Chaves, O Musical" e "Sweeney Todd". Os figurinos são de Fábio Namatame.

"É muito gratificante chegar a um final de temporada em São Paulo com tanto sucesso. Vimos o público aderir ao formato de dois dias diferentes e saírem transformados, e isso é algo que sempre busquei no meu trabalho de ator. A peça carrega consigo uma oportunidade de transformação que só a arte é capaz de fazer. Então, não vejo a hora de levar esse trabalho para o público carioca que é tão caloroso e atencioso. A última vez que estive no Rio com teatro foi há 10 anos. Muito feliz em poder dar esse passo como produtor/ator", destaca Bruno Fagundes.

A nova e bem sucedida alegoria de uma sociedade que não consegue dar conta de suas diferenças está no corpo e na voz de Bruno Fagundes, Reynaldo Gianecchini, Marco Antônio Pâmio, Rafael Primot, André Torquato, Felipe Hintze, Cleomácio Inácio, Davi Tápias, Haroldo Miklos, Rafael Americo, Wallace Mendes, Gabriel Lodi. A jornada desses personagens se inicia n desde os anos 1980, durante a explosão do HIV, até os dias de hoje, colocando em pauta, com humor e agilidade, uma discussão geracional sobre pertencimento, amadurecimento e amor no universo LGBTQIAPN .

"Fiquei apaixonado pelo texto logo na primeira leitura. Todas as cenas da peça são profundas, ou engraçadas, ou tragicômicas, ou extremamente emocionantes, mas tudo é interessante e potente", destaca Reynaldo Gianecchini, corroborando a opinião do crítico do New York Times, Ben Bratley, que é impossível não chorar ao final da primeira parte.

SERVIÇO

A HERANÇA

Teatro Clara Nunes (Rua Marquês de São Vicente, 52 - Loja 370)

Até 22/10

Parte 1: dias 14, 15, 16, 17, 21, 22, 23 e 24/9, de quinta a sábado (20h) e domingos (19h)

*A partir de 28/9, as duas partes serão exibidas intercaladamente

Ingressos entre R$ 50 (meia) e R$ 130

 

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