Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA / TEATRO / GUASU | O Brasil que o Brasil não conhece

'Guasu' narra drama de soldados na Retirada da Laguna | Foto: Ronald Cruz/Divulgação

 

No Brasil, o futuro é duvidoso e o passado é incerto. Além disso, fatos importantes para a formação de nosso caráter como nação, são iguais ao caviar da música: nunca vi, nem com. E mais grave que nem se ouve falar.

A guerra do Paraguai,ocorrida entre 1864e 1870, é um exemplo disso. Só se falam das vitorias, dos militares heroicos que dão o nome a vias públicas em todos o país. O espetáculo musical "Guasu" chega a ser audacioso, ao contar um de seus episódio mais dramáticos: a Retirada de Laguna (1868).

Idealizada, escrita e com letras das músicas de Bruce de Araújo, a montagem inédita dirigida por Vilma Melo conta a história de cinco soldados que, depois da derrota, tentam voltar ao Brasil. Tudo é um acerto. O chão é coberto por pétalas de rosa, que simulam o sangue. Os figurinos de Fernanda Garcia e Priscila Pires não apresentam, necessariamente uma mimética exatidão histórica. Mas contam o que são esses homens em total estado de molambos, com os escravizados descalços, machucados física e emocionalmente o que dá a perfeita moldura para o que quer dizer.

O texto de Bruce é capaz de misturar quem são esses homens, no que se tornaram e a que pretendem voltar. Possuem paixões, famílias, amores e se tornam exemplos de crueldade na luta pela manutenção física.

Lá estão as questões de exploração, da homossexualidade, as diferenças sociais, a xenofobia que são cantadas ao mesmo tempo em que as situações se apresentam.

As músicas de Muato e Fred Demarca são a expressão de todos os nossos ritmos e a movimentação e coreografia de Rodrigo Nunes se expressam em um trabalho bem conduzido por Vilma Mello em um raro conjunto de equilíbrio no qual cada ator é capaz ter sua individualidade mas que integra um conjunto de força de atuação.

Em tupi-gurani, "Guasu" quer dizer grande e vemos em um grupo jovem - Fred Demarca, Higor Campagnaro, Lucas Sampaio, Luísa Vianna, Matheus Dias, Tom Karabachian e Yumo Apurinã a coragem de fazer teatro dos grandes.

SERVIÇO

GUASU

Sesc Copacabana (Rua Domingos Ferreira, 160)

Até 5/11, de sexta a domingo (20h30)

Ingressos: R$ 30, R$ 15 (meia) e R$ 7,50 (associado do Sesc)

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.