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O encontro do Cavaleiro da Triste Figura com a brasilidade

Maksin Oliceira: 'Sempre queremos que uma peça de teatro tenha êxito, reconhecimento e longevidade, mas o teatro – essa entidade imponderável – é tinhoso... por isso temos muito respeito e honra por seguirmos quixoteando por uma década' | Foto: João Julio Mello/Divulgação

Escrito e encenado por Maksin Oliveira e dirigido por Reinaldo Dutra, o monólogo "O Incansável Dom Quixote" completa dez anos de estrada e encerra curta temporada neste fim de semana no palco da Sala Eletroacústica, na Cidade das Artes.

O solo narra a história de Dom Quixote, o mais famoso cavaleiro errante que saiu de casa com o desenfreado desejo de transformar o mundo em um lugar melhor. Ao lado de seu fiel escudeiro, Sancho Pança, ele passa por muitas desventuras que testam sua resistência e coragem: perde batalhas, é alvo de chacotas e tem sua saúde mental questionada, mas nada disso é páreo para a mente inquieta e o coração incomensurável do "Cavaleiro da Triste Figura".

A partir das estapafúrdias aventuras em que o intrépido cavaleiro se coloca, o humor é o recurso utilizado em cena para abordar reflexões sobre existencialismo, amor e utopia, numa peça que propõe alternar momentos de ironia e lirismo.

Em um cenário minimalista, composto por uma corda, uma mala, objetos sonoros e um velho livro, a montagem oferece uma visão inovadora do clássico de Miguel de Cervantes. A dramaturgia de Maksin transcende os rótulos convencionais de herói ou anti-herói, revelando as raízes nordestinas de Sancho e apresentando-o como a força motriz que guia Quixote em suas visões.

À sombra dessas figuras, uma série de personagens, impregnados de uma brasilidade crítica e provocativa, emerge do universo cervantino, estabelecendo uma conexão irônica e sarcástica entre o Brasil contemporâneo e a Espanha de quatro séculos atrás.

"A investigação acerca da gestualidade e dos recursos narrativos, a atualização de um texto e de personagens tão conhecidos mundialmente e, perpassando tudo isso, uma comicidade que oscila entre o riso sardônico e a gargalhada escrachada, são pilares sobre os quais o trabalho foi se erguendo e nos mostrando caminhos para nossa pesquisa ao longo desses anos", avalia Reinaldo.

Desde a sua criação, a peça buscou enriquecer o narrador contemporâneo com arquétipos como o louco, a criança, o velho, a prostituta, o palhaço, o camponês, e até mesmo um jumento e um cavalo magricela, todos confrontando a opressão das instituições conservadoras.

"São dez anos de aprendizados, amadurecimento, alegrias, dúvidas e descobertas que a fábula da dupla Quixote e Sancho segue trazendo toda vez que a revisitamos. Estreamos num palco acanhado para um público de EJA no município de Queimados e, lentamente, fomos de uma ponta a outra do país, conquistamos prêmios, cruzamos fronteiras internacionais, falamos outro idioma, trabalhamos como operários da arte ano após ano. Sempre queremos que uma peça de teatro tenha êxito, reconhecimento e longevidade, mas o teatro - essa entidade imponderável - é tinhoso... por isso temos muito respeito e honra por seguirmos quixoteando por uma década. É um privilégio, tenho consciência disso", diz Maksin, num balanço da trajetória do espetáculo.

"O Incansável Dom Quixote" conta com o patrocínio do Governo do Estado do Rio de Janeiro, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através do Edital Literatura Resiste.

SERVIÇO

O INCANSÁVEL DOM QUIXOTE

Cidade das Artes - Sala Eletroacústica (Av. das Américas, 5300 - Barra da Tijuca) | Até domingo, sexta* e sábado (20h) e domingo* (19h) | *nos dias 10 e 12 haverá sessões com Libras

Ingresso: R$ 30 e R$ 15 (meia)

 

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