Acorda-se cedo, liga-se a TV e duas coisas chamam a atenção: as mudanças climáticas e os inúmeros casos de agressão à mulher. De todos tipos: horror psicológico, ameaças, mau- tratos físicos, estupro. Um correr de horrores que a vontade é de cobrir o rosto com travesseira e pedir "Meteoro, me leve". Agora existe aquele silencioso, a troca por uma mulher mais nova, chupar a laranja e largar o bagaço.
Eurípides pega uma história que já era antiga mesmo quando a escreveu em 430 a.C. - um marido que abandona a esposa por uma mulher mais jovem - e examina os terríveis extremos a que uma mulher desprezada pode chegar por vingança, aquela que havia desistido de sua carreira promissora como princesa para se casar com ele.
"Era Medeia", que volta ao cartaz, sob supervisão de Cesar Augusto, o experiente e criativo diretor, com uma visão sempre contemporânea, texto e direção de Eduardo Hoffmann e argumento de Marina Monteiro, trata desse cela de prisão que é a vida de um casal em conflito. A peça se passa durante os ensaios de uma adaptação da tragédia "Medeia".
Eduardo (Pedro Lobo) contracena com Isabelle Nassar (Veronica Albuquerque), ex-marido e diretor que se impõe à Veronica. Pedro carrega a posição falocrática dupla: o "chefe", o que dirige, que conduz ocaminho e o marido (maritus), que é o masculino. Pedro vai além do abusivo, porque ao mesmo o que discute é a competência artística de cada um. Tal qual Jasão que desmerece a mulher, o diretor desmerece a atriz. E Veronica luta, se debate.
O claro escuro/sombrio da iluminação nos faz refletir que o título pode ter dupla significação: era (tempo) e ser no passado. Seja do jeito que for Veronica não se deixar abater, luta, se impõe. A vingança aqui está na morte que ela impõe ao diretor que quer exercer o poder a qualquer custo. Mesmo que seja a humilhação da mulher.
SERVIÇO
ERA MEDEIA
Centro Cultural Justiça Federal (Av. Rio Branco 241 - Cinelândia)
Até 29/11, terça e quarta (19h)
Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia)