Gabriel Garcia, um produtor coma cara e a coragem

'Essa adrenalina da gestação e realização do projeto vicia a gente. E cura também', diz

Por Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Gabriel Garcia pulou do palco para os bastidores do teatro

Gabriel Garcia é carioca, com uma trajetória de movimento que exprime o espírito da cidade. Resolveu ser ator, cursou a Casa de Artes de Laranjaeiras (CAL), resolveu ganhar repertório e se graduou em Teoria pela Uni-Rio. Chamado por uma professora, foi cuidar do acervo da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT) na Funarte. Aí, teve a primeira iluminação: todo ator importante se produzia.

Impressionou-se de forma particular com Maria Della Costa. Essa relação vai gerar um projeto, mas ainda sem spoiler. Levantou todos as críticas de Walter Pinto, o rei da Tiradentes. Mais uma vez o produtor.

Gabriel integra por anos o elenco de "Sonho de Uma Noite de Verão", montagem de Miriam Muniz. Mais uma virada de chave. Passou a fazer a divulgação, a cuidar da produção local pois tratava-se de um projeto itinerante.

Resolve fazer o curso de Renato Carrera e aí abre-se a porta com a produção da Mostra de Teatro Alemão. Hoje é o produtor do Grupo Amok e da Cia de Bruce Gomlewski.

Gabriel se autodefine como enxerido. É doce, simpático, presente e conduz sua carreira com a trajetória de quem sabe o que quer. Fala do teatro com paixão visceral. Faz parte da geração que entende que teatro é arte, mas é atividade econômica que tem que empregar, sustentar.

E afirma que desse sustento saem os novos projetos. "Eu quero ter meu espaço-sede para produzir oficinas e outros cursos diariamente. Além de servir como espaço de ensaio. Precisa se auto-produzir para ter alguns rentabilidade financeira. Só espetáculos não garantem o salário mensal dos artistas".

"Teatro é minha principal fonte de renda. Então, eu preciso produzir não apenas as peças de companhias, mas, também oficinas, como é o caso da Cia Teatro Esplendor. Desde 2021 realizo oficinas de capoeira, mímica corporal dramática, interpretação e training que são dados pelos atores e diretor da esplendor. Era um projeto antigo da companhia que essas oficinas sirvam como fonte de renda para os projetos e salário dos integrantes", preocupa-se.

Está fase de produção e captação para o projeto "Anjos Negros", uma dramaturgia teatral inédita, recém lançada em livro. O texto é de Adalberto Neto que se inspirou na história real da peça do Nelson Rodrigues, "Anjo Negro", cujo papel foi escrito para o ator Abdias Nascimento e foi levado à cena na época por um ator branco pintado de preto. Nesta versão três atores estão repartição pública debatendo que sociedade e artistas são esses que deixaram esse tipo de racismo acontecer.

Além de estar na produção para o novo espetáculo de Álamo Facó: "O Caminho de Volta" que estreia em março de 2024 - projeto contemplado pelo FOCA, edital da Prefeitura do Rio. E, para o segundo semestre do próximo ano deseja estar no palco como ator e produtor espetáculo de Plínio Marcos: "Balada de um palhaço".

"Teatro é o que me move. Falo com dezenas, quando estou em produção em cartaz ou em circulação, as vezes chego a falar com centenas de pessoas num único dia. Acordo com uns cinco grupos de whatsApp de cenário, figurino, de assessoria, e tudo é urgente para todos. Respondo dezenas de e-mails, para editora, marketing, os espaços culturais…vou pro ensaio em reunião no telefone e volto ainda fazendo checklist pro dia seguinte. Mas, não reclamo de jeito nenhum depois de tudo que passamos três anos atrás com a pandemia", comenta.

"Essa adrenalina da gestação e realização do projeto vicia a gente. É muito gratificante ver projetos tão bonitos realizados. Mas, vicia. E cura também. Me sinto curado todos os dias pelo poder do teatro", repete.