Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

ENTREVISTA / RODRIGO FRANÇA, DRAMATURGO E ESCRITOR | 'O teatro que já faço é o que pretende criar fissuras'

Rodrigo França | Foto: Divulgação

Protagonismo é poder. Esse é o lema de Rodrigo Ferreira França, o multiartista de todas as expressões. Ele é diretor e autor de "Angu", em cartaz até o próximo dia 17 no Futuros - Arte e Tecnologia, espetáculo que conta seis histórias paralelas vivenciadas por pessoas negras gays, buscando subverter o olhar social fetichista que as objetifica, criminaliza e hiperssexualiza.

Rodrigo é carioca, filho de funcionária pública federal e policial militar. A relação com a arte veio da infância, pois foi matriculado pelo pai Oficina de Artes Maria Teresa Vieira. Lá estudou mosaico, pintura impressionista e cerâmica. Ainda menino, apontou para o que seria seu futuro, participando de exposições coletivas com os maiores artistas-plásticos da época. Aos 14 anos descobriu o teatro.

Premiado em categorias de teatro, literatura, artes, Rodrigo consegue reunir as múltiplas funções de arte. Diretor de cinema e teatro, ator, dramaturgo, filósofo, professor, articulador cultural, produtor, escritor, artista plástico e empresário brasileiro, usa seu trabalho para exercer o ativismo pelos direitos civis, sociais e políticos da população negra no Brasil.

Único preto nas escolas particulares em que estudou, é formado em Filosofia e Educação, com mestrado na Universidade de Wisconsin. É sempre um prazer encontrá-lo nos teatros, bares e restaurantes dos subúrbios, com as roupas coloridas e o riso que enche o ambiente de tão generoso. O Brasil é rico em arte porque temos artistas como Rodrigo.

O que é teatro para você?

Rodrigo França - É o lugar onde me alimento e retroalimento para seguir, a fim que a minha inquietude se manifeste e eu, artisticamente, grite tudo aquilo que está socialmente errado. Onde eu faço poesia da vida dura.

O teatro é uma atividade econômica? Quais as formas de se viabilizar?

Para alguns uma forma para sobreviver economicamente. Principalmente quando se pensa fugindo do eixo Centro-Zona Sul do Rio. Ainda tenho esperança de que como categoria possamos pensar de forma justa, onde todos tenham acesso aos equipamentos culturais, verbas, acessos a leis de incentivo e divulgação dos seus trabalhos. Um só espetáculo emprega diretamente uma dezena de profissionais. Imagina indiretamente. Agora é preciso que estejamos atentos a estas questões e que o poder público no respeite como economia criativa.

Que teatro você quer fazer?

O teatro que já faço é que pretende criar fissuras. Não saberia não ter o compromisso de provocar reflexões.

São 31 anos de carreira, do que viveu o que mais incomodou e o que mais agradou?

Vi muita injustiça. Gente talentosa ficar pelo caminho, projetos insatisfatórios sendo aclamados. Mas sigo acreditando na arte.

 

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