Escrita e encenada pela primeira vez há mais de 20 anos, "Atlântida - O Reino da Chanchada", de Ana Velloso e Vera Novello, ganha montagem inédita e um novo título. As autoras fizeram ajustes no texto que fez sucesso em 2000 e acreditam que "Atlântida - Uma Comédia Musical" está mais condizente com a proposta da nova montagem, que tem direção de Ana Velloso e Édio Nunes (que também assina a coreografia).
O espetáculo traz no elenco os atores Ana Velloso, Cassia Sanches, Daniel Carneiro, Édio Nunes, Fábio D'Lelis, Hugo Kerth, Lu Vieira, Milton Filho, Patrícia Costa e Vera Novello, além dos músicos Ricardo Rente, Vitor Barreto e Fábio D'Lelis.
"A paixão pelo gênero musical, a essência do texto que criamos a partir de uma pesquisa cuidadosa e o desejo de homenagear os artistas da Atlântida continuam os mesmos", afirmam as autoras.
Preferência nacional
A Atlântida Cinematográfica tem importância enorme para o cinema e a cultura brasileira. Suas chanchadas - apelido dado ao gênero - atraíam multidões às salas de cinema de todo o país que iam prestigiar produções nacionais num momento em que a indústria cinematográfica brasileira apenas engatinhava disputando o seu incipiente mercado com filmes norte-americanos e europeus que conquistavam o mundo. A Atlântida realizou a façanha de produzir 62 filmes entre os anos 40 e 60 - chanchadas, em maior número, mas também dramas e documentários.
"Nunca quisemos falar didaticamente sobre a Atlântida. Queremos que o público vá ao teatro e capte o espírito das chanchadas, entenda o ambiente em que os filmes eram produzidos, as pessoas que estavam por trás delas. Eram artistas e técnicos de grande valor, que faziam filmes em que o povo se reconhecia", destaca Ana Velloso.
A peça segue a estrutura dos filmes da Atlântida, com seus personagens-tipo que se envolviam em histórias românticas cheias de quiproquós e reviravoltas, antes de chegarem ao final feliz. A trama tem como cenário o próprio estúdio da Atlântida e seus personagens são atores, produtores, roteiristas, diretores, coristas, técnicos, assistentes, numa alusão a todos os que fizeram da Atlântida um verdadeiro pólo da sétima arte no Brasil, num esforço pioneiro.
"O roteiro nos leva a imaginar que a Atlântida ainda não acabou e que está produzindo mais um filme de ficção - uma chanchada com todos os seus ingredientes fundamentais, numa espécie de grande remake de sua ficção ingênua, com traços de época, que fala de um Brasil mais bem- humorado e inocente", afirma Ana.
Caldeirão rítmico
O espetáculo traz momentos antológicos dos filmes da Atlântida, ao revisitar seus mais icônicos números musicais. Destaca ainda a grandeza e variedade das trilhas dos filmes da Atlântida.
O samba e a marcha - que, ao contrário do que se pensa, não predominavam nos filmes da Atlântida - brilham ao lado de sambas-canções, xotes, boleros, rumbas, serestas... um caldeirão musical da melhor qualidade.
E além de relembrar as inesquecíveis canções que foram sucessos na época como "Marcha do Gago" (Clécios Caldas e Armando Cavalcanti), "No Tabuleiro da Baiana" (Ari Barroso), "Alguém Como Tu" (José Maria de Abreu e Jair Amorim), "Beijinho Doce" (Nhô Pai) e "Vai com Jeito" (João de Barro), o público poderá rever trechos de filmes e ver imagens inéditas dos artistas e bastidores desta importante fase do cinema nacional.
Fundada em 1941, a Atlântida Cinematográfica formava com a Rádio Nacional e os Teatros de Revista da Praça Tiradentes, um tripé cultural sem paralelos. O teatro, e depois os filmes, lançavam sucessos que tocavam na rádio e atravessavam o país de norte a sul.
Nos elencos das chanchadas da Atlântida, Cyll Farney, John Herbert e Anselmo Duarte eram os mocinhos; Eliana a mocinha de nove entre dez chanchadas nacionais; os comediantes Oscarito, Grande Otelo e Colé os malandros viradores, José Lewgoy e Renato Restier os vilões. Sonia Mamed, Renata Fronzi, Berta Loran, Emilinha Borba, Adelaide Chiozzo e Francisco Carlos também participaram de muitos filmes, criando personagens (tipos) memoráveis.
Improvisos
Esbanjando improviso e com gestual fortemente influenciado pelo circo e pelo Teatro de Revista, estes atores traziam para a tela a ideia de um homem brasileiro simples, virador e malandro, onde o cômico e o jocoso imperavam. Antes mesmo do Modernismo proclamar a importância de assumirmos o jeito de falar brasileiro, a Atlântida ao lado de outras manifestações artísticas populares já havia assumido, com muito humor, a "língua brasileira", deixando fora de cena o rigor no uso da língua portuguesa.
"Visitamos o passado, com muita admiração e orgulho destes artistas brasileiros. A Atlântida Cinematográfica é uma referência muito forte para o cinema nacional. E precisa continuar viva na memória do público. Eles faziam filmes com poucos recursos, se comparados às produções hollywoodianas da época, mas não faltava talento e criatividade àqueles artistas que continuam inspirando quem faz humor, hoje, no teatro, no cinema, na TV e até na internet", afirma Vera Novello.
SERVIÇO
ATLÂNTIDA - UMA COMÉDIA MUSICAL
Teatro Dulcina (Rua Alcindo Guanabara, 17 - Cinelândia)
Até 16/12, sexta e sábado (19h) e domingo (18h), com matinê no dia 16 (16h30) e sessão com tradução em Libras e audiodescrição no dia 16/12 (19h)
Ingressos: R$ 50 e R$ 25 (meia)