Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA / TEATRO / A PEDRA ESCURA | Só há vitória na poesia

Lucas Popeta e Vino Fragoso em 'A Pedra Escura' | Foto: Robert Schwenck/Divulgação

Alberto Conejero, o autor de "A Pedra Escura", define sua profissão de forma categórica: "Ser dramaturgo é um trabalho de grande exposição e invisibilidade". É um dos autores mais reconhecidos daquilo que ele próprio define como "uma espécie de nova era de ouro da dramaturgia em Espanha". No entanto, não está claro para ele se poderá ganhar a vida com teatro. Fora dessa área, as suas opiniões são contundentes: abomina o nacionalismo e afirma que os territórios não têm direitos; os seres humanos, sim.

Há na dramaturgia e nas conversas com Alberto Conejero uma certa ênfase poética. Não é à toa que é um dos autores mais reconhecidos do chamado teatro poético espanhol desde a estreia, em 2015, de "A Pedra Escura", obra que resgata a figura de Rafael Rodríguez Rapún, grande amor de Federico García Lorca. Foi galardoado com cinco prémios Max, um deles para o seu autor, que também obteve aplausos gerais da crítica e do público. Sua premiada peça ganha montagem inédita no Brasil.

Um texto cuja tessitura trama diálogos que nos levam a surpresas, que se parte de uma possibilidade de Síndrome de Estocolmo que, no caso inverte-se. É o carcereiro que se torna detentor do afeto pelo prisioneiro. Com direção de João Fonseca, a peça se passa no quarto de um hospital militar, durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), dividido entre o prisioneiro Rafael Rapún (Vino Fragoso) e o guarda Sebastian (Lucas Popeta). Um revolucionário e um garoto.

Ouve-se o barulho de mar, as conversas sobre a religião, sobre amor, família e os envolvimentos contrários na Guerra Civil, são apoiados pelo trabalho de direção cuja movimentação dos atores permite que a aproximação entre os dois personagens vá em um crescendo de acolhimento solidário. Sebastian fala das proibições do rígido código militar. Rafael fala da arte, do teatro, do amor com o poeta, das cartas entres os dois como total libertação e alegria.

O figurino de Nello Marrese e a cenografia de Vino Fragoso, também autor do projeto, se misturam à projeção de imagens que nos traz a realidade do mundo que rola, tão cruel quanto a prisão. Vino se permite um Rafael que sai do encolhimento, da dor das perdas, para um homem grandioso que entende que o amor e a arte pura salvam. A plateia sai com a certeza que foi uma noite de ganho. (C. C.)

SERVIÇO

A PEDRA ESCURA

Teatro Poeirinha (Rua São João Batista, 104, Botafogo)

Até 17/12, de quinta a sábado (20h) e domingo (19h)

Ingressos: R$ 80 e R$ 40 (meia)

 

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