Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA / TEATRO / ANGU | Um angu sem caroço

A realidade das bixas pretas é o foco de 'Angu' | Foto: Divulgação

Sujeira, meleca, grude, mal feito que deu errado, comida ruim, desanimado, desmotivado. Bixa, veado, boiola, invertido, uranista, pederasta, entendido, sodomita, maricas, afeminado, baitola, fresco, mariquinha. Carvão, tiziu, macaco, tição, asfalto, urubu, escurinho... Como fazer dessas palavras ofensivas e seus significados de diminuição, humilhação, um texto que conduz um espetáculo certeiro, positivo, reflexivo e importante?

Escrito e dirigido por Rodrigo França, com Alexandre Paz e Orlando Caldeira, "Angu" constrói um inteligente e emocionante libelo que coloca no centro a seguinte questão: o que é o universo de uma bixa preta? O sofrimento, a vergonha, os maus tratos que estão no dia-a-dia, ao nosso lado, em nossos trabalhos, amigos e família, como são sentidos e vistos por quem é vítima. A construção dramatúrgica cria as vozes ao contar seis histórias e revelam ao espectador uma visão de 360 graus. Uma joia.

As atuações de Alexandre e Orlando dão uma dimensão alargada às questões que o texto e a direção de Rodrigo apontam. Há paródias, dramas, troca de papéis sociais, inversões que os dois atores levantam e cortam com categoria de medalhistas olímpicos do vôlei. Não há lamentos, nem vitimização. Há fatos, há poesia que se apoiam nas imagens projetadas.

As figuras homenageadas estão longe de cumprir qualquer tipo de estereótipo, seja aquele do imaginário que todo homem negro e heterossexual é viril, seja aquele do homossexual "mulherzinha". Lá estão as histórias e as imagens de Madame Satã; Gilberto França; o bailarino Reinaldo Pepe; Rolando Faria e Luiz Antonio (Queer Les Etoiles) e Jorge Laffond. Assim, "Angu" é uma peça com todos os melhores elementos do teatro: dramaturgia, direção, expressão, atores que se complementam nos depoimentos pessoais, de uma beleza ímpar, de Alexandre e Orlando.

SERVIÇO

ANGU

Futuros - Arte e Tecnologia (Rua Dois de Dezembro, 63 - Flamengo)

Até 17/12, de sexta a domingo (20h) | Ingressos: R$ 60 e R$ 30 (meia)

 

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