Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Rir é o melhor remédio

'Atlântida - Uma Comédia Musical' tem nova montagem em momento que a comédia perde espaço na TV aberta | Foto: Cláudia Ribeiro/Divulgação

Atlântida, a um ouvido mais desavisado, pode parecer o nome do reino mítico, a lendária ilha mencionada por Platão. Há 20 anos, quando escrita e encenada pela primeira vez "Atlântida - O Reino da Chanchada", de Ana Velloso e Vera Novello, trouxe à luz uma das mais importantes produtoras brasileiras, seja pela criação de plateia, seja pela criação de um gênero, a chanchada, caracterizado pelo humor, pelos números musicais e pelos quiproquós.

A atual versão, "Atlântida - Uma Comédia Musical", está mais condizente com a proposta da nova montagem, que tem direção de Ana Velloso e Édio Nunes (que também assina a Coreografia). E em um momento no qual a comédia foi praticamente eliminada da TV aberta e do nosso cinema, a importância do riso e da comédia cresce ainda mais.

A peça retoma temas, figurinos, histórias, músicas e personagens que eram típicos de gêneros que foram arrasa-quarteirões durante décadas: o teatro de revista e o cinema nacional. o musical tem a capacidade de fazer o chamado junto e misturado com leveza e coerência pois o canto, a dança, as trapalhadas e o foco nos tipos emblemáticos da cidade, ancorados no riso são um acerto.

Sobre essa relação, do tudo junto e misturado, falam com exclusividade ao Correio da Manhã, os três criadores da peça: Édio Nunes, Ana Velloso e Vera Novello.

Édio Nunes é um bailarino extraordinário que se junta ao seu talento de criador, ator, diretor, coreográfo. "Estreei no 'Teatro Musical Brasileiro II' , em 1994, de Luiz Antônio Martinez Correa, e ali, retratando aquela pesquisa Revisto/Chanchadeira, tive o meu primeiro encontro com o gênero", recorda.

Para ele, é sempre uma grande responsabilidade, tentar trazer a atmosfera do que esses gigantes viveram, do improviso, do originalismo e da identidade artística. "É um misto de reverência, risco, aprendizado e de cumplicidade com os colegas. Sinto que ser engraçado, não é fazer graça, é confiar no texto e na situação que a cena propõe, a decisão final fica literalmente nas mãos do público", completa.

Ana Velloso nutre paixão pelo musical desde sempre. Atriz, produtora, diretora e autora de textos importantes por tratarem de locais e artistas emblemáticos, ela discorre sobre a chanchada. "Do ponto de vista histórico, a chanchada e o Teatro de Revista já estão misturados! Os dois gêneros estão amplamente conectados, sobretudo quando falamos dos números musicais, do tipo de humor ingênuo e popular. Realizar um espetáculo musical que resgata as Chanchadas da Atlântida, e fazer isso num formato bem revisteiro, é uma forma de celebrar nossa brasilidade, e o espírito irreverente do artista (e do povo) brasileiro, que sempre soube, como ninguém, falar das próprias dores com leveza e bom humor".

Vera Novello compõe a bem-sucedida parceria com Ana. Atriz premiada e corajosa produtora, ela lembra que muitos atores talentosíssimos transitaram pelo teatro de revista e pelos sets da Atlântida. "Tanto nas revistas quanto nas chanchadas a crítica à sociedade é feita com muito humor, irreverência e música. A ordem era parodiar, improvisar, se divertir. A vontade de fazer no Brasil o que se fazia lá fora - no teatro e no cinema - sempre resultou em obras que nunca alcançariam aquele ideal de perfeição", comenta. "Estes artistas vinham de classes populares e um público popular se sentia representado na cena ou na tela, por isso tanto sucesso. O que veio depois foi um movimento artístico que pretendia ser mais intelectualizado, que queria descobrir a cara do Brasil, que o teatro de revista as as chanchadas já conheciam tão bem. Durante um bom tempo houve preconceito contra estes artistas mais populares, mas felizmente hoje entendemos a importância do Teatro de Revista e das Chanchadas. Rir sempre foi a prova dos nove!", conclui.

SERVIÇO

ATLÂNTIDA - UMA COMÉDIA MUSICAL

Teatro Dulcina (Rua Alcindo Guanabara, 17 - Cinelândia)

Até 16/12, sexta e sábado (19h) e domingo (18h), com matinê no dia 16 (16h30) e sessão com tradução em Libras e audiodescrição no dia 16/12 (19h)

Ingressos: R$ 50 e R$ 25 (meia)

 

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