Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Um ano de talento e coragem dos artistas que derrubaram a quarta parede

Nave de Luz: O Menino é o pai do Homem | Foto: Divulgação

O ano de 2023 trouxe à tona uma discussão que se arrasta, mas que graças ao talento e coragem dos artistas, nos mostra um lado vencedor. Gesamtkunstwerk é a palavra. A conjugação de música, teatro, canto, dança, artes plásticas e, agora, as artes visuais em uma única apresentação, tudo junto e misturado, sempre preocuparam Richard Wagner, o compositor, que acreditava que, na antiga tragédia grega, esses elementos estavam unidos, mas, em algum momento, separaram-se.

O ano de 2023 provou que os grandes diretores - João Fonseca, Gustavo Gasparani, Cesar Augusto, Moacir Chaves, Guilherme Weber, Fernando Philbert, Victor Garcia Peralta, Rodrigo França, Gilberto Gawronski , Orlando Caldeira, Ione Medeiros, Duda Maia, Alfredo Del-Penho, Bruce Gomlevsky, Tadeu Aguiar - foram capazes de derrubar definitivamente a quarta parede. Teatro é performance em qualquer dos gêneros, monólogos, musicais, clássicos, que devem ir além das marcações tradicionais do espaço "limitado" do palco.

Duas peças apontam, com total qualidade técnica e artística, esse novo e velho teatro. "Julius Caesar - Vidas Paralelas" e "Nave de Luz: O Menino É Pai do Homem". Enquanto a primeira transformou o texto clássico em uma discussão sobre o fazer do teatro e a sua relação com o humano jogo de poder, com textos duplos, atuação impecável ao mudar de uma clave para a outra. E na segunda Moacir Chaves cria um espaço, também com projeções, microfones, uma guitarra que "simula" mais de uma dezena de cordas, digno de Bienal de Veneza.

Uma nova forma de encenar- que podemos chamar de teatro/reportagem/documentário-mostrou experiências muito interessantes como "Pelada - O Jogo da Gaymada", "Angu", "69 Cômodos". E os musicais? Ah! Os musicais, paixão das platéias, trouxeram biografias de artistas brasileiros que, na verdade, são concertos com uma tentativa de dramaturgia.

No entanto, a busca por uma brasilidade, em todos os sentidos, fez de "Beetlejuice", "Museu Nacional" e "Viva o Povo Brasileiro" três espetáculos de puro fascínio.

A dominação dos monólogos, muitíssimos aprovados pelos parquíssimos recursos das Leis de Incentivo - nos remetem aos tempos das vanguardas do século passado quando os artistas se derramavam nas dificuldades de suas próprias trajetórias em narrativas de fluxo de consciência. O baixo valor, que mal cobrem os primeiros e básicos custos, só permitem, praticamente, a experiência de um bloco do eu sozinho, com o artista acumulando atuação, direção e autoria.

Voltando a Wagner, teatro é todas as artes, é grupo, é troca. Sem uma direção, por exemplo que garanta um outro olhar, a situação impede a troca entre os iniciantes com profissionais experientes.

Ao mesmo tempo, há que se ressaltar a total mudança das políticas públicas na área de artes - com os editais de fomento direto, como a Lei Paulo Gustavo, o Pulsar do Sesc, Foca, as obras nos teatros e nas arenas da Secretaria Municipal de Cultura e a presença do coordenador do teatro Sesi, Alexandre Martins, como grande apoiador abrindo as pautas para os mais diversos tipos de espetáculo.

Podemos dizer que entre mortos e feridos, salvamo-nos todos com o fim da pandemia, com o papel das esferas públicos se reposicionando com apoio financeiro e com o enorme e imbatível talento de nossos artistas.

 

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